O ministro das Finanças está “inteiramente disponível” para prestar esclarecimentos na comissão de inquérito ao caso Banif, disse ao Observador fonte oficial do Ministério das Finanças. Mário Centeno reagia assim ao pedido do PSD para que fosse com caráter de urgência ao Parlamento para explicar alegadas contradições entre as suas declarações em comissão e um email hoje revelado da presidente do conselho de supervisão do BCE.
“O Ministro das Finanças estará inteiramente disponível para prestar, na Comissão de Inquérito, todos os esclarecimentos que esta entenda necessitar”, disse a mesma fonte.
O PSD acusou esta quinta-feira o ministro das Finanças de mentir à comissão de inquérito quando disse, depois de questionado por deputados do PSD, que nunca teve qualquer intervenção para promover um candidato em particular à compra do Banif, neste caso, o Santander. O deputado Luís Marques Guedes citou um email da presidente do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu, onde esta diz que recebeu um telefonema de Mário Centeno e de Vítor Constâncio, atual vice-presidente do BCE, a pedirem-lhe para desbloquear a proposta do Santander Totta junto da Comissão Europeia.
Este email, cujo destinatário não é conhecido, foi enviado por Daniéle Nouy na manhã de sábado dia 19 de dezembro, um dia antes de ser conhecida a medida de resolução aplicada ao banco.
PS: é um incidente para desviar as atenções de Maria Luís Albuquerque
O PS reagiu ao caso acusando o PSD de inventar incidentes e de acusar o ministro das Finanças de mentir só para desviar as atenções de Maria Luís Albuquerque, depois de notícias esta semana darem conta de uma proposta de 700 milhões pelo banco que a anterior ministra não aceitou.
O deputado socialista João Galamba diz que “o PSD vem criar a enésima cortina de fumo nesta comissão de inquérito, inventando incidentes atrás de incidentes, encontrando agora um alegado favorecimento do senhor ministro das Finanças ao Santander”. Segundo o parlamentar, “esta alegação não tem qualquer fundamento, uma vez que o próprio email, já conhecido, desse sábado de manhã, diz ao governo português para nem sequer olhar para outras propostas, o que mostra que se houve alguém que tentou sempre alargar o numero de propostas foi o Governo português”.
O deputado socialista vai mais longe e diz que a “principal razão” para a conferência de imprensa é de “desvalorizar ou apagar os incidentes em torno da ex-ministra das Finanças”.
Para o PS, o conhecimento dessa alegada proposta de 700 milhões para a compra do banco é que seria uma razão para uma chamada de urgência à comissão de inquérito, mas para ouvir Maria Luís Albuquerque, algo que dizem que não vão fazer para já, uma vez que a ministra será chamada mais tarde no processo para ser novamente ouvida na comissão.
PCP dá o benefício da dúvida a Mário Centeno e ataca PSD. Bloco não comenta
Do lado do PCP a posição é clara: o ministro das Finanças deve ir ao Parlamento prestar todos esclarecimentos que forem necessários. Ainda assim, os comunistas consideram que esta informação avançada pelos sociais-democratas não significa necessariamente que Centeno mentiu na comissão de inquérito ao caso Banif. Mais: não têm dúvidas de que se trata de uma manobra do PSD para tentar desviar as atenções do essencial.
É isso que começa por dizer o deputado comunista Miguel Tiago ao Observador. “O PSD quer tentar fazer passar a ideia de que tudo ficou decidido no dia 18 e apagar os dois anos que nos conduziram até aqui”. Não é de estranhar, por isso, que o PSD só “esteja interessado em discutir a notícia da TVI e a interferência ou não de Mário Centeno” na escolha do comprador do Banif. Tudo, precisamente, para se tentar desresponsabilizar, continua o comunista.
E mesmo que tenha existido esse contacto, concede o deputado do PCP, tal “não significa necessariamente que Mário Centeno mentiu na Comissão”.
Miguel Tiago lembra que o email em questão é dia 18, altura em que a solução Santander “já tinha sido imposta” pelas instituições europeias. Pode ter-se dado o caso de, perante a limitação de opções, Mário Centeno ter pedido simplesmente para “desbloquear a única solução que ainda estava em cima da mesa”. Isso não significa que o ministro das Finanças tenha forçosamente intercedido por qualquer comprador, conclui o deputado comunista.
O Bloco de Esquerda, para já, não comenta esta polémica, alegando que vai esperar que o ministro das Finanças fale primeiro.
*Artigo atualizado às 21h20 com a posição do PCP