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Gyökeres cumpre promessas, a equipa deixa o resto por metade (a crónica do V. Guimarães-Sporting)

Guimarães teve um jogo épico, com Gyökeres a precisar de 57 minutos para fazer o primeiro hat-trick do ano e Sporting a mostrar em 15 minutos que parte emocional continua refém do seu destino (4-4).

Francisco Trincão ainda conseguiu salvar um ponto para o Sporting em período de descontos mas leões não foram além do empate em Guimarães
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Francisco Trincão ainda conseguiu salvar um ponto para o Sporting em período de descontos mas leões não foram além do empate em Guimarães

MIGUEL RIOPA

Francisco Trincão ainda conseguiu salvar um ponto para o Sporting em período de descontos mas leões não foram além do empate em Guimarães

MIGUEL RIOPA

Setenta e duas horas de preparação, uma vitória que na era João Pereira parecia ser no mínimo improvável. Dificilmente Rui Borges poderia pedir uma estreia melhor no comando do Sporting, com uma vitória frente ao rival Benfica em Alvalade que teve bem mais do que 15% de dedo de treinador. E não, aqui não falamos do óbvio aproveitamento de uma mudança de sistema, de ideia e de zonas de pressão que apanhou o adversário desprevenido durante 45 minutos (embora nem todos concordem com a evidência). O maior triunfo do antigo técnico do V. Guimarães foi visível após o apito final do encontro decidido pela margem mínima com um golo de Geny Catamo. Visível nas caras de alívio dos jogadores, nos abraços entre a equipa, nas manifestações de proximidade entre atletas e novo timoneiro. Em pouco tempo, chegou onde precisava.

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Mais do que questões táticas, Rui Borges funcionou sobretudo como um terapeuta. A forma como libertou a equipa das amarras do 3x4x3 que perdeu sentido sem o seu criador e a maneira como montou uma estrutura que permite potenciar mais unidades que estavam em sub-rendimento como Gyökeres, Francisco Trincão ou Geny Catamo mostrou que muitas vezes mais vale passar bem duas ou três ideias do que encher os jogadores de novos conceitos. Em paralelo, o técnico falou e muito com o plantel. Afinal, aquela equipa que perdera oito pontos em 12 possíveis era a mesma que se sagrara campeã na última temporada virando o ano com o mesmo registo. Aquela equipa que ficou dois jogos em branco com João Pereira era a mesma que funcionava como rolo compressor nas 11 jornadas iniciais. O conjunto de jogadores voltou a ser novamente uma equipa.

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Todavia, aquilo que aconteceu com o Benfica mais não foi do que um pequeno passo numa caminhada que é particularmente complicada em janeiro. Próximo obstáculo? Guimarães e um Vitória que mostrou em Faro ter algumas ideias de Daniel Sousa mas que ainda guarda muito do que foi construído por Rui Borges nos últimos seis meses. Entre as devidas nuances na equipa minhota com o novo técnico, seria quase um duelo entre o criador e a sua principal obra até chegar a Alvalade num contexto sempre complicado para qualquer adversário que se desloque ao Dom Afonso Henriques. A carga emocional estava presente, o treinador foi tentando esvaziar ao máximo essa carga apontando em exclusivo na conquista de mais um triunfo.

“Acredito que, aos poucos, o treinador vá querendo meter algumas ideias próprias dentro de uma equipa muito bem trabalhada, com uma dinâmica forte. O treinador conhece a equipa, os jogadores conhecem o treinador, sabem a maneira de trabalhar. Será um jogo bastante difícil porque é uma equipa que joga muito bem, valoriza o jogo, tem individualidades muito boas e que a qualquer momento podem desequilibrar, num campo muito difícil com adeptos fervorosos. Mas vou dizer o mesmo que disse antes do jogo com o Benfica: vamos focar-nos muito mais em nós, no que controlamos. Se formos capazes, conseguiremos fazer um grande jogo e alcançar uma vitória muito importante”, salientara Rui Borges na antevisão do encontro.

