O Governo francês condenou esta quarta-feira as celebrações públicas em várias cidades francesas pela morte do líder da extrema-direita francesa, Jean-Marie Le Pen, que morreu na terça-feira aos 96 anos, considerando-as inaceitáveis.
“Uma vez morto, o inimigo tem o direito de ser respeitado”, declarou a porta-voz do Governo, a conservadora Sophie Primas, na conferência de imprensa no final do Conselho de Ministros. Sophie Primas parafraseou assim o próprio Jean-Marie Le Pen, que formulou esta frase em 2019 após o falecimento de Jacques Chirac, antigo Presidente francês e o seu rival nas eleições presidenciais de 2002, quando a extrema-direita chegou à segunda volta.
A porta-voz disse estar ciente da “violência, das ofensas e das coisas inaceitáveis” ditas pelo fundador do partido Frente Nacional (criado em 1972 e rebatizado como União Nacional, RN), cujo discurso contra a imigração e o multiculturalismo originou várias condenações, mas deixou claro que os ‘slogans’ e as atitudes nas celebrações de terça-feira à noite eram inaceitáveis.
Na manifestação mais numerosa, na Place de la Republique, em Paris, pelo menos mil pessoas, a maioria jovens ligados a movimentos de esquerda, acenderam foguetes e brindaram com champanhe.
A condenação da porta-voz segue-se à do ministro do Interior, o conservador Bruno Retailleau, que na terça-feira à noite afirmou que “nada justifica dançar sobre o cadáver de um homem” e considerou “vergonhosas” as cenas de festejos dos cidadãos.
As autoridades francesas detiveram sete pessoas numa concentração em Lyon e três em Paris na noite de terça-feira, acusadas de desordem pública.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, não comentou a morte de Jean-Marie Le Pen, cuja filha Marine Le Pen é a atual líder da extrema-direita francesa e favorita para vencer as eleições presidenciais de 2027, caso venha a candidatar-se.
Em nome do chefe de Estado francês, foi feita uma breve declaração garantindo que “a história julgará” o trabalho do líder de extrema-direita e que o Presidente expressa “as suas condolências à sua família e entes queridos”.
Contrariamente à discrição do Eliseu, o primeiro-ministro centrista, François Bayrou, foi fortemente criticado pela esquerda por declarações consideradas condescendentes em relação a Jean-Marie Le Pen, a quem reconheceu um forte caráter.
Mathilde Panot, líder na Assembleia Nacional Francesa da França Insubmissa (LFI, esquerda radical e principal partido da aliança de esquerda), disse não estar surpreendida com as celebrações de “uma juventude que continua mobilizada contra a Frente Nacional”.
“Jean-Marie Le Pen é um inimigo da República, condenado mais de 30 vezes, aquele que disse que as câmaras de gás eram um pormenor. Não era apenas um adversário político”, acrescentou a dirigente de esquerda.