No primeiro dia do Rock in Rio Lisboa foram cerca de 60 mil as pessoas que passaram pelo Parque da Bela Vista, números da organização. O principal responsável pela romaria era Robbie Williams, que já não atuava em Portugal desde 2003. Mas o “furacão” Ivete também fez as delícias de muita gente. A diversão e a música andaram de mãos dadas, e nem o frio estragou a festa. Eis um resumo dos principais momentos do festival, que arrancou este domingo e só termina a 1 de junho.

Cais Sodré Funk Connection (18h00)

O funk e a soul dos portugueses Cais Sodré Funk Connection animaram o final de tarde no palco Vodafone. Eram nove lá em cima, sorridentes e interativos, sempre a puxar pelo público. Foi uma atuação afinada de músicos experientes (Cool Hipnoise, Orelha Negra, banda Sérgio Godinho, e outros), que a dada altura tocaram (e muito bem) o tema “Mãe negra” de Paulo de Carvalho, mas a audiência não ligou muito, talvez devido à faixa etária do público, que adotou o funk e a soul como acepipe de dança. Não tem nada de mal, pelo contrário; valeu, bro.

Fatiotas a preto e branco, coreografias simples, e o público a alinhar sem esforço.

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Boss AC + Aurea (19h00)

Boss AC foi um dos pioneiros do hip-hop português. Filho de pais cabo verdianos, é um nome fundamental na história da música contemporânea. Aurea (Sousa) é uma voz revelação, e já no ano passado foi dar provas disso mesmo na edição brasileira do Rock in Rio. O que vimos no Rock in Rio foi um dueto inédito, não se sabia como é que ia funcionar, mas a repetição já está marcada para a edição do próximo ano, no Brasil.

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No final de tarde deste primeiro dia, ainda com o sol alto (e apesar do vento ter prejudicado a qualidade do som na segunda metade da assistência), mais de uma dúzia de elementos no palco, ora um ora outro no arranque de cada canção, conquistaram o público desde o início. Temas como “Princesa (beija-me outra vez)” de Boss AC e “Busy (for me)” de Aurea foram bem ensaiados, cruzaram-se bem as vozes e os estilos, com Aurea a fazer um pouco de spoken word, a demonstrar versatilidade. Boss AC foi um artista descontraído, facilmente se deixaram levar um pelo outro. O público gostou, e foi fácil de perceber porque são dois dos artistas mais populares da música portuguesa contemporânea. A cover de “Happy”, de Pharrell Williams, foi a cereja no topo do bolo para o público que ficou até ao final do concerto.

Silva (20h00)

Chama-se Lúcio Silva Souza mas assina apenas com Silva, e é considerado um dos grandes valores da nova música brasileira. Esteve em Portugal no final do ano passado, e estendeu o rastilho para aquilo que assistimos hoje: a confirmação de um talento pop.

Ora numa toada acústica, ora com batida electrónica, a voz suave e a melodia típica do português do Brasil, no palco uma guitarra, baixo, bateria e teclas. Tudo somado foi música para toda a gente bater o pé. Era impossível não o fazer. Também chamou ao palco o trio de metais dos Cais Sodré Funk Connection, um complemento feliz.

A hora de jantar e o frio que se fez sentir na colina do palco Vodafone talvez não tenham ajudado a conquistar o público menos avisado, mas foi, musicalmente, uma das melhores atuações deste primeiro dia.

Paloma Faith (20h30)

A atriz e cantora inglesa encheu o palco, mas nem o cenário retro de portas vermelhas (muito bonito) chegou para aquecer o público. Cantou temas dos seus três discos, apesar de a digressão do último “A Perfect Contradiction” estar em preparação. Ainda homenageou Whitney Houston, sublinhou a produção/participação no disco de Pharrell Williams, mas já todos esperavam o outro, o Robbie. Nada a fazer.

