Assumidamente nacionalistas, eurocéticos, anti-imigração, pelo Brexit. Para os críticos, são racistas, islamofóbicos, ultraviolentos, fascistas. Eleitoralmente, são praticamente irrelevantes. Nas redes sociais, colecionam milhões de seguidores. Esta quinta-feira, ficaram inevitavelmente associados ao homicídio de Jo Cox, defensora acérrima da permanência do Reino Unido na União Europeia — segundo várias testemunhas, o atirador terá gritado repetidamente “Britain First” enquanto atingia a deputada. O líder Paul Golding já se apressou a negar qualquer ligação à morte da deputada inglesa. Mas o passado violento persegue o partido.
Criado em 2011, por antigos membros do Partido Nacionalista Britânico (BNP), o Britain First reúne praticamente todos os elementos da extrema-direita ultra-radical. Tem, inclusive, um braço quase paramilitar — “Britain First Defence Force — famoso pelas suas “Patrulhas Cristãs”, em que os membros usam uniformes verdes, carregam cruzes brancas e gritam slogans anti-islâmicos.
Conhecidas ficaram também as invasões a mesquitas protagonizadas por este grupo, ainda em 2014, no sul de Londres. Numa dessas ações, distribuíram bíblias, exigiram a remoção dos sinais “sexistas” que distinguiam as entradas que deveriam ser usadas por homens e mulheres e recusaram-se tirar os sapatos. “Somos o Britain First, ok? Nós rejeitamos os vossos símbolos sexistas. Neste país defendemos a igualdade [de género]. Quando vocês respeitarem as mulheres, nós vamos respeitar as vossas mesquitas”, atirou Paul Golding, quando confrontado pelo líder religioso.
Vídeo publicado originalmente pelo Independent
As invasões às mesquitas valeram, inclusive, o afastamento de um dos fundadores do partido. James Dowson considerou estas invasões “inaceitáveis e anticristãs” — uma “loucura política”. “A maioria dos muçulmanos neste país está bem. Eles estão tão preocupados com o extremismo como nós. Por isso, ir às mesquitas para os provocar é uma loucura política e muito rude”, disse na altura o fundador do partido. Depois, afastou-se.
Daí para cá, o partido tem sido liderado com mão de ferro por Paul Golding, bem conhecido pelas autoridades inglesas e cujo currículo está manchado por várias detenções. Mas, e apesar destas ações, o partido sempre recusou o epíteto de islamofóbico.
Imagens do líder Paul Golding no campo de treinos do partido
“O Britain First não é contra os muçulmanos como indivíduos, mas é contra a doutrina e a religião islâmica como uma ideologia. A doutrina do Corão promove o ódio, a violência e a intolerância contra os não-muçulmanos. A jihad é o assunto mais abordado no Corão. As mulheres são oprimidas pelo Islão. Os homossexuais são sujeitos à pena de morte. As crianças são forçadas a casar. A sharia promove apedrejamentos e amputações”… Os argumentos são vários e estão explicados no site da organização.
Apesar de ser o partido britânico com mais seguidores nas redes sociais — têm mais de 1 milhão de likes no Facebook — são, até ver, eleitoralmente irrelevantes. Nas eleições europeias de 2014, decidiram concorrer apenas na Escócia e no País de Gales e, em ambos os casos, não ultrapassaram os 2% dos votos. Nas eleições para a Câmara de Londres, o resultado não foi muito diferente: pouco mais de 31 mil eleitores, 1,2% dos votos.
Na tomada de posse do novo Mayor de Londres, Sadiq Khan, muçulmano e filho de imigrantes paquistaneses, Paul Golding virou as costas, em sinal de protesto.
Esta quarta-feira, como lembra o jornal britânico Independent, o partido decidiu partilhar um vídeo com algumas imagens do campo de treino do grupo.
O perfil anti-imigração é outro dos traços mais marcantes deste partido. Como explica o mesmo jornal, o Britain First tem procurado cavalgar a crise dos refugiados, através de uma propaganda assente no medo.
Jo Cox era um dos rostos mais conhecidos na defesa pelo acolhimento de refugiados sírios e pela permanência do Reino Unido na União Europeia. E, aqui, os destinos do Britain First e da deputada inglesa voltam a cruzar-se: segundo os vários relatos recolhidos, o atacante terá gritado “Britain First”.
Paul Golding apressou-se a negar qualquer ligação ao caso. Num comunicado gravado em vídeo e publicado no site do partido, Golding garante que o partido “não está envolvido [no crime], nem encoraja qualquer comportamento deste género”. E deixa várias questões em aberto: “Nós estamos no meio de uma campanha para o referendo. Estaria o atirador a referir-se a uma organização. Estaria a referir-se a um slogan? Estaria a gritar apenas: ‘É altura de pormos o Reino Unido em primeiro lugar?”. Quando ainda se desconhecem as motivações do crime, são várias as perguntas em aberto.