Mário Centeno, deputado do PS que coordenou o cenário macro-económico do partido e que poderá ser o próximo ministro das Finanças, declarou esta quinta-feira, em entrevista ao jornal El Español que “a austeridade em Portugal chegou ao fim” mas que isso não quer dizer que “os processos de ajustamento necessário para reformar a economia” vão terminar com um Governo de esquerda.

“Se falamos de políticas de cortes transversais do último Governo, que não tinham sentido e racionalidade em termos de combater as causas fundamentais da crise, então, sim, a austeridade terminou. Os impostos elevados, as medidas imediatas para resolver os problemas imediatos chegaram ao fim. Mas os processos de ajustamento necessários para reformar o sistema económico continuam”, afirmou, numa entrevista dada ao jornal espanhol no seu gabinete de deputado na Assembleia da República.

O deputado do PS explicou que as medidas de alívio da austeridade previstas pelo partido serão compensadas com o crescimento da economia à exceção dos salários da função pública. “Aí, o Estado terá que ajustar-se para cumprir com algo que consideramos ser uma obrigação, a de repor os salários. É importante deixar claro que não se trata de um aumento, mas antes do fim de um corte aplicado pelo Governo anterior”.

Segundo Centeno, são três as áreas prioritárias de reformas para o PS: a administração pública, o mercado de trabalho e as empresas e a inovação.

Sobre os acordos do PS com os partidos de esquerda, o deputado socialista explicou que os acordos serão renovados “ano a ano” tal como fez a anterior coligação de Governo quando negociou cada Orçamento. “O nosso Governo sobreviverá desde que os objetivos comuns sejam suficientemente fortes. Farei tudo o que for possível para que assim seja, cumprindo o nosso objetivo comum: reduzir a pressão fiscal sobre os portugueses. Esse é o objetivo inicial. Depois há outros: reformar a administração pública, o mercado de trabalho, refinanciar a Segurança Social”, explicou.

Centeno defendeu ainda o processo de negociação. “A esquerda fala muito de revolução mas as transformações duradouras não ocorrem num ápice. Nenhum dos partidos tem votos suficientes para governar com maioria absoluta. E honestamente creio que seria pior para o país se tivessem. Nós [os socialistas] não somos salvadores da pátria que sabem tudo. O processo de negociação enriquece as propostas finais”, acrescentou.

O economista fez questão também de diferenciar o caso português do caso grego. “Portugal não tem nada a ver com a Grécia. A nossa situação económica não tem nada a ver com o caos vivido na Grécia em janeiro. O PS é um partido social-democrata, europeísta, não tem nada a ver com a posição de confrontação que o Syriza adotou em relação com a União Europeia. Nós propomos medidas bastante moderadas que estão em linha com a evolução da Eurozona”, sustentou.

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