A incidência da tuberculose tem vindo a diminuir nos últimos anos em Portugal – em 2013 foram notificados 2.393 casos, dos quais 2.195 eram novos casos, menos 7% do que no ano anterior -, mas nem por isso as autoridades de saúde estão menos preocupadas. É que cerca de 30% dos doentes com tuberculose apresentam fatores de risco sociais e isso merece uma atenção especial e “uma ação conjunta”, referem os especialistas no relatório “Portugal – Infeção VIH, SIDA e Tuberculose em Números 2014”, divulgado esta sexta-feira pela Direção-Geral de Saúde (DGS).

“A sua concentração nos grandes centros urbanos, a sua associação a dificuldades sociais e a diferentes comorbilidades (associação de mais de duas doenças no mesmo paciente) torna-a mais difícil de abordar, necessitando de uma ação conjunta que atue ao nível social e médico”, lê-se no relatório da DGS.

“A tuberculose está a diminuir, mas a sua persistência e o facto de estar associada a grupos mais vulneráveis, impõe que nos mantenhamos atentos e que se mantenham asseguradas as estruturas de apoio à luta contra a tuberculose”, referem os especialistas.

Os fatores de risco social mais comuns nesta população são o consumo de álcool e o consumo de drogas ilícitas, quer endovenosas quer inaladas.

Num breve retrato, atualmente, não existe nenhum distrito com alta incidência de tuberculose, embora os distritos do Porto, Lisboa e Setúbal apresentem uma incidência intermédia da doença. Porto e Lisboa são mesmo as cidades com maior incidência de tuberculose do país. A distribuição por sexo mostra que 64% dos casos de tuberculose são do sexo masculino e que a idade média dos doentes é de 48 anos. Outro dado importante é que cerca de 38% dos doentes com tuberculose tinha comorbilidades reconhecidas como de risco para a tuberculose, sendo a mais significativa a infeção por vírus de imunodeficiência humana (14,5%).

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De referir ainda que 17% dos casos de tuberculose ocorreu em doentes nascidos fora do país e há mais de dois anos em Portugal. Estima-se aliás que em 2013 a taxa de incidência de tuberculose na população estrangeira tenha sido 4,7 vezes superior à incidência nacional.

Mais tempo para ser diagnosticada

Uma outra nota importante neste relatório é aquela que dá conta de um aumento da demora média entre o início de sintomas e o diagnóstico de tuberculose, “apesar dos métodos diagnósticos serem cada vez mais rápidos”,” o que pode traduzir maior tempo entre o início de sintomas e a procura de cuidados de saúde por parte do doente, assim como uma menor suspeição de tuberculose por parte do clínico que atende o doente”, referem os especialistas.

Dos 1.114 casos com tuberculose confirmada e tratamento terminado, 931 completaram o tratamento com sucesso (83,6%), 32 interromperam o tratamento (2,9%) e 113 faleceram no decorrer do tratamento para tuberculose (10,1%).

Os especialistas deixam uma recomendação: devem ser definidos protocolos que visem o rastreio e deteção precoce de casos de tuberculose nos grupos de maior risco.