Que não haja dúvidas. O Toyota Mirai é, na realidade, um automóvel eléctrico como os restantes. E, tal como a restante maioria dos carros eléctricos, a energia deste Mirai provém da bateria. E se está a interrogar-se: “então, o que tem de diferente este carro e porquê o hidrogénio”, podemos dizer-lhe que a explicação tem a ver com a célula de combustível. Confuso? Vai ver que é fácil de perceber.

Os veículos eléctricos alimentados por bateria são, por muito estranho que pareça, a pior solução possível – porque as baterias são caras, pesadas e levam muito tempo para carregar. Porém, à semelhança da democracia, se esta é uma solução com defeitos, as alternativas têm ainda mais.

A célula de combustível já é conhecida há dezenas de anos, tanto mais que os foguetões que levaram os primeiros seres humanos à lua eram alimentados por geradores deste tipo. A ideia da célula de combustível, que muitos denominam célula de hidrogénio (uma vez que sem ele não há célula), é relativamente simples. A água é composta por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio (e daí o H2O), sendo possível e fácil separar uns do outro. A este processo chama-se electrólise da água, mas é uma operação que consome energia, ou seja, só acontece se nós fornecermos energia para que ela aconteça. Face a esta realidade, do que é que é que os inventores da célula se lembraram: “Então, e que tal se invertermos a electrólise da água e, em vez de separarmos o hidrogénio do oxigénio, os juntarmos? Isto permitia-nos receber energia, em vez de a fornecermos.”

É exactamente este o princípio do Mirai, que em vez de transportar uma enorme bateria para alimentar o motor eléctrico, monta um pequeno acumulador, mais leve e barato (basicamente porque a energia tem de estar armazenada em algum lado para o carro possa começar a trabalhar, com apenas 1,6 kWh de capacidade, em vez dos 40 kWh de um Zoe), sendo que assim que a célula de combustível entra em funções, é ela que gera a electricidade necessária para carregar a bateria. Simples, não é?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O Toyota Mirai, que visitou Portugal pela primeira vez, tem um depósito de hidrogénio (122 litros onde cabem 5 kg de hidrogénio a uma pressão de 700 bar), e a célula de combustível encarrega-se de o associar ao oxigénio que existe no ar que respiramos, produzindo a tal electricidade, que depois se guarda na bateria. E o resultado do funcionamento da célula é, pura e simplesmente, água. E quente, que escorre pelo escape.

E aposto que agora se está a interrogar: então, se isto da célula de combustível é tão bom, porque é que andamos a carregar com as baterias? Ora aí está uma boa questão. O correcto funcionamento das células depende de uma membrana que permite a ligação dos átomos de hidrogénio ao do oxigénio, que existe no ar. A operação é simples e facilmente reproduzível em laboratório, mas já o mesmo não acontece quando é necessário reproduzi-la em série. E é aqui que entra a Toyota, sendo este um dos poucos construtores que conseguiu dominar a tecnologia e encontrar uma forma de fazer tudo isto funcionar.

O Mirai, de que já foram vendidas 3.500 unidades desde 2015, estando actualmente à venda no Japão, mas igualmente na Califórnia, Alemanha, Inglaterra, Dinamarca, Bélgica, Holanda, Suécia e Noruega – essencialmente países ou regiões onde há rede de distribuição de hidrogénio – abastece-se de hidrogénio rapidamente (entre 3 a 5 minutos), conseguindo depois gerar energia para percorrer 550 km.

A má notícia é que ainda não existem postos de carga de hidrogénio no nosso país, ainda que possam abrir dentro de uns meses, bastando para tal que o Governo abra um concurso para as gasolineiras complementarem a sua oferta de combustíveis com hidrogénio. E se o fizerem de forma exclusiva (com o primeiro a avançar com uma proposta), sendo protegidos durante 5 ou 10 anos, todas elas começavam a trabalhar nisso de imediato.

A boa notícia é que o hidrogénio se pode retirar de todo o lado, uma vez que além da água, e até da do mar, também é possível ser gerado a partir do lixo e resíduos florestais, ficando os países independentes dos produtores do petróleo e de gás natural. Ora diga lá que esta não é uma boa notícia, em que até o nosso país integraria a lista dos produtores?

Veja aqui como tudo funciona, pela mão do presidente da Toyota, Akio Toyota:

[jwplatform kys4iQx3]