Esta quarta-feira, a loja social da Câmara Municipal de Aljustrel esteve fechada ao público. As mulheres que lá trabalham vieram ver o “bem-parecido” Sampaio da Nóvoa, homem a quem prometem fidelidade na solidão da cabine de voto. “Eu estava bebendo um café quando avisaram que ele aí vinha”, diz ao Observador uma senhora de aperaltado vison cor-de-rosa. As cinco mulheres, funcionárias na autarquia socialista, receberam uma mensagem de telemóvel da organização concelhia do PS. “A gente veio por causa do nosso partido”, admite uma. E Nóvoa? “Sim, claro, é o nosso candidato, mas foi mais pelo partido.”

Elas vieram por causa do PS, mas oficialmente o PS não tem nada a ver com isto. Quem aparece, aparece porque quer, aparece a representar-se apenas a si próprio. Mas a presença socialista entre a caravana SNAP é indisfarçável. Vários presidentes de câmaras do PS, como Lagos e Aljustrel, já apareceram e são mandatários de Nóvoa. O candidato, lembre-se, só tem o apoio oficial dos partidos Livre e MRPP.

Para quem chegou à política há meia dúzia de meses — e faz bandeira disso –, Sampaio da Nóvoa está a fazer uma campanha bem oleada, sem grandes imprevistos e fugas ao guião, mais se parecendo com algo organizado por máquina partidária do que por um candidato que decidiu lançar-se sozinho aos lobos. Os exemplos abundam. Em Espinho, o ex-reitor apareceu na feira rodeado de uma pequena entourage com bandeiras e flyers que, rapidamente e em força, tratou de chamar a atenção dos populares para a presença do candidato. Em Aveiro, o mesmo grupo lá estava à porta da sede de candidatura a distribuir informações. Dias antes da passagem de Nóvoa por ali, uma mulher que tem andado sempre atrás da caravana foi avisar os vendedores ambulantes do que ia acontecer. No distrito de Évora, todos os autarcas socialistas decidiram apoiar Nóvoa e a federação do PS contribuiu para encher o Teatro Garcia de Resende.

Há ainda outros sinais de profissionalismo na campanha. Para os comícios, a caravana encontrou um speaker de voz grossa e colocada que sabe o que está a fazer; quase todos os membros da comitiva comunicam através de walkie-talkies; há sempre uma pessoa a captar imagens de vídeo atrás do candidato; há uma rapariga encarregada de mudar os copos de água aos oradores; há pessoas responsáveis por gritar “Nóvoa Presidente!” e por pedir “Palminhas!” para o candidato, enquanto outras põem a tocar o hino não-oficial de campanha (banda sonora da série americana John Adams).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O facto de o diretor de caravana ser o homem que já organizou as duas campanhas — vitoriosas — de Mário Soares pode ajudar a explicar esta sensação de haver dedo profissional a mexer aqui. Outro fator certamente importante é o grupo de jovens que não tem largado Sampaio da Nóvoa desde que se meteu nestas andanças, há dias em Seia. São umas dez pessoas, rapazes e raparigas com idades compreendidas entre os 19 e os 31 anos, quase todos da Juventude Socialista — embora salientem sempre que estão aqui por motivação pessoal.

Eles são, como se costuma dizer, pau para toda a obra. Esta terça-feira, por exemplo, chegaram antes de toda a gente ao Teatro Garcia de Resende, em Évora, para enfiar bandeiras de Portugal em varetas de plástico. Depois, foram postar-se à espera de Nóvoa para lhe dar a primeira salva de palmas e indicar ao público no interior que era hora de se animar. Por fim, quando já os discursos e as atuações musicais tinham acabado, a eles lhes coube a penosa tarefa do desmontar da festa. Arrumaram as bandeiras, recolheram o placard SNAP que ainda tem de durar mais uns 12 dias e meteram tudo no Renault Kangoo que os tem ajudado a fazer os cerca de dois mil quilómetros que esta campanha já leva.

Miguel Carvalho é o líder do grupo. Foi convidado a entrar nesta aventura pelo diretor de campanha de Nóvoa, Pedro Delgado Alves (deputado e presidente de junta em Lisboa), e convenceu alguns jotinhas a juntar-se. Vêm da Guarda, Leiria, Lisboa, Elvas, Portalegre e Viana do Castelo e prometem continuar a fazer cada curva do caminho pelo homem que querem ver presidente. E na JS, não houve uma cisão por causa de Nóvoa e de Maria de Belém? “Só tenho um amigo que vai votar Maria”, diz Miguel, a rir-se.

Enquanto Maria já coleciona um bonito número de visitas a lares de idosos e hospitais e Marcelo continua a campanha pelas farmácias e pastelarias, Nóvoa tem-se empenhado em eventos mais expressivos, grandes comícios com muita gente que contrariem a ideia de que ninguém sabe quem ele é. Ao mesmo tempo, esforça-se por passar a imagem de homem que não tem problemas em estar no meio do povo e não teme desafios. Senhoras e senhores, temos jogo.