A deficiência de iodo afetava há um século crianças em grandes zonas dos Estados Unidos e o problema, que tinha desaparecido através da indústria alimentar, está a regressar com alterações na dieta e no fabrico de alimentos.

O problema parecia estar ultrapassado depois de alguns fabricantes de alimentos terem começado a adicioná-lo ao sal de cozinha, ao pão e a alguns outros alimentos, numa das grandes histórias de sucesso em saúde pública do século XX, noticiou na segunda-feira a agência Associated Press (AP).

Mas atualmente, as pessoas estão a receber menos iodo devido a alterações na dieta e no fabrico de alimentos.

Embora a maioria das pessoas ainda esteja a receber o suficiente, os investigadores têm relatado cada vez mais baixos níveis de iodo em mulheres grávidas e outras pessoas, levantando preocupações sobre o impacto nos seus recém-nascidos.

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E há também um número muito pequeno, mas crescente, de relatos de deficiência de iodo em crianças.

“Isto precisa de estar no radar das pessoas”, alertou Monica Serrano-Gonzalez, médica da Universidade Brown, em Providence, Rhode Island.

O iodo é um oligoelemento que se encontra na água do mar e em alguns solos — principalmente nas zonas costeiras. Um químico francês descobriu-o acidentalmente em 1811, quando uma experiência com cinzas de algas marinhas criou uma nuvem roxa de vapor.

O nome iodo vem de uma palavra grega que significa cor violeta.

Mais tarde, nesse século, os cientistas começaram a compreender que as pessoas precisam de certas quantidades de iodo para regular o seu metabolismo e permanecerem saudáveis, e que é crucial para o desenvolvimento da função cerebral nas crianças.

Um sinal de insuficiência de iodo é o inchaço do pescoço, conhecido como bócio. A glândula tiroide no pescoço utiliza iodo para produzir hormonas que regulam a frequência cardíaca e outras funções do corpo. Quando não há iodo suficiente, a glândula tiroide aumenta de tamanho à medida que acelera para compensar a falta de iodo.

Os especialistas em saúde pública perceberam que não podiam resolver o problema alimentando toda a gente com algas e marisco, mas aprenderam que o iodo pode ser essencialmente pulverizado no sal de cozinha.

O sal iodado foi disponibilizado pela primeira vez em 1924. Na década de 1950, mais de 70% dos lares dos EUA utilizavam sal de cozinha iodado. O pão e alguns outros alimentos também foram enriquecidos com iodo, e a deficiência de iodo tornou-se rara.

Mas as dietas mudaram. Os alimentos processados constituem agora uma grande parte da dieta americana e, embora contenham muito sal, não são iodados. As principais marcas de pão já não adicionam iodo. Para as pessoas que salgam a comida, o habitual agora é usar sal kosher, sal-gema dos Himalaias ou outros produtos não iodados.

“As pessoas esqueceram-se porque é que existe iodo no sal”, frisou Elizabeth Pearce, do Boston Medical Centre, que é líder da Iodine Global Network, uma agência não governamental que trabalha para eliminar os distúrbios por deficiência de iodo.

Pearce observou uma queda relatada de 50% nos níveis de iodo nos EUA entre os norte-americanos inquiridos entre as décadas de 1970 e 1990.