O projeto Siding Spring detetou em janeiro de 2013 o cometa que este domingo passou junto a Marte, mas há o risco de outros cometas a caminho do sistema solar não serem identificados a tempo, alerta The Guardian. O parceiro australiano do projeto – o Observatório Siding Spring, em Nova Gales do Sul – interrompeu há um ano a investigação por falta de financiamento e o parceiro norte-americano, na Universidade do Arizona, não tem como observar o céu no hemisfério sul.

Perante a possibilidade de o planeta Terra ser atingido por cometas ou asteroides a NASA (agência espacial norte-americana) estabeleceu um programa cujo objetivo era detetar astros que pudessem ameaçar o nosso planeta. Mesmo sabendo que a frequência da colisão é muito menor do que no início da história da Terra é importante saber se e quando poderá acontecer novamente, lê-se na página dedicado ao projeto. “Dadas as consequências catastróficas de uma colisão com um objeto grande seria irresponsável não levar a cabo um inventário agora.”

Mas sem fundos tornou-se impossível continuar a investigação. O financiamento vindo da NASA terminou e nem o governo australiano nem entidades privadas se mostraram interessadas em continuar a financiar o projeto. “É uma preocupação real”, disse ao Guardian Bradley Tucker, astrónomo na Universidade Nacional da Austrália. “Pode existir alguma coisa a precipitar-se contra nós neste momento e nós não sabemos.” Os objetos que passam a menos de 7,4 quilómetros da Terra ou que tenham mais de 150 metros em diâmetro constituem um risco potencial – neste momento há mais de 1.500 identificados.

Uma das colisões mais relevantes foi a queda de um asteróide há cerca de 65 milhões de anos no México, que poderá ter levado à extinção dos dinossauros. Outro evento relevante foi o meteoro de 20 metros que entrou inesperadamente na atmosfera terrestre em 2013 e caiu 30 quilómetros de Chelyabinsk na Rússia, causando 1.500 feridos.

Para Tim Spahr, astrónomo no Centro de Planetas Menores da União Astronómica Internacional, em Cambridge (Estados Unidos), sem uma vigilância no hemisfério sul, qualquer objeto que se aproxime da Terra abaixo dos 30º de latitude não será detetado, refere a revista Newscientist. Bradley Tucker alerta que os governos têm de deixar de ver este programa como um projeto académico, mas como um sistema de alerta precoce para minimizar os danos e evitar perdas de vidas humanas. “Não devia ser tomado como o problema de um país. É um problema global.”

O cometa Siding Spring, que passou este domingo a 140 mil quilómetros de Marte, é um dos 82 cometas descobertos por Robert McNaught, que conta no seu palmarés a descoberta de 475 asteroides. A identificação do cometa e da rota pelo observatório australiano, que cancelou o projeto em julho de 2013 por falta de financiamento, permitiu que a NASA escolhesse manter os satélites que tem na órbita de Marte protegidos da libertação de detritos durante a passagem do cometa.

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