Mais de metade da dívida da Ongoing Strategy Investments aos bancos está na carteira de crédito do Novo Banco e esta instituição financeira é a entidade a quem a empresa deve mais dinheiro. Esta é uma das conclusões da análise aos créditos reclamados no âmbito do processo especial de revitalização (PER) que decorre no Tribunal de Comércio de Lisboa.

A lista dos créditos provisórios, que integra 62 credores, totaliza um valor próximo de 1.285 milhões de euros, dos quais mais de 973 milhões representam pagamentos em falta a sete bancos que operam no mercado português. O Novo Banco, que herdou os créditos concedidos pelo Banco Espírito Santo (BES), é aquele que reclama a maior fatia do montante em incumprimento à holding do empresário Nuno Vasconcelos, embora fonte oficial da instituição refira que os valores em causa estão “praticamente” todos provisionados.

A empresa é devedora ao banco que nasceu com o processo de resolução do BES em mais de 493 milhões de euros, repartidos por financiamentos comuns, emissões de papel comercial, contratos de operações cambiais e derivados, um aval, assim como uma standby letter of credit, um instrumento que presta garantia ao cumprimento de um contrato ou de uma obrigação. Os financiamentos “simples” representam a parcela mais importante do dinheiro reclamado pelo Novo Banco, num total de 214 milhões de euros, seguidos do papel comercial, produto de curto prazo, com perto de 199 milhões de euros em default.

Antigo banco de investimento do GES também está na lista

As relações privilegiadas da Ongoing com entidades financeiras do Grupo Espírito Santo (GES) também são reveladas pelo facto de o Haitong, antigo banco de investimento do grupo, agora detido por capitais de origem chinesa, estar entre os três maiores credores da holding. O ex-BESI subscreveu 182,3 milhões de euros em papel comercial emitido pela empresa.

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Esta circunstância, somada às dívidas contraídas junto do BES que passaram para o Novo Banco, indica que sete em cada dez euros de créditos concedidos pelos bancos, por diversas vias, à Ongoing, tiveram origem nas entidades financeiras do grupo, à época, liderado por Ricardo Salgado. E, entre os créditos agora reconhecidos na lista provisória, as duas unidades do GES têm 53% do valor total em dívida.

Entre os créditos reclamados pelos bancos, a segunda dívida mais elevada pertence, no entanto, à carteira do Millennium BCP. A lista refere a existência de 282 milhões de euros em falta, uma parte dos quais em imposto do selo que não terá sido liquidado. Montepio, Banco Popular, Barclays e Santander Totta estão, igualmente, incluídos entre o conjunto de credores, com destaque para a caixa económica que é credora em 15 milhões de euros. A empresa de leasing do Banco BPI tem a recuperar 12 mil euros.

Sedeado no Luxemburgo, o Global Investment Opportunities SICAV é credor de uma soma superior a 65 milhões de euros, dos quais perto de 11 milhões são referentes a juros não liquidados sobre o capital emprestado à Ongoing. Também identificado como Ongoing International, este terá sido o fundo de investimento em que o Montepio aplicou 30 milhões de euros no final de 2008, como noticiou o Público.

Também o BES e a Portugal Telecom, empresa em que Nuno Vasconcelos detinha uma posição acionista, realizaram aplicações neste veículo de private equity do grupo Ongoing, usado de forma a contornar o recurso a crédito bancário para realizar investimentos.

Empresas do próprio grupo reclamam créditos

A lista de credores da Ongoing Strategy Investments deixa perceber a existência de uma teia de fluxos financeiros entre as empresas que integram o grupo. Diversas unidades, com sede no mesmo local de Lisboa, reclamam pagamentos, o mais elevado dos quais é pedido pela holding Insight Strategic Investments, no valor de 99 milhões de euros. Entre as empresas dominadas por Nuno Vasconelos, a RS Holding pede 74,6 milhões de euros, a Ongoing Energy reclama 37,5 milhões e a Ongoing TMT exige 30,8 milhões de euros.

Consultoras, sociedades de advocacia e, até, a holding do setor editorial e livreiro Babel, liderada por Paulo Teixeira Pinto, ex-presidente executivo do BCP, também fazem parte do conjunto de entidades credoras da Ongoing. A Vieira de Almeida & Associados, por exemplo, reclama 310 mil euros, enquanto a Ernst & Young, atual EY, reclama mais de 193 mil euros. A Babel surge na lista com um crédito provisório próximo de meio milhão de euros.

O grupo de Nuno Vasconcelos tem outras duas empresas em processo especial de revitalização, além da Ongoing Strategy Investments, a primeira a submeter-se a este regime. São os casos da ST&SF, detentora do “Diário Económico” e do canal de televisão ETv, bem como da Insight Strategic Investments.