Por incrível que pareça, a série Pokémon comemorou recentemente duas décadas de idade. Aquele que foi um dos maiores fenómenos às escala global conta com dezenas de jogos lançados, uma série de animação que dura até aos dias de hoje, mais de uma dezena de filmes, merchandise incontável e muitos, muitos milhões nos cofres da Nintendo.
Tentar fazer frente à dimensão da série Pokémon é uma tarefa que muitas companhias tentaram, mas nenhuma conseguiu, nem mesmo Digimon, que apesar da dimensão global que possui, nunca conseguiu sequer fazer tremer o impacto da marca da Nintendo. É verdade que parte do sucesso de Pokémon se deve à fórmula de multi-exposição da marca entre os jogos, o merchandising e a TV, apresentando um grande peso em diversas gerações através da persistência e da evolução do seu mundo.
As primeiras tentativas de sucesso
O estúdio LEVEL-5 surgiu no Japão em 1998, em pleno apogeu do impacto comercial de Pokémon. Apesar de não ter exclusividade com a Nintendo, desde cedo que começou a desenvolver séries para as consolas da gigante nipónica, no qual Professor Layton, a genial série de puzzles e de lógica se tornou um verdadeiro sucesso comercial e crítico, e onde os seus personagens animados e o enredo muito ligado aos clássicos de investigação (como Sherlock Holmes) ajudaram a torná-lo uma série partilhada por toda a família.
Entre a parceria com o aclamado Estúdio Ghibli na série de jogos Ni No Kuni e as tentativas de recriar a fórmula de Pokémon com planos de ataque múltiplos entre séries de animação para a TV e videojogos com as séries de sucesso de futebol Inazuma Eleven (ao bom estilo do velhinho Captain Tsubasa que todos vimos em pequenos) e a série de robots LBX, houve muito que o estúdio LEVEl-5 aprendeu. Mas se me disserem que havia expectativa para o sucesso arrebatador de Yo-Kai Watch, eu não acredito.
O fenómeno Yo-Kai Watch
Lançado em 2013, Yo –Kai Watch lembra, em muito, a série Pokémon, com as centenas de simpáticas criaturas para colecionar que possui. Apesar do conceito no papel parecer tétrico, em Yo-Kai Watch o protagonista tem um dispositivo que lhe permite ver Yo-Kai (os fantasmas ou assombrações do folclore japonês). Mas tendo em conta a larga experiência da LEVEl-5 no público infanto-juvenil, Yo-Kai Watch não tem nada de assustador no enredo, sendo quase todo o desenrolar da história de uma tremenda diversão.
Em Yo-Kai Watch conseguimos perceber que grande parte dos problemas quotidianos dos habitantes da pequena cidade japonesa onde vivemos se devem a assombrações. Entre a animosidade dos “nossos” pais que são causadas pela pobre Yo-Kai que tem saudades do namorado, passando por colegas de escola que não se conseguem concentrar devido à ação de um fantasma próximo, a nossa missão é quase a de um detetive juvenil, ao bom estilo dos livros do género que povoaram o nosso crescimento. Cabe-nos resolver os mistérios que circundam a cidade, combatendo os fantasmas que assombram os incautos habitantes.
Há uma grande carga pedagógica pelo meio de todo o humor e a componente de detetive sobrenatural infantil. Existe por exemplo um Yo-Kai que nos pune sempre que que atravessamos a estrada com o sinal vermelho para peões.
10 milhões de cópias vendidas depois
Segundo dados divulgados em dezembro de 2015, a série exclusiva da Nintendo 3Ds já vendeu 10 milhões de cópias, o que é um facto verdadeiramente surpreendente, especialmente se tivermos em conta que apenas em novembro chegou ao Ocidente (aos EUA) e só na próxima semana será oficialmente lançado na Europa. Adicionando a esses números o bilião de receitas em merchandising amealhado pela LEVEL-5 e pela Nintendo, este é de certeza um presságio da procura de brinquedos e jogos que as crianças portuguesas passarão a ter em pouco tempo. No Japão, o segundo filme de Yo-Kai Watch, estreado a 19 de dezembro, ultrapassou as receitas de bilheteira de Star Wars: the Force Awakens.
Com uma série de animação a ser estreada em Portugal dia 16 de maio, através do canal Cartoon Network, é certo que o fenómeno que dominou comercialmente o Japão, e cujo sucesso se alastrou de imediato para o Ocidente com o lançamento do jogo nos EUA, terá o mesmo impacto na Europa. E nós que já andamos há semanas a jogar o jogo ininterruptamente podemos atestar: apesar do público-alvo de Yo-Kai Watch ser o infantojuvenil, existe aqui um tremendo potencial para ser jogado em família. Com mecânicas muito simples baseadas em minijogos no ecrã tátil ao bom estilo dos jogos de telemóvel, Yo-Kai Watch é acessível para qualquer jogador a partir dos 6 anos.
Depois do sucesso do segundo rato mais famoso de sempre, de certeza que o gato vermelho de Yo-Kai Watch será uma figura reconhecida por todos os pais portugueses em poucas semanas.
Ricardo Correia, Rubber Chicken