“O furacão tem níveis. Aqui também. Ninguém vai para o abrigo no início do furacão”. Foi com esta imagem, e comparando o ébola a um furacão, que o diretor geral de saúde, Francisco George, descreveu a situação atual em Portugal, reiterando que o “risco continua a ser baixo” no País.

Questionado esta quarta-feira no Parlamento por deputados da oposição sobre o documento do colégio de especialidade de Saúde Pública, da Ordem dos Médicos, que fala num “risco teórico alto” de Portugal vir a ter ébola, Francisco George explicou que o documento é “um trabalho de um relator e que o colégio não se reuniu para apreciar aquele documento”. Além do mais, o documento toca em questões que, na opinião do diretor geral “não podem ser tidos como princípios”, na medida em que “nenhum país lusófono tem cadeias abertas de transmissão e se isso vier a acontecer muda tudo o que disse hoje” pois o “risco eleva-se”, sublinhou, apontando especialmente para a Guiné-Bissau.

Francisco George fez ainda referência à sua experiência na matéria, visto ter vivido durante 12 anos naqueles países da África Ocidental e ter “controlado epidemias desta natureza”. Contudo, destacou a “gravidade”, sem paralelo, deste surto, que está descontrolado, na Libéria, Serra Leoa e Guiné-Conacri. Francisco George lamentou ainda a falta de meios naqueles países, como camas, que obrigam os doentes a permanecer em casa e dessa forma contagiar os familiares.

Dirigentes da DGS sairão caso percam apoio do Governo ou da Assembleia

O responsável da saúde começou por dizer aos deputados presentes na audição que “se perceber em qualquer momento que a Direção Geral de Saúde (DGS), o dispositivo que tem montado ou que a equipa que está a trabalhar não tem o apoio ou a simpatia dos membros do Governo ou da Assembleia da República mudam-se os dirigentes da DGS porque não é possível trabalharmos sem ser em conjunto e não seria aceitável encontrar aqui uma disputa de correntes da maioria ou da oposição, na medida em que temos de estar juntos neste processo”.

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Francisco George explicou ainda em linhas gerais o dispositivo que está montado, referindo que neste momento não lhes passa pela cabeça dar formação a todos os profissionais ou ter todas as ambulâncias preparadas para transportar um doente com suspeita de ébola. “O que queremos e foi o que fizemos foi preparar três ambulâncias com 12 tripulantes muito bem preparados que estão em prontidão permanente sete dias por semana 24 horas por dia. Não vão seguramente cometer erros”, garantiu, frisando que “se isto correr mal, a responsabilidade é nossa”, do dispositivo de coordenação.

Controlo nos aeroportos decidido quinta-feira

Questionado ainda sobre a necessidade ou a intenção de vir a reforçar o controlo às chegadas nos aeroportos nacionais, Francisco George respondeu que o “screening à chegada vai ser apreciado esta quarta-feira na reunião do conselho”. “Mas a nossa posição, ditada pelo governo português, é fazermos medidas simplificadas consensuais desde que todos os países-membros estejam de acordo. Vamos fazer aquilo que se fará em Paris ou em Bruxelas. Seguramente, até porque é uma decisão europeia” que, recordou Francisco George, será tomada esta quinta-feira, 16 de outubro, num “conselho da União Europeia” que reunirá todos os ministros da saúde.

De lembrar que por exemplo no Reino Unido, no aeroporto de Heathrow já se iniciaram as medidas de segurança, como medição da febre, bem como o preenchimento de um questionário.