O Governo concedeu tolerância de ponto aos funcionários públicos no dia 24 de dezembro e deu ainda a hipótese destes escolherem mais um dia para ficar em casa: 26, 31 ou 2 de dezembro. Resultado: muitos centros de saúde fecharam na semana passada, o que fez com que as pessoas corressem às urgências hospitalares. Essa é uma das explicações avançadas pelo porta-voz do Hospital Amadora-Sintra para justificar os tempos de espera superiores a 20 horas.
“Os centros de saúde fecharam de quarta-feira a domingo e isso levou a esta anormalidade da procura”, apontou o assessor do Amadora-Sintra ao Observador. E esta semana “vão voltar a fechar”, lembrou.
Em apenas dois dias – 25 e 26 de dezembro – chegaram às urgências desta unidade hospitalar 980 doentes, mais do dobro do que é habitual. E desses, revelou a mesma fonte, cerca de dois terços eram casos não urgentes. Por outro lado, cerca de 150 ficaram internados o que fez com que, estando as enfermarias cheias, os doentes se acumulassem na urgência.
Por conta deste fluxo anormal – mas que se repete de ano para ano por esta altura – houve doentes a esperar mais de 20 horas para serem vistos por um médico. A Entidade Reguladora da Saúde já disse que vai analisar a situação, no âmbito de um inquérito sobre o acesso dos utentes que já tinha sido instaurado.
O presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS LVT), Cunha Ribeiro, rejeitou que o maior fluxo de doentes nas urgências daquele hospital esteja relacionado com a tolerância de ponto até porque “a tolerância de ponto não significou o encerramento dos serviços. Os centros não fecharam, reduziram a atividade”. Além disso, acrescentou em resposta ao Observador, “os doentes que eu vi no Amadora-Sintra eram doentes idosos e com muitas complicações, não eram doentes para ir ao centro de saúde”.
Esta segunda-feira a urgência do Amadora-Sintra tem estado “perfeitamente normal”, pelo menos assim foi até à hora de almoço, de acordo com o assessor da instituição. O Observador tentou contactá-lo ao final do dia, mas sem sucesso.
Hospital com dificuldades em contratar médicos tarefeiros para a passagem de ano
O caos verificado nos últimos dias pode vir a repetir-se ainda esta semana, na passagem de ano. Para evitar que isso aconteça, a administração do hospital tem estado a tentar recrutar pessoal médico através de empresas de prestação de serviços. O Ministério da Saúde já deu autorização para a contratação imediata de 10 médicos tarefeiros, só que “ninguém está disponível para vir trabalhar nestes dias”, revelou o assessor do Amadora-Sintra.
De acordo com o responsável de uma empresa de prestação de serviços, contactado pelo Observador, estas tentativas malsucedidas têm a ver com o facto de estarem a ser feitas “muito em cima da hora”. Para já não falar de que há “cada vez mais médicos a recusarem os serviços” pois o valor hora que é pago baixou nos últimos anos. Os hospitais públicos podem pagar um máximo de 30 euros por hora a um médico especialista e 25 por um médico não especialista. Esses valores podem ir até ao dobro, em situações excecionais autorizadas pelo Ministério da Saúde.
Para já a única certeza que a administração do hospital tem é que vai conseguir “garantir seis médicos por dia até ao dia 5 de janeiro”, mas isso graças à terceira medida levada a cabo pelo hospital: falar com os médicos dos quadros que estão de tolerâncias de ponto e férias para comparecerem ao serviço.
Foram também abertas no domingo mais 20 camas, outras seis durante o dia de hoje e há mais quatro para abrir se for preciso escoar doentes das urgências.
Fora estas medidas de caráter imediato, a ARS LVT já deu autorização para a contratação de 10 médicos de medicina interna. Contudo, esta autorização é apenas o primeiro passo. Falta agora o Ministério da Saúde pedir autorização às Finanças e depois das Finanças autorizarem essa integração nos quadros, de mais pessoal, pode-se então lançar o concurso. “Se tudo correr bem, lá para março somos capazes de ter esses médicos”, rematou o assessor do Amadora-Sintra.