O Reino Unido parece estar a especializar-se em ziguezaguear no que diz respeito aos limites para as emissões de dióxido de carbono (CO2) dos carros novos. Há dois anos, com os Conservadores no Governo, os britânicos decidiram alinhar com a União Europeia (UE) e agendar a “morte” de todo o automóvel que consumisse gasolina ou gasóleo em 2035, mas os Trabalhistas, que os substituíram no poder, optaram por ser demasiado optimistas e avançaram com o fim dos modelos que queimam combustíveis derivados do petróleo para 2030. Agora estão em conversações com os construtores para preparar o regresso do limite em 2035.

Esta última marcha-atrás fica a dever-se à reacção negativa dos construtores que ainda produzem no Reino Unido, em relação à antecipação para 2030 da proibição de comercializar modelos com motores de combustão. O exemplo mais flagrante veio da Stellantis, grupo que detém a Vauxhall e possui uma fábrica em Luton, no sul de Inglaterra, que anunciou o seu encerramento e o despedimento de 1100 empregados, como resposta ao que considera um voluntarismo excessivo do Governo, face à realidade do mercado.

O anúncio do encerramento da fábrica da Stellantis, em Luton, motivou a marcha-atrás dos britânicos

A indústria automóvel no Reino Unido, que já foi substancialmente mais forte, continua a gerar muitos empregos e a criar muita riqueza, pelo que, independentemente da cor do Governo, todos farão o possível para manter a funcionar a indústria que ainda têm e que produziu mais de 1 milhão de veículos em 2023, apesar de continuarem a piscar o olho aos chineses para ali instalarem as suas fábricas na Europa. E esta transição para os carros eléctricos pode até representar uma oportunidade única para os britânicos recuperarem a dimensão como país construtor que tiveram no passado.

As próximas conversações entre fabricantes e os representantes do Governo britânico servirão para os primeiros explicarem aos segundos que o calendário para a implementação das normas de emissões de CO2 da União Europeia já é apertado e difícil de atingir. Não faz muito sentido forçar ainda mais os construtores para se adaptarem às necessidades de um mercado que consumiu em 2023 cerca de 1,9 milhões de unidades, quando a UE absorve 10,5 milhões como um todo.

Será igualmente tema em cima da mesa o facto de o Reino Unido ter hoje cerca de 45.000 pontos de carga, entre corrente contínua e corrente alternada, mas a necessitar de oferecer entre 280.000 e 450.000 em 2030, o que significa incrementar o número de carregadores a um ritmo superior a 50.000/ano. Também em discussão deverá estar o desejo do Governo em acelerar rapidamente as vendas de veículos eléctricos, que já representaram 22% dos carros novos comercializados no Reino Unido em 2024, em linha com os 22,7% de média na UE. A meta é a de atingir 28% já em 2025, mas tal implica vender mais 114.000 veículos a bateria, um salto superior a 30% face aos 371 mil eléctricos que os britânicos estimam ter vendido em 2024. E, para incentivar o cumprimento deste objectivo, os britânicos definiram uma multa de 15.000 libras (18.100€) por veículo vendido para os fabricantes incumpridores, o que pode acarretar milhões em penalizações.

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