“Já houve um Sporting à imagem do Rui Borges, competitivo e intenso. Umas vezes mais, outras menos, faz parte. Os princípios da parte competitiva têm de lá estar. O futebol é cada vez mais competitivo, intenso, pede mais ações dessas e temos de estar adaptados a isso. Se não estivermos, não chega a tal inspiração. A atitude tem de lá estar, a intensidade, e eles tiveram-na. O maior desafio para nós é manter essa consistência a nível de intensidade, competitividade e qualidade de jogo, que aos poucos acredito que será melhor. Seremos um grande Sporting. É normal a parte externa criar mais burburinho no sentido de haver o momento menos bom mas não havia razão para estarem desconfiados da qualidade da equipa. Foi isso que pedi e que eles demonstraram. São campeões e têm de ter isso na cabeça, é porque são bons. Quando as coisas não correrem tão bem, não pode haver desconfiança. Mesmo em momentos em que não estávamos tão bem, a malta agarrou-se uns aos outros contra o Benfica”, ressalvou, quase a dar o mote para Guimarães.

A frase “Quando faltar a inspiração, que não falte a atitude” chegou mesmo para ficar, sendo já utilizada para decorar o balneário do Sporting quando joga fora. No entanto, faltou também outra premissa: força física. A ganhar por 3-1 e com o encontro aparentemente fácil de controlar, os leões deram oxigénio para os minhotos respirarem e quando perceberam o que se passava já estavam a perder em 15 minutos. Trincão ainda fez o empate nos descontos mas as duas equipas, cada uma à sua maneira, perdeu dois pontos. Sobra o discurso de Gyökeres quando recebeu o galardão na gala dos Prémios Stromp: “O ano passado foi muito bom, espero que este seja melhor, se o Quenda me passar mais vezes a bola”. Com humor pelo meio, o sueco que marcou 62 golos em 2024 começou o ano com um hat-trick sendo assistido duas vezes pelo jovem jogador de 17 anos. Problema? Para ser uma época melhor e com título, uma equipa grande não pode sofrer três golos em 15 minutos estando em vantagem nem pode abanar como um principiante nos momentos chave.

Ficha de jogo

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V. Guimarães-Sporting, 4-4

17.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Dom Afonso Henriques, em Guimarães

Árbitro: João Gonçalves (AF Porto)

V. Guimarães: Bruno Varela; Alberto Baio, Óscar Rivas, Jorge Fernandes, João Mendes; Manu (Tomás Händel, 81′), Samu (João Mendes, 63′), Tiago Silva; Kaio César, Nuno Santos (Telmo Arcanjo, 63′) e Gustavo Silva (Michel Dieu, 43′)

Suplentes não utilizados: Gui, Miguel Maga, Mikel, Marco Cruz e Zé Carlos

Treinador: Daniel Sousa

Sporting: Franco Israel; Eduardo Quaresma (Fresneda, 87′), Diomande, St. Juste, Matheus Reis; Geny Catamo (João Simões, 79′), Hjulmand, Morita (Conrad Harder, 87′), Geovany Quenda (Maxi Araújo, 55′); Francisco Trincão e Gyökeres

Suplentes não utilizados: Kovacevic, Zeno Debast, Marcus Edwards, Alexandre Brito e Mauro Couto

Treinador: Rui Borges

Golos: Gyökeres (2′, 14′ e 57′), Tiago Silva (7′), Kaio César (69′), João Mendes (82′), Michel Dieu (85′) e Francisco Trincão (90+5′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Samu (9′), Morita (18′), João Mendes (56′), Gyökeres (75′), Maxi Araújo (81′), St. Juste (84′), Óscar Rivas (89′), Fresneda (90+3′) e Telmo Arcanjo (90+3′)

Melhor início seria impossível para o Sporting, que em menos de cinco minutos criou três ocasiões em que podia ter marcado perante um V. Guimarães que andava ainda à procura das melhores referências sem êxito tendo como principal problema Gyökeres: na primeira ocasião, lançou Geovany Quenda com todo o espaço pela esquerda numa jogada que acabou por morrer antes do último toque (1′); no segundo lance, recebeu na esquerda após passe em profundidade de Quenda, encarou Óscar Rivas no 1×1, tentou o remate de trivela e fez mesmo o 1-0 com a bola a desviar ainda no central contrário (2′); na terceira jogada, voltou a ganhar mais descaído sobre a esquerda, cruzou largo e Geny Catamo, na segunda bola, atirou forte para grande defesa de Bruno Varela para canto (4′). Os leões tinham todo o crédito do jogo mas desperdiçaram esse capital.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do V. Guimarães-Sporting em vídeo]

