Se os testes de stress do BCE tivessem utilizado dados de final de setembro, e não de dezembro de 2013, o BCP teria obtido um rácio superior a 6%, garante o presidente do banco, Nuno Amado. “Foi um exercício datado, que nos analisou no pior ano possível dado o percurso de reestruturação do banco”, diz o responsável, garantindo que o BCP está numa situação cada vez melhor, “de trimestre para trimestre”, e “preparado para servir os clientes”. Quanto a um eventual “sonho” de comprar o Novo Banco, Nuno Amado diz que “o que se passou no BES foi um pesadelo, a palavra sonho não é apropriada aqui”.

O que significa o chumbo no teste de stress para as pessoas comuns? “Eu sou uma pessoa comum e falo com pessoas comuns todos os dias. E o que digo é que o BCP é um grande banco português ao serviço dos seus clientes, que precisava de um plano de reestruturação profundo dada a situação de há uns anos”, garantiu Nuno Amado na conferência de imprensa de apresentação dos resultados trimestrais. “Estamos em melhor posição para servir os nossos clientes e estamos preparados para o fazer”, atira.

O presidente do BCP considera que os testes de stress apanharam o BCP “na pior altura possível”. Resultado justo? “Não é justo nem injusto. 2013 foi o grande ano da reestruturação e há muito pouca flexibilidade nestes exercícios” para atender a situações específicas de cada banco. O responsável garante que não vê a situação como “chumbar ou não chumbar”  “vamos incorporar o que é incorporável nos resultados e continuar a trabalhar” no plano de reestruturação do banco.

É que, pelas contas do banco, “se fosse (com dados de) hoje, estaríamos acima de 6% no exercício do BCE, mesmo no cenário adverso que foi testado pela instituição. A melhoria dos resultados nos primeiros nove meses do ano é um dos fatores a suportar essa opinião. Seria, portanto, mais do dobro face ao rácio de capital de 3% com que o banco ficaria no cenário adverso testado pelo BCE.

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“Não temos o sonho de comprar o Novo Banco”

Nuno Amado comentou ainda que o BCP “não tem o sonho de comprar o Novo Banco”. Aliás, diz o responsável, “o que aconteceu com o Banco Espírito Santo foi um pesadelo, não creio que sonho seja uma palavra certa para usar neste contexto”.

O banqueiro acrescentou que “o meu colega Fernando Ulrich (presidente executivo do BPI) tem toda a razão em olhar para a possibilidade de comprar o Novo Banco”. “O que me preocupa não é tanto quem compra mas quando compra”, diz Nuno Amado, notando que é importante que “o conselho de administração (liderado por Eduardo Stock da Cunha) seja atuante no mercado, que tome as decisões que tem de tomar. E isso está a acontecer, o que me dá tranquilidade no curto prazo”.

De resto, “é bom que o BPI esteja forte e que o BCP esteja forte, isso é bom para a economia e para a concorrência. O que é bom para o país é bom para ambos”, remata Nuno Amado.

“Não está nos nossos planos vender a unidade da Polónia”

O BCP não irá vender ativos de forma forçada só por causa do chumbo no teste de stress, diz Nuno Amado, confiante de que Frankfurt irá atender às medidas já tomadas em 2014 e a melhoria dos resultados operacionais para retificar o chumbo no teste de stress. Entre essas medidas esteve a venda da quase totalidade dos cerca de 400 milhões de euros que o banco tinha em securitizações do défice tarifário energético português, algo que penalizou os resultados do banco no exercício.

O que é “intenção clara” do conselho de administração é que não haja aumento de capital nem venda de ativos estratégicos, como a unidade na Polónia. “Ativos estratégicos são ativos estratégicos, não está nos nossos planos vender”, garante Nuno Amado. Quanto a outros ativos, não estratégicos, “tudo tem o seu preço”, afirma.

“A procura por crédito está a aumentar”

Nuno Amado deixou ainda uma palavra de otimismo sobre a evolução da economia portuguesa e da capacidade do banco de regressar aos lucros no próximo ano, isto é, 2015.

Está a abrandar o ritmo de contração da concessão de crédito pelo BCP em Portugal, o que, na opinião de Nuno Amado, acontece porque “a desalavancagem do crédito das empresas está a diminuir e a procura está a aumentar, o que é um bom sinal”. Ainda assim, será sobretudo graças às operações no estrangeiro que o BCP prevê chegar ao “ponto de equilíbrio” este ano de 2014 e, possivelmente, voltar aos lucros em 2015, antecipou Nuno Amado com otimismo moderado.

“700 sucursais chegam para cobrir o país”

O BCP diz estar “qualitativamente e quantitativamente à frente” no que diz respeito à execução do plano de reestruturação acordado com Bruxelas no âmbito do empréstimo estatal que recebeu.

“Com 700 sucursais cobre-se muito bem o país”, diz Nuno Amado. Essa é a meta. O banco já fechou 50 sucursais este ano e planeia fechar mais 20. Quanto ao número de efetivos, estava em final de setembro com 8.266 funcionários e o objetivo, acordado com Bruxelas, é chegar aos 7.500 até ao final de 2015. Este ano a descida já foi de 318 funcionários.

Para esta redução a que o BCP está obrigado, o banco tem em curso um plano de rescisões por adesão voluntária. “Estamos já no processo de aceitar uma parte relevante desses pedidos”, diz Nuno Amado, notando que “não podemos aceitar todos por razões óbvias”. Além disso, decorre um programa de reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo com “condições generosas para o momento no mercado”.