O escritor e crítico literário britânico David Lodge, que se notabilizou com a chamada Trilogia Universitária, morreu aos 89 anos, escreve o jornal The Guardian.
Lodge morreu pacificamente junto da família, segundo informação avançada pela sua editora, a Vintage, do grupo Penguin Random House. “A sua contribuição para a cultura literária foi imensa, quer através das suas críticas, quer através dos seus romances magistrais e icónicos que já se tornaram clássicos”, afirmou Liz Foley, da Harvill Secker, uma chancela da Vintage, citada pela revista The Bookseller.
Figura marcante da literatura contemporânea, David Lodge escreveu mais de vinte romances e obras de não-ficção, guiões para televisão e peças de teatro. Foi duas vezes nomeado ao prestigiado Prémio Booker, primeiro por O Mundo é Pequeno (1984), e depois por Um almoço Nunca é de Graça (1988), que são a segunda e terceira parte da Trilogia Universitária. Em Portugal, a obra está editada pela Asa.
Conhecido pelos seus romances cómicos em ambiente académico, Lodge era um mestre do humor, que usava para retratar a academia, mas também a sociedade britânica. “Ou se tem senso de humor ou não tem. É genético, uma característica do cérebro”, dizia em entrevista ao Observador em 2016, numa passagem por Portugal.
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O lugar do humor na sua obra era “muito importante”, confirmava a este jornal. “O que é estranho porque, no geral, sou uma pessoa bastante depressiva”, notava. “Penso que herdei o humor do meu pai, um homem muito esperto e sagaz. Apesar de não ter tido uma educação formal extensa – era músico, abandonou a escola aos 15 anos — tinha um bom vocabulário, lia muito, adorava Dickens. É uma capacidade que se tem, ou não, de perceber o absurdo na vida, não só à nossa volta mas em nós próprios. Temos que estar dispostos a expor o nosso próprio ridículo de forma a criar humor. Mas ou se tem senso de humor ou não tem. É genético, uma característica do cérebro”.
“Não há muitas pessoas a escrever bons romances aos 80 anos”
Daivd Lodge nasceu em Dulwich, no sul de Londres, a 28 de janeiro de 1935, reporta o The Guardian. Cresceu em Brockley e frequentou uma escola católica em Blackheath, onde o diretor o incentivou a ir para a universidade. Publicou o primeiro romance em 1960, The Picturegoers. O livro passa-se num cinema em “Brickley”, baseado em Brockley, e explora o catolicismo, que continuaria a ser um tema importante na obra de Lodge.
Estudou Literatura Inglesa e foi professor na Universidade de Birmingham, mas retirou-se aos 50 anos, em 1987, “farto da natureza repetitiva do ensino”, para se dedicar inteiramente à escrita. “Como escritor, fazia cada vez mais dinheiro, comecei a considerar a hipótese de escrever argumentos para televisão e cinema, o que paga bastante bem. Nessa altura já estava a trabalhar a meio tempo, num semestre dava aulas, no semestre seguinte escrevia, trabalhava como freelancer. E estava a gostar bastante mais de trabalhar como freelancer do que da carreira académica”, recordou ao Observador. “O sistema estava a mudar, as universidades começaram a parecer-se com fábricas, cada vez mais alunos, cada vez menos corpo docente.”