Pouco depois, na sequência de uma falta “evitável” de Eduardo Quaresma sobre Gabriel Silva perto da área descaído sobre a esquerda, o V. Guimarães chegou mesmo ao empate no primeiro e único tiro enquadrado da primeira parte. Tiago Silva teve mérito na forma como bateu o livre direto, com a bola a descer depois de passar a barreira e a cair junto ao poste, mas Franco Israel, que não partiu no momento exato para o lance, também não ficou isento de culpas (7′). Voltava tudo à estaca zero mas por pouco tempo, com o mesmo Tiago Silva a estar no melhor… e no pior: na sequência de um passe errado à saída do primeiro terço, Quenda conseguiu fazer a recuperação em zona adiantada e assistiu logo Gyökeres nas costas dos centrais minhotos para uma “bomba” sem hipóteses para Bruno Varela que fez o 2-1 no quarto de hora inicial (14′).

Estava o típico jogo que os jogadores gostam, os adeptos adoram e os treinadores odeiam, até porque pouco depois houve mais uma boa oportunidade para o V. Guimarães com Gustavo Silva a rematar à entrada da área muito perto do poste (17′). As correções foram sendo feitas, as oportunidades a partir daí foram cada vez mais escasseando. Ainda houve um lance iniciado por Kaio César que atravessou toda a área, voltou a fazer a mesma trajetória com um toque de Nuno Santos ao segundo poste mas não teve desvio para a baliza mais um remate de Quenda que saiu muito por cima mas a principal incidência até ao intervalo seria mesmo a lesão de Gustavo Silva, que num sprint sentiu de imediato a coxa e ficou caído no relvado antes de sair de maca sendo confortado por St. Juste, que andou com queixas alguns minutos mas prosseguiu em campo.

Sem mais alterações nas duas equipas, o segundo tempo começou com outras características entre o mérito do V. Guimarães em arriscar no jogo sem bola com zonas de pressão mais altas e demérito do Sporting por ter perdido a capacidade de em três/quatro passes colocar a bola com perigo no último terço. Rui Borges teve mesmo de mexer para lançar Maxi Araújo na esquerda em vez de Quenda, travando o crescendo de Alberto Costa, podendo delinear quando necessário uma linha de três atrás com Matheus Reis por dentro e dando outros problemas aos minhotos atrás. Seria mesmo por aí que o uruguaio faria a diferença, com um passe picado fantástico por cima da defesa contrária a isolar Morita, que assistiu de cabeça Gyökeres para o hat-trick e o 3-1 que dava outro conforto aos leões na gestão do jogo pelos dois golos de vantagem.

A forma calma como Rui Borges ia vendo o jogo sentado no banco ganhava extensão na equipa em campo. Daniel Sousa ainda lançou João Mendes e Telmo Arcanjo mas o lance mais perigoso dos minhotos durante o período de tentativa de reação ao golo foi mesmo um desvio de Hjulmand após cruzamento que ficou nas malhas laterais da baliza de Franco Israel (65′). Contudo, se as mexidas nos leões tiveram resultados, as dos minhotos não ficaram atrás: Telmo Arcanjo teve uma grande arrancada pela direita que a certa altura parecia condenada ao insucesso, fez uma fantástica assistência com um passe atrasado para trás na área e Kaio César entrou de rompante para atirar de primeira para o 3-2 (70′). Era o momento que iria mudar tudo.

Tanta calma de Rui Borges fez com que não mexesse mais cedo na equipa, com várias unidades há muito de rastos em campo. A isso juntou um ingrediente que não soube também antecipar: bastava um abanão para tudo desmoronar, tendo em conta o período de recuperação que a equipa do Sporting ainda atravessa. O V. Guimarães nunca desistiu, recusou baixar os braços e em pouco mais de três minutos chegou mesmo a uma reviravolta épica na partida: João Mendes fez o empate aproveitando uma insistência na área após desvio de cabeça de Michel à trave (82′), o mesmo Michel aproveitou um livre lateral no lado direito para ganhar a Matheus Reis ao segundo poste e fazer de cabeça o 4-3 (85′). O jogo parecia escrito mas Trincão tinha ainda um capítulo reservado para o final, empatando no quinto minuto de descontos num remate em arco na área que gelou o Dom Afonso Henriques e deixou as duas equipas frustradas com o resultado final.

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