A polícia de Ferguson revelou esta sexta-feira em conferência de imprensa a identidade do agente que há quase uma semana disparou sobre o jovem afro-americano de 18 anos Michael Brown, acabando por matá-lo. Chama-se Darren Wilson e trabalha há seis anos no departamento de polícia daquele subúrbio de St. Louis. Segundo o chefe da polícia Thomas Jackson, Wilson não tem qualquer registo de ações disciplinares. Ao mesmo tempo, as autoridades divulgaram imagens e um vídeo que mostram Brown a participar num assalto (o roubo terá sido uma caixa de charutos no valor de 48,99 dólares, cerca de 37 euros) a uma loja de conveniência, 15 minutos antes de ter sido morto.

Entretanto, alguns meios de comunicação estão a destacar que o polícia que matou Brown não sabia que este era suspeito de roubo. A Associated Press escreve que durante a conferência de imprensa que ainda está a decorrer, o chefe Jackson disse que o roubo “não estava relacionado com o contacto inicial” entre Michael Brown e Darren Wilson. O site da NBC News sublinha que Jackson disse que Brown foi travado na rua porque “estava a atravessar o meio da rua, bloqueando o trânsito”.

A forma como a polícia fez o anúncio, implicando Brown num crime sem acrescentar novas informações sobre as circunstâncias da morte do jovem no sábado, reacendeu a raiva entre os habitantes de Ferguson, escreve o New York Times. A família de Michael Brown acusou as autoridades de tentar encobrir o que aconteceu e proteger o agente Wilson. “A família está mais do que revoltada pela forma como a polícia escolheu disseminar” informação, disse o advogado Benjamin Crump, citado pela CNN.

“Nada daquilo que foi divulgado justifica a execução do jovem por este agente da polícia, uma vez que ele levantou as mãos no ar, que é o sinal universal de rendição”, pode ler-se num comunicado feito pela família de Brown, segundo o Washington Post.

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Estas revelações surgem quase uma semana depois da morte de Brown, que levou muitos às ruas de Ferguson para protestar contra o excesso de violência policial e a ausência de respostas sobre o que aconteceu no sábado passado. Os manifestantes pediram várias vezes que fosse revelada a identidade do agente responsável pela morte do jovem, mas Jackson recusou fazê-lo por razões de segurança depois de terem sido feitas ameaças de morte ao agente e à família deste. A recusa de revelar um nome fez disparar a tensão entre a polícia e aqueles que protestavam nas ruas. As autoridades dispersaram os manifestantes com balas de borracha e gás lacrimogéneo e fizeram algumas detenções. Dois jornalistas foram detidos.

A divulgação do nome de Wilson foi feita esta sexta-feira, não porque tivesse “existido alguma razão específica, mas porque sentimos uma certa calma”, disse o chefe da polícia. A noite de quinta-feira foi relativamente calma, depois de cinco dias de protestos violentos.

Michael Brown foi baleado no sábado 9 de agosto quando se deslocava para casa. As testemunhas têm versões diferentes sobre a morte do jovem. Alguns disseram que a polícia terá tentado forçar Brown a entrar numa viatura policial e que este terá corrido com as mãos levantadas em sinal de rendição. As autoridades declararam que o jovem afro-americano tinha batido no agente, o que terá motivado os disparos.

Na quinta-feira, surgiu uma nova testemunha que corroborou a história da primeira, Dorian Johnson. Numa entrevista à MSNBC, Tiffany Mitchell disse ter visto Brown a tentar libertar-se de um polícia. Mitchell diz que o primeiro tiro foi disparado de dentro do carro e que depois disso, o jovem afro-americano terá fugido a correr. Nessa altura, o agente saiu da viatura e perseguiu Michael Brown, sem deixar de disparar. “O corpo de Michael fez um movimento repentino, como se tivesse sido atingido e depois ele pôs as mãos no ar”. O polícia, disse Mitchell, continou a disparar até que Brown caiu no chão. De acordo com a nova testemunha, terão sido disparados cinco ou seis tiros.

A situação em St. Louis levou mesmo o presidente Barack Obama a interromper as férias para falar ao país. “Eu sei que as emoções estão à flor da pele em Ferguson, mas devemos lembrar-nos que somos todos parte de uma grande família americana e que estamos todos unidos por valores comuns que incluem a crença na igualdade perante a lei, o respeito pela ordem e o direito a protestos públicos pacíficos”, disse o presidente dos EUA na quinta-feira. Obama condenou a violência contra a polícia, mas acrescentou que “não há desculpas para o uso excessivo da força” pelas autoridades.