Nas festas do Pontal, no Algarve, que marcam a rentrée política do PSD, Pedro Passos Coelho tem uma ‘companhia’ inusitada: os juízes do Tribunal Constitucional. Foi assim no ano passado e será assim esta noite.

No ano passado, o Governo sofria ainda os efeitos do pesado chumbo ao Orçamento de 2013 -o maior chumbo de todos em termos de impacto financeiro e que levou a uma crise política com as demissões de Vítor Gaspar e Paulo Portas. E o recado de Passos aos juízes do TC, que tinha em mãos mais uma proposta do Executivo, foi duro: “Qualquer decisão constitucional não afetará simplesmente o Governo. Afetará o país. Esses riscos existem, eu tenho que ser transparente. Se esse risco se concretizar, alguns dos objetivos terão que andar para trás”, avisava o primeiro-ministro, referindo-se ao diploma sobre os despedimentos na função pública que estava a ser apreciado pelo TC e que acabou por ser chumbado.

“Se não temos dinheiro para pagar salários e pensões, o que fazemos? O que fazem as empresas: reduzem pessoas e baixam salários”, defendeu.

Nessa altura, Passos afirmou que o que o Governo está a fazer “vai muito para além” dos militantes e do eleitorado que o escolheu. Admitiu que nos “momentos de dúvida e incerteza” houve, “dentro da própria maioria, tensões importantes que se manifestaram”.

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“Hoje temos a certeza que não há ninguém no seio da maioria que não tenha o esclarecimento cabal das consequências que teria para o país uma crise política que pusesse em causa o futuro do país”, disse, referindo-se à crise política de julho.

No ano anterior, 2012, a festa do Pontal, habitualmente no calçadão de Quarteira, foi em recinto fechado e reduzido a metade. Passos discursou em ambiente mais resguardado, no recinto do Aquashow, e prometia que, apesar de a recessão de 2012 estar a ser mais grave do que o esperado, 2013 seria um ano de “inversão” e de “preparação da recuperação” económica.

“Queremos construir uma sociedade mais próspera, mais desenvolvida. Nós queremos que o Produto Interno Português cresça e não que encolha como tem acontecido, no ano passado e este ano. E por isso quero reafirmar aos portugueses, se o ano que estamos a viver ainda é um ano de contração da atividade, em que empresas estão a fechar portas e em que o desemprego não conseguiu ser contido, o ano de 2013 (…) será um ano de inversão na situação da atividade económica em Portugal”, afirmou Passos Coelho. “Estou muito confiante, apesar das adversidades externas, nós temos todas as condições para que 2013 seja um ano já de estabilização da nossa economia e de preparação da recuperação económica para Portugal”, insistiu. 2013 foi como se viu: crise política e limites do défice renegociados com a troika.

2011, o primeiro Pontal de Passos como primeiro-ministro foi de avisos à navegação. Era o início de uma caminhada. “Vamos ingressar no coração, no plano mais duro das tarefas que temos a realizar”, anunciava Pedro Passos Coelho, fazendo um apelo “muito especial” aos parceiros sociais, para que compreendam que o “mundo tem os olhos postos em nós”.

“Não se espantem, portanto, que o meu apelo seja hoje dirigido mais aos parceiros sociais do que aos partidos políticos”, dizia. E avisava os portugueses do esforço que iria ser pedido: “Aquilo que se exige a cada um dos portugueses não é apenas paciência e espírito de sacrifício, é também que consiga, no seu dia a dia, a noção de que o que estamos a fazer ficará na historia da Europa, e na história da democracia”.

Esse ano de 2011 assinalava o regresso de um primeiro-ministro do PSD à Festa do Pontal, o que não acontecia desde 1994 com Cavaco Silva. Durão Barroso e Santana Lopes, os dois chefes de Executivo do PSD que se seguiram, preferiram fazer a rentrée política na Universidade da JSD, em Castelo de Vide.