Na quinta-feira, Nigel Farage, líder do UK Independence Party, o partido eurocético de direita, apostou mil libras no Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia. Se, dentro de 17 dias, a 23 de junho, a votação do referendo lhe der razão, Farage, antigo corretor de mercados de mercadorias e atual membro do Parlamento Europeu, receberá 3.500 libras, um retorno de 250%.

Farage “pôs o [seu] dinheiro onde está a boca” — a expressão idiomática usada pelo próprio, que fica bem melhor em inglês do que na tradução.

Horas antes, saía a notícia de que duas sondagens apontavam para uma vitória do Brexit no referendo. “As probabilidades estão a mover-se a nosso favor e estou muito confiante de que regressarei [à casa de apostas] após o referendo para recolher os meus ganhos”, disse Farage aos jornalistas. A mesma tendência — favorável ao Brexit — foi demonstrada por duas sondagens online publicadas durante o fim de semana. A campanha pelo Brexit parece estar em alta.

Recentemente, também, dois terços dos leitores registados no jornal The Daily Telegraph indicaram que votariam pela saída. O registo é ainda mais surpreendente porque o Telegraph é visto como um jornal tendencialmente mais conservador — e o líder dos Conservadores, David Cameron, pede o voto na permanência.

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Sobretudo as sondagens feitas pela Internet parecem mais favoráveis à saída da União Europeia, ao passo que as consultas por telefone dão vantagem ao Ficar. Mas uma coisa são sondagens ou estudos de opinião, outra coisa bem diferente são previsões de casas de apostas. O que dizem umas e outras, sobre o acontecimento do ano na Europa?

Embora o retorno potencial de Nigel Farage seja elevado, é muito mais provável que o Ficar vença, segundo as cotações das casas de apostas. A probabilidade implícita do Ficar é de 70%, na média das casas de apostas, daí que Farage tenha hipóteses de mais que triplicar a sua aposta.

Casas de apostas apontam para vitória do Ficar
As cotações das apostas no referendo à manutenção do Reino Unido na União Europeia indicam que a probabilidade de o Ficar ganhar é, em média, de 70%.
Casa de apostas Cotações Probabilidade implícita
Ficar Sair Ficar Sair
888 1/3 11/5 71% 29%
32Red Sport 1/3 11/5 71% 29%
Bet Victor 1/3 9/4 71% 29%
Betfair 1/3 23/10 71% 29%
Betway 1/3 9/4 71% 29%
BoyleSports 1/3 23/10 71% 29%
Sportingbet 1/3 9/4 71% 29%
Unibet 1/3 11/5 71% 29%
Bet 365 4/11 11/5 70% 30%
Betfred 4/11 9/4 70% 30%
Coral 4/11 9/4 70% 30%
Matchbook 2/5 11/5 70% 30%
Paddy Power 4/11 11/5 70% 30%
Sky Bet 4/11 9/4 70% 30%
Totesport 4/11 9/4 70% 30%
Ladbrokes 4/11 2/1 69% 31%
Stan James 1/3 2/1 69% 31%
William Hill 4/11 2/1 69% 31%
Winner 4/11 2/1 69% 31%
Betdaq 4/11 7/5 64% 36%
Fonte: Oddschecker.com a 6 de junho de 2016 às 10h00. Cálculos: Observador.

Além das apostas desportivas, as casas de jogo no Reino Unido, incluindo as que funcionam através da Internet, aceitam apostas sobre eventos políticos. A Betclic, que recebeu a primeira licença para apostar através da Internet em Portugal, não tem apostas políticas.

A forma como as casas de apostas definem as probabilidades de um dado acontecimento resulta de uma avaliação, por parte das empresas, das intenções apostadoras num sentido ou no outro. Trata-se de um mecanismo normal de mercado, em que as casas tentam, à luz das notícias, atribuir as chamadas odds que definem aquilo que custa apostar e aquilo que se pode receber em caso de vitória.

“Deve o Reino Unido continuar a ser um membro da União Europeia ou sair da União Europeia?” (esta é a pergunta que será colocada aos britânicos)

Longe das sondagens

Não é de agora que a probabilidade de o Ficar vencer é elevada nas casas de apostas. Desde que a Ladbrokes, a casa onde Nigel Farage aplicou as suas mil libras, lançou o referendo no seu sistema de apostas, a probabilidade implícita do Ficar nunca foi inferior a 60%.

Probabilidade implícita nas cotações da Ladbrokes para o resultado do referendo à manutenção do Reino Unido na União Europeia.

Probabilidade implícita nas cotações da Ladbrokes para o resultado do referendo à manutenção do Reino Unido na União Europeia.

Segundo notícia do Express, os funcionários das casas de apostas não têm tido mãos a medir, inundados com apostas na saída. O jornal diz que “milhões de libras” foram aplicadas em apostas nos últimos dias, com uma das casas de apostas contactadas pelo jornal a indicar que quatro em cada cinco apostas são no Sair.

Tem sido mais constante o cenário traçado pelas casas de apostas do que pelas sondagens. Se nas casas de apostas, como se vê no gráfico, o Sim à permanência nunca saiu da liderança, as sondagens têm oscilado mais.

Foi esta divergência que suscitou a curiosidade dos economistas do Commerzbank, que num relatório de análise recente começa por lembrar que fazer sondagens não é fácil e que basta olhar para o resultado de David Cameron nas eleições do ano passado (tão impressionante quanto inesperado) para comprovar isso mesmo.

O facto de a generalidade das sondagens, atualmente, serem feitas por telefone fixo e online, em alguns casos atribuindo-se depois ponderações para tentar simular a população global, aumenta o risco de erro nas projeções. Além disso, há a questão geracional: “Os defensores do Ficar sabem que têm de continuar a ter bons resultados nas sondagens, porque não podem presumir que haverá uma grande percentagem de jovens [que tendem a participar mais em consultas online] a deslocarem-se às urnas e a garantirem que o Ficar vence”, diz o Commerzbank.

O conselho do banco alemão para quem defende Ficar é simples: “Nada de complacência“. Apesar do que dizem as casas de apostas, e mesmo que seja baixa a abstenção, a vitória do Ficar não está no papo. “Não devemos deixar sermos apanhados em contrapé pelas probabilidades que estão a ser definidas pelas casas de apostas”, diz o Commerzbank, sublinhando que a queda recente do valor da libra nos mercados cambiais demonstra que os investidores continuam nervosos.

“A votação deverá ser muito renhida e, com dois debates cruciais, a 15 e 21 de junho, ainda há um grande risco de novas reviravoltas”, avisa o banco alemão.