O Ministério Público (MP) está a investigar três dos oito casos até agora relatados de doentes que morreram nas urgências hospitalares desde o final do ano de 2014, alegadamente por terem estado mais tempo à espera do que seria aconselhável. Em causa estão as mortes ocorridas nos hospitais de S. José, Peniche e Santa Maria da Feira, disse à Lusa fonte da Procuradoria-geral da República, acrescentando que os inquéritos foram instaurados por iniciativa do próprio MP.
A primeira morte registou-se precisamente no Hospital de S. José, em Lisboa, no dia 27 de dezembro. Um homem de 80 anos terá estado à espera de ser visto por um médico durante quase seis horas numa maca na sala de observações da urgência e morreu na sequência de um acidente vascular cerebral (AVC). No Hospital de S. Sebastião (em Santa Maria da Feira), foi um homem de 57 anos que acabou por morrer, nos primeiros dias deste ano, depois de supostamente ter aguardado por atendimento durante mais de cinco horas, com vómitos e náuseas. Primeiro recebeu uma pulseira amarela, que agravou para a laranja, mas quando o médico o viu, já não conseguiu salvá-lo. Por último, em Peniche, uma mulher de 79 anos morreu enquanto estava a ser preparada para ser transferida para o Hospital das Caldas para fazer uma TAC. O óbito ocorreu por volta das 19 horas. A doente deu entrada na urgência de Peniche pouco depois das 9 horas da manhã.
Os respetivos hospitais abriram inquéritos para averiguar as causas das mortes, mas os resultados ainda não são conhecidos, e também a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) está a acompanhar sete dos oito episódios de morte relatados nas urgências hospitalares desde o final de 2014 e já instaurou quatro processos de inquérito, relativos às mortes no Hospital de Peniche, no Centro Hospitalar de Setúbal, no Hospital de Santa Maria da Feira e no Hospital Garcia de Orta.
Segundo o mais recente Boletim de Vigilância Epidemiológica da Gripe, a mortalidade por “todas as causas” continua acima do esperado na terceira semana do ano. O excesso de óbitos, diz o Instituto Dr. Ricardo Jorge, “foi observado apenas na população com 75 ou
mais anos de idade e em todas as regiões do continente com exceção do Algarve e Regiões Autónomas”. O Instituto refere que o aumento dos óbitos “não pode ser atribuído a nenhuma causa específica, podendo no entanto estar associado ao frio extremo, ao aumento da incidência das infeções respiratórias agudas e ao inicio da atividade gripal”.
Por exemplo, desde o início da época, em final de setembro, foram admitidos em Unidades de Cuidados Intensivos 29 doentes com gripe, cinco dos quais resultaram em óbito.
E precisamente por causa do frio extremo, e do aumento das infeções respiratórias, bem como da procura mais acentuada de idosos com comorbilidades (várias doenças associadas) as urgências hospitalares têm vivido alguns períodos mais críticos, o que já levou inclusive o Ministério da Saúde a adotar algumas medidas, como a extensão dos horários dos centros de saúde na Região de Lisboa e Vale do Tejo e noutros pontos do País onde tal se verifique necessário, assim como a contratação de mais médicos e o envio para hospitais do setor social de doentes para dar resposta aos doentes que chegam às urgências, entre outras medidas.