Um espaço para eventos que recebe até 400 pessoas, outro de cowork com 250 lugares disponíveis a tempo inteiro e a mestria da dupla de arquitetos espanhola Selgas Cano na assinatura do projeto. Em maio, o Time Out Mercado da Ribeira tem mais um inquilino: a incubadora Second Home Lisbon, uma irmã do espaço que Rohan Silva e Sam Aldenton lançaram em 2013, em Londres, e que depressa se tornou num ícone de criatividade. Porquê Lisboa? “Acho que vamos ver o setor tecnológico explodir em Lisboa, em 2016”, afirmou Rohan Silva ao Observador.
“A nossa missão é esta: acreditamos verdadeiramente que as coisas boas acontecem, que a criatividade acontece quando diferentes tipos de pessoas e de empresas se misturam num só sítio. E, por isso, tentamos escolher projetos muito diversificados, fazendo uma espécie de curadoria das candidaturas”, adiantou o fundador da Second Home.
Não é por acaso que a Second Home tem sido considerada a incubadora de empresas mais ‘cool’ de Londres pela imprensa, ao juntar sob o mesmo teto projetos tecnológicos emergentes a grandes empresas como o banco Santander ou tecnológicas norte-americanas como a Blue State Digital – responsável pela comunicação digital da campanha de Barack Obama nas últimas eleições.
E lembra-se de José Neves, o fundador do único unicórnio com origem portuguesa, a Farfecth? É na incubadora londrina que a mulher, Daniela Cecílio, gere a Asap54, uma startup que quer revolucionar a forma como se encontram roupa ou acessórios de moda na internet. Sim, na Second Home londrina, os negócios na área da moda partilham o espaço com negócios tecnológicos, do setor financeiro, com produtoras de vídeo, entre outros. Em Lisboa, o objetivo da empresa é “exatamente igual”.
O nosso trabalho é fazer com que todos estes negócios interajam, é fazer a ligação entre eles”, disse Rohan ao Observador. É por isso que querem fazer em Lisboa o mesmo que já fazem na capital inglesa: avançar com um programa cultural no espaço, cujo objetivo é “apoiar a criatividade e expor as pessoas a novas ideias e a novas inspirações”.
Em Londres, a iniciativa cultural já levou o multimilionário Richard Branson ou a designer Stella McCartney ao espaço da incubadora na zona de Shoreditch. “Temos eventos incríveis com grandes organizações, que queremos levar para Lisboa”, adiantou Rohan, que acrescenta ter já começado a receber candidaturas de portugueses para integrar o espaço.
Os membros do Second Home Lisbon vão poder frequentar o espaço londrino sem pagar custos acrescidos, porque o objetivo de Rohan Silva é criar uma comunidade global de criativos. Apostou em Lisboa porque é uma cidade “incrivelmente atraente” do ponto de vista criativo.
Queremos estar em cidades que tenham muitas indústrias criativas, na área da moda, tecnologia, produção de vídeo, entre outras. E Lisboa é criativa por excelência. A música é ótima e tal como Londres ou Los Angeles [onde a Second Home planeia abrir também um espaço] é uma cidade dós século XXI.
Em 2010, Rohan Silva – que era conselheiro do primeiro-ministro britânico David Cameron – começou o projeto Tech City, em Londres. Conta ao Observador que na altura existiam cerca de 200 empresas que atuavam na área digital, na parte Este de Londres, uma das zonas mais trendy da cidade. Hoje, estão sediada em East London cerca de 5.000 empresas, como a Google, Intel ou a AirBnB.
“Lisboa lembra-me Londres nessa altura. Acho que o ecossistema tecnológico está muito entusiasmante. Há grandes empreendedores, uma energia fantástica. E com a vinda da Web Summit e da Second Home, vamos ajudar a juntar o setor tecnológico a outras indústrias criativas. Lisboa vai ser um dos melhores hubs de inovação do mundo””, afirmou Rohan.
A imersão no ecossistema português está a fazer-se com a ajuda de alguns players locais, como a capital de risco Faber Ventures ou a Time Out Lisboa. “Queremos apoiar o ecossistema português, ajudar os empreendedores de forma útil”, referiu.
Aquela que é considerada a incubadora mais cool de Londres ocupa o edifício de uma antiga fábrica de tapetes, no bairro de Brick Lane. O projeto também foi desenhado pela dupla de arquitetos espanhola Selgas Cano, responsáveis pelo Pavilhão de Espanha, na Bienal de Veneza, em 2012. José Selgas e Lucía Cano foram ainda selecionados para projetar o Serpentine Gallery Pavilion de 2015, que em edições passadas foi projetado por alguns dos grandes nomes da arquitetura, como Frank Gehry, Rem Koolhaas e Zaha Hadid.