Nasceu em Moçambique, mas conta que, “depois do 25 de abril, o meu pai, que era chefe das Finanças, foi considerado ‘persona non grata’ e nós regressámos a Portugal”. Completou o quinto ano em Lisboa, trabalhou em escritórios, chegou a trabalhar com o marido na Suíça, regressou a Lisboa e fez trabalho como freelancer. Concorreu ao Banco Central Europeu e foi contratada numa semana.

“Quando cheguei ao BCE, era um problema. Tenho oito nomes e foi uma confusão. Agora sou só Maria Peres. Graça dava muitos problemas, chamavam-me Graca, porque aqui não têm ‘ç’”, recorda Maria da Graça Peres.
Chegou a Frankfurt há 14 anos. Continua a ser a única jurista portuguesa no Banco Central Europeu. Tinha 42 anos na altura em que decidiu trabalhar para uma instituição europeia. A primeira de três filhas tinha pouco mais de 18 meses

Fixou-se, primeiro, sozinha. “Nessa altura recordo-me de ir e de nem ficar 24 horas em Portugal. Apanhava as ligações mais malucas por Zurich, por Madrid. Mas tinha que ir, tinha lá uma bebé com 18 meses”, recorda ao Observador. Durante três anos, foi assim. “Houve um ano que cheguei à meia-noite de dia 24″ a Lisboa. “É tão ‘stressante’”, diz.

A mais filha mais velha nunca se juntou a Graça Peres e ao marido em Frankfurt. “Foi estudar para Itália”. A do meio rumou à cidade alemã “e estudou na international school antes de ir estudar para Inglaterra”. A mais nova das três está prestes a entrar na maioridade e é talvez a mais portuguesa das filhas de Maria da Graça Peres. “Ela gosta da nossa comida, da música, tem muita curiosidade sobre a nossa história e, como elas no verão têm férias mais compridas, mandou-as para a minha família para terem um banho de portugalidade.”

Em casa dos Peres fala-se português, porque nunca se sabe quando “o nosso emprego vai depender” dele, mas como, além disso, “falamos quatro ou cinco línguas, o problema é começar e acabar uma frase na mesma língua”, diz Maria da Graça.

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