Sobe e desce as escadas, vira à direita e agora à esquerda. Vai em frente, volta atrás. São labirintos, uns atrás dos outros, os corredores que compõem a Alfândega do Porto, virada para o rio Douro que banha a cidade. Entre as quatro paredes do edifício centenário cabe um mundo, mais precisamente o do corte e costura nacional. Ao terceiro dia da 40º edição do Portugal Fashion, a morada do costume, na Invicta, encheu-se de desfiles aclamados, camarins agitados e provas consecutivas.

A coleção de Luís Onofre reflete saltos trabalhados e o uso de cristais e de pedras em diferentes modelos. © Ugo Camera

É nesse ritmo tão característico que encontramos Luís Onofre, a andar de um lado para o outro, visivelmente atrapalhado, mas de sorriso no rosto. Faltam precisamente duas horas e meia para o desfile começar, o qual vai desvendar a coleção de outono-inverno 2017-2018 do homem que gosta de pôr o público a olhar para o chão. No camarim de Onofre as roupas são, sem sombra de dúvida, personagens secundárias numa história que se conta pé ante pé. Botas de cano alto, botins e sapatos cujas solas estão adornadas com jóias e pedras saltam à vista por entre camisolas de lã, pretas e largas.

“Os saltos altos são peças de joalharia. São peças de uma dificuldade técnica muito grande, mas que dão um visual muito expressivo ao sapato”, diz Onofre ao Observador, enquanto coordena as passadas largas e seguras das suas manequins. Para esta coleção, optou por unir dois extremos: enquanto a linha feminina vai buscar inspiração à época românica, com alguns saltos a lembrar a “monumentalidade das catedrais”, a linha masculina refugia-se na ousadia do rock dos anos 1970. “A união dos estilos faz a diferença nesta coleção”, assegura, ao mesmo tempo que faz uma descrição dos materiais que acabarão por saltar para a passerelle: licra, pele de camurça, tachas, correntes, ouro francês e cristais Swarovski.

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Quem corre por gosto não cansa e Diogo Miranda também anda a passados largos no universo da moda. O designer completou 10 anos de carreira no mesmo dia em que lançou para a passerelle uma coleção que é, considerando cortes e materiais, uma ode à figura feminina, com peças de roupa a conferirem poder à mulher. Ele próprio se diz feminista.

Diogo Miranda usou e abusou de folhos e de formas exageradas que, no final, foram um elogio à figura feminina. © Ugo Camera

Exuberância, sofisticação e sensualidade são as palavras que o próprio usa para descrever as peças de proporções e volumes exagerados. Mangas XXL, folhos enormes, drapeados e laços volumosos (numa palete de cores que passa por tons de azul, preto, bege e rosa velho) são os elementos centrais de uma coleção que resulta de uma viagem ao passado. Diogo Miranda revisitou as suas criações anteriores e trouxe para o presente as peças que considera serem mais icónicas (como as leggins ou os bombers). A isso, acrescentou a essência dos anos 1980 (espelhada na maquilhagem das manequins) e inspirou-se ainda no trabalho do fotógrafo francês Guy Bourdin, que ficou para a história pelas imagens provocantes que tirava. Mas são os 10 anos de trabalho, sem tirar nem pôr, que sobressaem mais.

Num dia cheio como o de esta sexta-feira houve tempo para tantos outros desfiles: Katty Xiomara abriu o dia ao agarrar o Centro Português de Fotografia do Porto pelos cornos, à semelhança do que fez em Nova Iorque, Pé de Chumbo, Estelita Mendonça e Susana Bettencourt repetiram a proeza de Roma, com malhas e mensagens políticas a invadirem a passarelle, e Carlos Gil trouxe consigo o que já levara a Milão: fundiu o universo retro e infantil com as roupas femininas. Já Anabela Baldaque apostou em visuais complexos e intensos, construídos a partir do imaginário que está a meio caminho entre o Nepal e a Índia.

O Portugal Fashion termina este sábado, dia 25, não sem antes desfilarem mais nomes e marcas da moda nacional.