Michael Brown, 18 anos, estava a poucos dias de começar as aulas na Universidade. No sábado, por volta das 14 horas, ia a caminho da casa da avó em Ferguson, um subúrbio da cidade de St. Louis, no estado do Missouri. Não há certezas sobre aquilo que aconteceu a seguir. Alguns dizem ter visto a polícia a abordar Brown por andar no meio da rua e a tentar que o jovem entrasse no carro. Este terá corrido, mãos levantadas em sinal de rendição. A polícia declarou que o jovem bateu no agente e que isso terá motivado os múltiplos disparos sobre Brown, que ficou estendido no chão sem vida durante várias horas. Mas há um facto que se tornou determinante nesta história: Michael Brown era negro.

Cinco dias depois da morte do jovem, as imagens que nos chegam de Ferguson mostram uma cidade quase em estado de sítio. Muitos habitantes saíram às ruas para protestar contra a ação da polícia e o seu comportamento desde então. O departamento policial do Missouri está a ser criticado por revelar poucas informações sobre o que aconteceu no sábado à tarde, por aparentemente ter ignorado uma testemunha importante e por se recusar a revelar a identidade do agente que disparou sobre Brown. A forma como a polícia tem lidado com os manifestantes – fortemente armada e recorrendo a balas de borracha e a gás lacrimogéneo para dispersar os protestos – está a intensificar a tensão entre as autoridades e a comunidade negra de St. Louis. O FBI vai agora começar a investigar o caso.

Na quarta-feira, centenas de manifestantes que cantavam “Mãos ao ar, não disparem” foram forçados a abandonar o centro de Ferguson depois da intervenção policial, que terminou com a detenção de dois repórteres, um do Washington Post e outro do Huffington Post. Marty Baron, editor do histórico jornal, condenou a atuação da polícia, considerando-a “um atentado à liberdade da imprensa para cobrir as notícias”, escreveu o Guardian. Ryan Grim, o chefe do escritório do Huffington Post em Washington, chamou a atenção para o fenómeno da “militarização da polícia”, que, considera, é um dos “desenvolvimentos menos noticiados dos nossos tempos” e que está a começar a “afetar a liberdade de imprensa”.

A imprensa norte-americana e britânica reagiu duramente à morte de Michael Brown, apontando o dedo à história de discriminação e segregação racial de St. Louis, que continua a ser a sexta cidade mais segregada do país. Um editorial do New York Times contou brevemente esta história, mostrando que persistem diferenças esmagadoras entre a maioria da população negra (69%) e a população branca (29%), que domina as estruturas de poder. Como acontece no seio das forças policiais, onde os negros correspondem a apenas 5,6% do total. Segundo o Guardian, no ano passado, por cada condutor branco, sete condutores negros foram mandados parar pela polícia. O site da revista Mother Jones fez um levantamento dos números que mostram a desigualdade. Em 2013, 483 dos presos eram negros, enquanto apenas 36 brancos foram detidos. 28% da população negra de Ferguson vive abaixo do limiar da pobreza. A New Republic fez um trabalho semelhante.

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Barack Obama, que interrompeu as suas férias para receber informações sobre o caso, falou esta quinta-feira ao país e fez um apelo “à paz e à calma” nas ruas. “Eu sei que as emoções estão à flor da pele em Ferguson, mas devemos lembrar-nos que somos todos parte uma grande família americana e que estamos todos unidos por valores comuns que incluem a crença na igualdade perante a lei, o respeito pela ordem e o direito a protestos públicos pacíficos”, disse o presidente dos EUA.

Obama condenou a violência contra a polícia, mas acrescentou que “não há desculpas para o uso excessivo da força” pelas autoridades. Foi igualmente crítico das detenções de repórteres. “Nos Estados Unidos, a polícia não deve intimidar ou prender jornalistas que estão apenas a tentar fazer os seus trabalhos”.

O grupo Anonymous escreveu no Twitter que conseguiu aceder ao sistema de computadores do município de Ferguson. Depois, divulgou informações sobre os funcionários municipais, bem como dados pessoais e fotografias de Jon Belmar, o chefe da polícia que está a conduzir as investigações à morte de Brown. Tudo isto para fazer uma ameaça: se as autoridades reagirem com violência excessiva aos protestos, o grupo encerrará as redes da cidade, do condado e até as do Governo federal.