O equipamento de proteção individual que existe nos hospitais, como o próprio nome indica, serve para proteger os profissionais dos riscos associados à profissão. No caso do ébola há equipamentos específicos de proteção reforçada, como os escafandros. Acontece que há hospitais privados que não têm material apropriado para os profissionais utilizarem caso venham a receber pela porta das urgências um caso suspeito de ébola. E os profissionais também não receberam formação.

“Não há diretrizes muito seguras da Direção Geral de Saúde (DGS) sobre esta matéria. Há uma orientação genérica com os sintomas do ébola e os procedimentos a adotar pelas unidades de saúde no sentido de reencaminhar os doentes para os hospitais de referência (S. João, Curry Cabral e D. Estefânia), mas os hospitais privados nem têm material apropriado para lidar com este tipo de situações, nem deram formação aos profissionais”, denunciou ao Observador Artur Osório, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) que, embora não esteja muito preocupado com o assunto, entende que “é preciso termos profissionais de saúde bem instruídos”.

“Os hospitais privados nem têm material apropriado para lidar com este tipo de situações”

Questionado sobre o caso concreto do Hospital da Luz, que tem equipamento de proteção individual apropriado, Artur Osório referiu que partiu da iniciativa do próprio hospital e que se deve ao facto de “estar mais exposto” a eventuais casos suspeitos. “Pelo menos no Porto os hospitais privados não têm material, nem deram formação”, reafirmou.

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O problema, diz Artur Osório, deverá ser atenuado esta quarta-feira, dia em que os privados vão receber “orientações em relação ao material e à formação a dar aos profissionais”.

Também os hospitais públicos, que não os de referência, não receberam orientações precisas sobre que formação dar e como dar. E mesmo quem já teve formação está com receio e reclama mais formação prática, designadamente a vestir e a despir os escafandros.

O percurso incerto da doente que chegou ao S. João pelo próprio pé

Mas mesmo os hospitais que não tiveram formação, receberam orientações da DGS sobre como proceder quando recebem um doente suspeito de ébola. O doente é logo isolado e transportado pelo INEM para um dos hospitais de referência.

Esta é a orientação e deve ser a regra, mas já começaram as exceções. Terá sido o caso da doente que, no domingo, chegou às urgências do Hospital de S. João, no Porto, pelo próprio pé, depois de ter ido a uma unidade de saúde privada.

O Observador tentou reconstruir os passos da paciente antes da mesma ter dado entrada no S. João, mas revelou-se uma tarefa complicada. Contactado várias vezes, o gabinete de imprensa do hospital do Porto não prestou qualquer informação. Já o assessor do Ministério da Saúde reencaminhou a questão para a DGS. Por sua vez, o diretor geral de saúde, Francisco George, confirmou que “a montante do S. João houve uma falha no protocolo, mas não foi muito grande” e uma falha “dos dois”, ou seja, da unidade privada e da paciente que “não ligou para a linha Saúde 24”. “Mas o assunto está a ser investigado”, rematou à pressa Francisco George.

Artur Osório disse ao Observador que contactou “vários hospitais privados na zona do Porto e nenhum tem conhecimento de ter recebido uma utente com essas características”.