Depois das falhas no caso suspeito de ébola no Porto, – a doente deslocou-se pelo próprio pé ao Hospital S. João, quando devia ter ligado para a linha Saúde 24 – Francisco George, diretor geral da saúde, confirmou que os hospitais estão a rever os protocolos para doenças infetocontagiosas, escreve esta terça-feira o Jornal de Notícias (JN). Segundo o mesmo jornal, as salas de isolamento, criadas para lidar com a epidemia da gripe A, estão a ser reativadas.

Referindo-se ao caso suspeito, Francisco George disse que este tem “uma dimensão pedagógica para percebermos que há cidadãos que não usam a linha Saúde 24”. O diretor geral da saúde chamou ainda a atenção para a necessidade de não se confundir a gripe com ébola. “É preciso usar os critérios epidemiológicos e saber onde o doente esteve e quando”.

A doente, uma portuguesa de 45 anos, apresentava febre e outros sintomas clínicos, mas, para além disso, tinha viajado recentemente de um país de África onde já foram registados casos de ébola. A doente esteve primeiro num hospital privado, deslocando-se depois ao S. João. Apesar disso, segundo as indicações da Direção Geral de Saúde, só devia ter sido transportada para o hospital de referência (neste caso, o S. João, no Porto) numa das ambulâncias do INEM equipadas para o efeito.

Segundo o Jornal de Notícias, no Centro Hospitalar de Alto Ave estão a ser realizadas ações de formação e simulacros para rever os protocolos. O setor privado foi convocado de emergência para uma reunião do Conselho Nacional de Saúde Pública na quarta-feira, onde deverá ser anunciado o “plano nacional de comunicação”.

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Artur Osório, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, não escondeu algumas críticas. “Não há diretrizes muito seguras da Direção Geral de Saúde (DGS) sobre esta matéria. Há uma orientação genérica com os sintomas do ébola e os procedimentos a adotar pelas unidades de saúde no sentido de reencaminhar os doentes para os hospitais de referência (S. João, Curry Cabral e D. Estefânia), mas os hospitais privados nem têm material apropriado para lidar com este tipo de situações, nem deram formação aos profissionais”, disse ao Observador. Em resposta, Francisco George, citado pelo JN, defendeu que as normas da DGS estão publicadas e aplicam-se tanto ao público como ao privado.

O Público escreve que o caso do Porto foi o quinto caso suspeito de ébola em Portugal, depois de em agosto, setembro e no início do mês de outubro ter sido feito o despiste do vírus em três doentes que passaram pelo Hospital Curry Cabral, em Lisboa. Num outro caso, não houve tratamento hospitalar. Todos os casos deram negativo para o ébola (três dos doentes tinham malária e um sofria de febre tifóide). A diferença, explica o jornal, está no facto de o Hospital de S. João ter admitido, em comunicado, que tinha um caso suspeito internado antes de saber os resultados das análises, que acabaram por se revelar negativos.

Nos Estados Unidos também se discute se o protocolo para lidar com o ébola é o mais adequado, depois da transmissão do vírus a uma enfermeira do Dallas que tratou um doente liberiano. Desconhece-se ainda como ocorreu o contágio, uma vez que a enfermeira usou um fato e uma máscara. Mas o Centro para Controlo e Prevenção de Doenças, dos EUA, disse que durante o tratamento de Thomas Eric Duncan, o liberiano infetado, o hospital de Dallas, não seguiu corretamente o protocolo, apesar de não revelar quais foram as falhas específicas. Aqui podem ser consultadas as recomendações do Centro para Controlo e Prevenção de Doenças para os profissionais de saúde que lidem com o ébola.

Tanto ao nível estatal, como ao nível federal, as autoridades de saúde estão a analisar se os equipamentos e os procedimentos foram seguidos à risca e se são necessários passos adicionais de descontaminação quando os profissionais de saúde deixam as unidades de isolamento, escreve o New York Times. O equipamento usado está a ser reavaliado e as equipas estão a receber treino especial. Alguns especialistas recomendam que os doentes devem ser transferidos para centros hospitalares especialistas no tratamento do ébola.