Robbie Williams (22h00)

“Let Me Entertain You”, canta Robbie mal pisa o palco, às 22h00, qual pontualidade britânica. O ex-Take That era o astro da noite e não desiludiu, mesmo se alguém veio ao engano. É que a digressão que trouxe Robbie Williams a Portugal, 11 anos depois dos concertos que deu no Pavilhão Atlântico, chama-se “Swing Both Ways”, o mesmo nome do seu décimo álbum de estúdio, lançado no final do ano passado. Juntam-se clássicos de outros tempos e sucessos recentes, como “Song 2”, dos Blur, com os maiores sucessos da carreira do músico, como “Feel”, “Come Undone” ou “Rock DJ”. Se houve quem ficasse confuso com o alinhamento, não se notou em cabeças contadas na plateia. Afinal, quem quer abandonar um concerto onde Robbie Williams canta “We Will Rock You” dos Queen, ou “Hit The Road Jack” de Ray Charles?

Robbie Williams é um entertainer. Vestido de fraque preto, não adianta dizer que está “velho e gordo”. Aos 40 anos, o britânico está em grande forma e cheio de boa disposição. “Quem vai ganhar o campeonato do mundo de futebol? Portugal? Inglaterra não é de certeza”, brinca, aparentemente pouco confiante com a sua seleção. O fã que agita lá à frente uma bandeira metade portuguesa, metade brasileira, deve ter ficado dividido. Quem não ficou dividida foi a plateia. É certo que o momento alto da noite foi atingido com “Angels”, balada que o catapultou para os picos do sucesso, em 1997. Mas não faltaram aplausos (e sing-alongs) do público com canções como “Wonderwall”, dos extintos Oasis, ou “New York, New York”, de Frank Sinatra. “And find I’m king of the hill, Top of the heap”, diz a letra de Sinatra. Segunda-feira, Robbie Williams pode acordar feliz. Foi mesmo o rei, não da montanha, mas certamente do Parque da Bela Vista.

Ivete Sangalo (00h00)

Já não é novidade, e por isso não há muito a dizer sobre esta artista brasileira. Esteve presente em todas as edições anteriores do Rock in Rio Lisboa, e este ano não faltou à festa para celebrar os 20 anos de carreira. Na passada quinta-feira, na apresentação do Rock in Rio à imprensa, Roberto Medina disse que já não havia quase ninguém para convidar que ainda não tivesse vindo tocar a Portugal, mas a verdade é que não é preciso. Ivete Sangalo é uma artista em grande forma e fórmulas assim resultam sempre. Para o ano, está cá outra vez, desta vez sem ser em festival, a 13 e 14 de março, como anunciou em pleno concerto.

Claptone (00h45)

Na “tenda” eletrónica, que na verdade é uma magnífica estrutura em forma de aranha, e onde o chão treme com a força do sub-grave, destaque para o germânico Claptone, que subiu à mesa de mistura com a habitual máscara de “bico de pássaro” – a fazer lembrar o norte-americano Khonnor. Ouviu-se uma poderosa house music, que atraiu os primeiros entusiastas da música de dança. Até essa hora, este recinto esteve completamente vazio.

DJ Ride (01h45)

Quase a fechar a noite, e já com a arena muito composta, foi a vez do português Dj Ride (Oliveiros Tomás Oliveira) provar porque detém o título de campeão do mundo de scratch. Sound designer e produtor (tem a mão no novo álbum de Capicua), regressa aos festivais com a sua técnica impressionante, que facilmente entusiasmou os mais resistentes.

Contas feitas, este domingo o Rock in Rio arrancou morno, mas é de esperar que o cartaz dos próximos dias traga mais pessoas e mais animação. Vamos cá estar para ver e ouvir. Durante o dia estivemos no Twitter com a etiqueta #ObsRiR. A partir de quinta-feira, dia 29, estamos de volta ao #rockinriolisboa (hashtag oficial). Acompanhe as nossas observações e partilhe connosco as suas.