Não é surpresa. No sábado, dois dias depois do juiz Carlos Alexandre ter concedido uma entrevista à SIC, José Sócrates — sentindo-se visado pela declarações do juiz responsável pela Operação Marquês, o qual acusa de “abuso” de poder — escreveu um artigo de opinião no DN onde assumia: “Dei instruções aos meus advogados para apresentarem as respetivas queixas aos órgãos judiciais competentes.”
O artigo de opinião foi publicado sábado. Esta quarta-feira deu entrada no Tribunal da Relação de Lisboa um pedido de recusa do juiz Carlos Alexandre, interposto por José Sócrates. Enquanto este pedido estiver a ser analisado pela Relação, Carlos Alexandre fica impedido de tomar qualquer decisão na Operação Marquês.
Em curso está igualmente uma avaliação do Conselho Superior da Magistratura (CSM), órgão disciplinar dos juízes, à entrevista do juiz de instrução criminal do caso Sócrates. O Correio da Manhã noticiou esta quarta-feira que caso o CSM opte por um inquérito disciplinar, Carlos Alexandre poderá pedir escusa de todos os processos que tem em mãos (incluindo os da operação Marquês). Nesse caso, o caso Sócrates passaria para as mãos do juiz Ivo Rosa.
Num e noutro caso, estão em causa as afirmações de Carlos Alexandre, que, sem nunca se referir a José Sócrates, afirmou não ter “dinheiro em nome de amigos nem contas bancária em nome de amigos” — o que foi entendido como uma referência ao ex-primeiro ministro e à sua relação com Carlos Santos Silva.
O dever de reserva impede os juízes de comentar os casos que estão a julgar, mas não os impede de falar da sua vida privada. À TSF, a presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, Manuela Paupério, afirmou não ver na entrevista de Carlos Alexandre a violação deste dever de reserva: “Creio, sinceramente, nunca esteve na mente do colega aludir a coisa nenhuma”.
Neste momento, a Operação Marquês conta com mais de 30 mil folhas, cinco milhões de ficheiro informáticos e 13 arguidos, entre eles José Sócrates.