Nova Iorque adormeceu em sobressalto. Perto das 20h30 (1h30 da madrugada deste domingo, em Lisboa), uma forte explosão fez-se sentir na rua 23 no bairro residencial de Chelsea, no centro de Manhattan. Pelo menos 29 pessoas ficaram feridas, com escoriações mais ou menos ligeiras, sendo que uma delas sofreu uma perfuração e chegou a ficar em estado mais grave. Neste momento, já todos os feridos tiveram alta.
Nenhuma organização reivindicou o ataque e o presidente da câmara de Nova Iorque, assim como o governador, afastam para já eventuais ligações a atos terroristas. Certo é que foi encontrado um outro dispositivo e descarta-se a teoria de explosão acidental: “Foi um ato intencional”, disse o mayor.
O governador do estado de Nova Iorque disse entretanto aos jornalistas que se trata de um “ato terrorista” mas rejeita ligações a organizações de terrorismo internacionais.
Mas há muitos dados que ainda não se sabem: quem foi o responsável pela explosão; porque foi escolhido aquele bairro; qual o motivo por detrás da explosão; se tem ou não ligações a organizações terroristas ou se foi um ato isolado; que tipo de engenho estava no caixote do lixo que explodiu; o que estava dentro da panela de pressão que foi entretanto encontrada. A investigação ainda está em curso.
O que já se sabe então?
Onde foi a primeira explosão?
Foi no bairro residencial de Chelsea, mais precisamente na Rua 23, entre a Sexta e a Sétima Avenida. Segundo o comissário da polícia de Nova Iorque, James P. O’Neill, a explosão teve origem num caixote do lixo colocado no passeio, sendo que se acredita ter sido causada por uma bomba caseira. Não se conhecem contudo mais pormenores sobre o engenho. Testemunhas entretanto citadas pela comunicação social falam numa explosão que soou como “um vulcão” ou “um trovão”. Quem estava nas redondezas começou a correr imediatamente.
O bairro de Chelsea é um bairro histórico residencial de Manhattan a apenas um quarteirão do Empire State Building, e delimitado a norte pelo bairro de Hell’s Kitchen. Quase inteiramente residencial, e com uma vasta diversidade étnica e social, a parte ocidental do bairro de Chelsea tem-se tornado num centro de arte de Nova Iorque, com muita galerias a localizarem-se naquela zona.
Onde foi encontrado o segundo dispositivo?
Cerca de três horas depois, na Rua 27, entre a Avenida das Américas e a Sétima Avenida, foi encontrada uma panela de pressão ligada a um telemóvel. As autoridades já confirmaram a autenticidade da imagem que começou a circular nas redes sociais. O engenho foi desmantelado. Este tipo de dispositivos em panelas de pressão foi utilizado pelos bombistas que, em 2013, protagonizaram o ataque mortífero na Maratona de Boston. Este é, para já, o único ponto em comum do incidente desta noite com outros ataques terroristas.
https://twitter.com/NYCityAlerts/status/777365213914001409?ref_src=twsrc%5Etfw
De acordo com relatos do New York Times, o departamento de bombas da polícia de Nova Iorque removeu o engenho por volta das 2h25 locais (7h25 em Lisboa). O dispositivo foi entretanto enviado para um departamento especializado, para ser analisado por robots.
Há vítimas? Qual a gravidade dos ferimentos?
Não há vítimas mortais. Foram confirmados 29 feridos, a maioria com escoriações em resultado dos estilhaços provocados pela explosão. Um homem chegou a ser levado para o hospital com ferimentos de maior gravidade na sequência de uma perfuração, mas já todos os feridos tiveram alta.
Foi um atentado terrorista?
Não se sabe, mas para já não há indícios de que exista alguma ligação a organizações terroristas internacionais. Esta tarde, o governador do estado de Nova Iorque, Andrew Cuomo, afirmou em declarações aos jornalistas no local da explosão que se tratou de um “ato de terrorismo”, mas não foram identificadas quaisquer ligações a grupos terroristas como o Estado Islâmico.
“Depende de como consideramos a definição de terrorismo: uma bomba a explodir em Nova Iorque é um ato de terrorismo, e é dessa forma que o caso está a ser investigado e será julgado. Mas o ato não foi reivindicado por organizações terroristas internacionais”, disse Cuomo.
Antes, o mayor (presidente da câmara) de Nova Iorque tinha estado no local da explosão durante a noite e, numa conferência de imprensa, já tinha reforçado várias vezes que não existe uma “ameaça específica e credível contra a cidade de Nova Iorque de nenhuma organização terrorista”. “Não há indícios, neste momento, de uma ligação terrorista a este incidente. Esta é uma informação preliminar”, disse Bill de Blasio.
Mas também deixou claro que, apesar de não se conhecerem os motivos, não se tratou de nenhuma fuga de gás ou qualquer ato acidental. “Acreditamos que foi um ato intencional”, disse o mayor.
Já foram identificados suspeitos?
Não há suspeitos sob custódia policial. O comissário policial James P. O’Neill disse que a polícia estava a analisar todas as imagens captadas por câmaras de vigilância da zona e a pedir inclusivamente às pessoas que tenham captado imagens com os seus telemóveis para as fazerem chegar às autoridades. Qualquer dica ou relato está a ser contabilizado, disse. “Ainda estamos a tentar perceber o que aconteceu”.
Tem alguma coisa a ver com a explosão em Nova Jérsia?
Na manhã de sábado, por volta das 9h30 locais, uma outra explosão semelhante, sem feridos nem danos materiais, tinha ocorrido em Nova Jérsia, estado vizinho de Nova Iorque, na localidade de Seaside Park. Tratou-se de um engenho improvisado, colocado também num caixote do lixo, mas as autoridades de Nova Iorque já disseram que não há relações aparentes entre os dois incidentes.
Como é que o tema entrou na campanha presidencial?
Muitos souberam da notícia pelo candidato presidencial Donald Trump, que anunciou que “uma bomba explodiu” em Nova Iorque assim que o seu avião aterrou no Colorado para mais uma ação de campanha. Ainda nem as autoridades tinham confirmado o incidente e já Trump fazia o discurso do medo, dizendo que o estado do mundo e do país obrigam a medidas “duras”. “É terrível o que se está a passar no nosso mundo e no nosso país e por isso é melhor que estejamos fortes, inteligentes e vigilantes”, disse.
Mais cautelosa foi Hillary Clinton, que recebeu as informações sobre a explosão pouco antes de discursar num congresso em Washington, e pediu cautela antes de se tirarem conclusões precipitadas. “É sempre mais sensato esperar até ter informações concretas, antes de tirar conclusões”, disse, num registo muito menos alarmista que o do seu opositor. As diferenças de estilo e de narrativa dos dois candidatos aparecem aqui mais uma vez vincadas.