A goleada sofrida pelo Real em casa frente ao Ajax, que ditou o afastamento dos tricampeões europeus da principal competição da UEFA, foi vista de formas diferentes pela imprensa de Madrid e de Barcelona, como seria normal. Um dos pontos comuns foi, por exemplo, o lateral direito escolhido para abordar o descalabro dos merengues: na Catalunha, recuperaram-se as palavras do ex-jogador Arbeloa há duas semanas, quando referiu um programa televisivo que a sua anterior equipa iria ganhar Liga, Taça do Rei e – tudo objetivos que, no início de março, já foram; na capital, surgiram em destaque as afirmações de Carvajal, que assumiu estar a ser “uma temporada de m****”. “Temos um plantel jovem e com margem de manobra mas é claro que a temporada está acabada. Vamos continuar a trabalhar na Liga, porque é o que temos e há que ser profissional. Não nos escondemos. Numa semana perdemos tudo. E nesta noite não há que procurar desculpas, eles foram melhores”, admitiu.

Os meninos brilharam à volta de uma fogueira: Ajax humilha Real no Bernabéu e afasta tricampeões da Champions

Olhando para a floresta, existe talvez uma árvore que passa ao lado de tudo: Vinicius, o jovem brasileiro que raramente foi opção para Julen Lopetegui, que assumiu um lugar na equipa com Santiago Solari e que ganhou um protagonismo quase como se fosse a grande estrela da companhia. Ainda para mais por ter saído lesionado pouco depois da meia hora de jogo, em lágrimas, quando estava a ser a par de Modric o único a tentar a remontada na eliminatória. Em tudo o resto, ninguém foi poupado. A começar, logo à cabeça, pela grande figura que não esteve esta noite em jogo – Sergio Ramos.

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Vinicius saiu em lágrimas por lesão pouco depois da meia hora e foi o único “poupado” após a derrocada do Real (David Ramos/Getty Images)

Mal acabou o encontro em Amesterdão, que o Real venceu por 2-1, o capitão teve a primeira gaffe que lhe viria a sair cara. “Sim, procurei fazer falta para levar amarelo. Depois de um resultado destes, com a segunda mão em nossa casa – e com todo o respeito pelo Ajax –, prefiro jogar a próxima ronda sem problemas”, disse numa primeira instância após o encontro, tentando depois dar uma outra versão que não colou e que valeu um jogo de castigo extra para o central. Esta noite, num dos camarotes do Bernabéu (todo personalizado com SR4), nova gaffe a deixar os adeptos blancos revoltados: enquanto os merengues iam sofrendo aquela que viria a ser uma derrota humilhante (e a quarta seguida em casa), Ramos esteve a gravar mais alguns capítulos do documentário que está a preparar sobre si para a Amazon. Quase a acabar o encontro, nem os holandeses quiseram passar ao lado do internacional espanhol e começaram a cantar “Ramos, bedankt!”, que é como quem diz “Ramos, obrigado!”.

Alvo não novo mas desta vez principal foi Florentino Pérez. O presidente do Real Madrid, que conseguiu dar outra amplitude ao clube ao longo dos dois reinados, ficou claramente marcado desde o início da temporada. Pela saída de Zidane, pela entrada (ainda hoje) incompreendida de Julen Lopetegui, pela venda de Cristiano Ronaldo à Juventus sem que chegasse outra estrela de nível pelo menos próximo ao do português. Entre os resistentes que ficaram até ao final no jogo houve sobretudo lenços brancos para a tribuna (até mais do que para Solari, que está a prazo); cá fora, os adeptos fizeram-se ouvir com cânticos que pediam a demissão do líder dos merengues, no rescaldo de uma época que, em março, já chegou ao fim.

A Marca, que terá esta quarta-feira na capa a frase “Aqui jaz uma equipa que fez história”, tem mesmo um inquérito sobre quais os jogadores que deveriam ficar para a próxima temporada. Como se percebeu na semana passada, quando dezenas de adeptos foram ao centro de Valdebebas e insultaram alguns jogadores (obrigando à intervenção da polícia para acalmar os ânimos), não é apenas Marcelo que estará próximo da saída: Isco e Mariano continuam a não fazer parte das escolhas de Santi Solari, Bale já demonstrou a sua insatisfação e a dupla Kroos e Casemiro também começa a entrar na “lista negra”. Em relação ao treinador, entre as possibilidades Raúl (interna) e Allegri (externa), há um nome mais uma vez falado: José Mourinho.  

El País diz que Real contactou Mourinho mas há mais três nomes falados (e nenhum parece reunir consenso)

“Guardo recordações fantásticas na globalidade dos tempos que passei em Espanha. Trabalhar no Real Madrid foi para mim uma experiência única e diferente de todas as outras que tive, e que foram grandes experiências. Fizemos coisas fantásticas, ganhámos uma Liga de forma única e tivemos também momentos maus. Cometi erros e melhorei muito como treinador e como pessoa depois dessa experiência no Real. Voltar? Não tive problema em voltar ao Chelsea, assim como não teria de voltar a Madrid, ao Porto, ao Inter ou a todos os clubes onde estive. Se alguém te quer, é um sentimento bom”, disse no início desta semana o treinador português que deixou o Manchester United no final de 2018, em declarações à Deportes Cuatro.

De forma inevitável, e após mais uma noite onde o Real Madrid, entre um golo e duas bolas no poste, voltou a ser demasiado perdulário na finalização, o nome de Cristiano Ronaldo surgiu de novo, desta vez não por questões individuais mas por “factos coletivos”: entre 2004/05 e 2008/09, os merengues ficaram cinco vezes seguidas nos oitavos da Champions; em 2009/10, primeiro ano do português em Espanha, repetiram essa fasquia; até 2018, conseguiram ganhar quatro vezes o troféu e ficaram nas meias-finais outras quatro; agora, no primeiro ano sem o capitão da Seleção Nacional, voltaram a cair nos oitavos.

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