Apito na boca, pensamento ocupado com algo que só o próprio conseguirá descrever, os dois adjuntos atrás de si, a habitual saudação de bom dia. Foram estas as primeiras imagens de Rúben Amorim em Alcochete, na rampa de acesso do balneário para o relvado, momentos antes do treino número 1 pelo Sporting. Conversas com Luís Neto em termos de posicionamentos, com o jovem júnior Eduardo Quaresma, com o lateral francês Rosier numa altura em que Emanuel Ferro estava também nessa zona do campo. Sempre com um papel A4 dobrado na mão.

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Em condições normais, e pela primeira vez desde que existe Academia, um treinador deveria ser apresentado no espaço que consagra o coração de todo o futebol leonino dos seniores às equipas de 13/14 anos (mais pequenos do que isso continuam no Polo Universitário, perto do estádio). Por questões logísticas, acabou por ser no hall VIP de Alvalade, tendo como fundo um dos ícones simbólicos da história verde e branca: a porta 10A.

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Desde a fundação do antigo Estádio José Alvalade, onde estava essa mítica porta por onde entravam os jogadores seniores para os treinos e jogos ou da formação antes e depois das sessões nos campos pelados na zona onde se concentra agora o interface do Campo Grande, até à sua demolição, por ocasião da organização do Europeu de 2004, o Sporting ganhou nove dos 18 Campeonatos. Já não era propriamente aquela equipa que ganhara pelo rendimento a alcunha de ‘Crónico’ na altura dos Cinco Violinos, quando ganhou sete vezes em oito épocas, mas continuava numa luta que durante algum tempo foi sobretudo com o Benfica e depois se alargou a três com o FC Porto. Agora, mais uma vez neste século XXI, existe a ideia de uma luta a dois mas a excluir o Sporting, que está no quarto lugar, a 20 pontos da liderança. É neste contexto que Rúben Amorim chega a Alvalade, neste caso o novo, aquele que as únicas festas que recebeu foi de taças e foi palco até da derrota numa final europeia (2005).

Hugo Viana, diretor desportivo, testemunha cumprimento entre Frederico Varandas e Rúben Amorim (FOTO: FILIPE AMORIM)

Tendo a porta 10A como fundo, a mesma porta 10A por onde passou no antigo Alvalade nos treinos de captação do Sporting, que fez depois do fim das equipas secundárias da formação promovido por Vale e Azevedo no Benfica (acabaria por não ficar, passando de seguida por CAC Pontinha, Benfica, Corroios e Belenenses, onde terminou a formação e foi lançado como sénior), a conferência de apresentação teve início com um ligeiro atraso e antecedida da chegada dos restantes membros da equipa técnica: Carlos Fernandes e Adélio Cândido, que chegaram com o novo técnico; Emanuel Ferro, Gonçalo Álvaro e Tiago Ferreira, que vão transitar. Depois, com alguns elementos da SAD, Frederico Varandas começou por apresentar o novo técnico antes de Rúben Amorim começar a falar.

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“Quero agradecer ao presidente, ao Hugo [Viana] a confiança que me deram. Não é preciso sempre estar aqui para se perceber a grandeza do Sporting, consegue perceber-se mesmo não estando cá dentro. É um orgulho enorme para mim estar nesta casa, agora o meu foco está no Desp. Aves”, começou por referir o novo técnico, anunciando que está a “preparar o futuro” e dizendo que tem a missão de “valorizar clube, atletas e formação”.

“É um orgulho enorme estar nesta casa e defender estas cores. Sei o que é o Sporting, independentemente do momento. Acredito no clube e espero que acreditem em mim. Posso tentar convencer os sportinguistas que não acreditam em mim mas interessa quem ganha. Estou preparado para este desafio. Objetivo imediato é o Aves. Existe projeto a longo prazo e queremos valorizar jogadores, clube e formação. Conheço a formação do Sporting mas vou inteirar-me mais. Passa por voltar à melhor escola de Portugal, queremos voltar a ser o número 1″, destacou nesse arranque de conferência, antes de falar dos dez milhões que tinha na cláusula.

Carlos Fernandes, Adélio Cândido, Gonçalo Álvaro, Tiago Ferreira e Emanuel Ferro: a equipa técnica de Amorim (FOTO: FILIPE AMORIM)

“Os adeptos do Sporting querem é ganhar, independentemente desse valor. O primeiro treino que já tinha preparado seria igual mesmo que tivesse custado zero euros em vez de dez milhões. Nada muda em mim por isso. Quando puseram essa cláusula no Sp. Braga comecei-me a rir, nunca pensei que alguém ia gastar aquele dinheiro comigo, mas aconteceu isto e agradeço a confiança. No fim faremos as contas. Onde estou é onde quero ganhar. Temos de ganhar todos os jogos. Primeiro o Desp. Aves, depois o futuro, ganhando jogo a jogo. Seria mais cómodo para todos esperar pelo fim da época mas em primeiro está o Sporting. Temos de ganhar tempo para a próxima época, sabendo que se não ganharmos pode não haver próxima época”, salientou.

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“Foi o conceito que me motivou. Não falámos em reforços, apenas em ideias para o clube. Fiquei motivado, sei do desafio e das dificuldades, mas estamos preparados. Queremos fazer as coisas com tempo, lembrando que temos ainda esta época. O foco é o que queremos para o futuro. Porque saí do Sp. Braga? Por motivos financeiros não foi. Se não ganhasse aqui, ia ganhar noutro lugar. Falam do risco de poder correr mal mas pergunto: e se corre bem? O facto de o Sporting precisar de uma nova vida… E se conseguirmos fazer isso? Talvez tenha escolhido o desafio mais difícil mas foi o que quis”, prosseguiu, antes de explicar que no primeiro treino já chamou dois jovens para ser mais fácil de começar a passar a ideia e dizer ainda que os jogadores terão agora de mostrar-se.

Rúben Amorim respondeu à pergunta “Não é um risco se correr mal?” com outra pergunta: “E se correr bem?” (FOTO: FILIPE AMORIM)

“Sou um treinador, sou uma peça aqui. Havendo, não resolvo os problemas todos. O nosso foco é o treino e os jogadores. Certamente seria mais fácil dizer que para o ano vamos lutar pelo título… Vamos correr mais do que os outros e no fim fazem-se as contas. Sporting é o Sporting, entramos para vencer e no fim logo se vê. Fanático do Benfica? Sou um profissional do futebol e um fanático em ganhar. Há poucas semanas dei esse exemplo com todos os clubes em Portugal. O meu foco é defender esta casa, como defendi o Casa Pia, com as devidas diferenças, o meu empenho é igual em todos. Sei a grandeza deste clube, fui adversário muitos anos. Não escondo o meu passado e como adversário conhecemos a grandeza dele. Conheço a grandeza do Sporting. Ninguém aqui quer mais ganhar do que eu, digo-o com toda a tranquilidade”, acrescentou, antes de deixar uma palavra a Silas.

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“Agradeço as palavras de Silas quando se despediu, apresentou-me sem estar apresentado… (risos). Silas é um excelente homem e treinador mas como disse o Sporting precisa de ganhar. Sobre o plantel, encontrei-o bem. Se o encontrasse muito bem seria um problema… o lugar do Sporting é a lutar pelas provas. Encontrei o plantel aberto a novas ideias, sabendo que temos de nos conhecer e que no domingo [jogo com o Desp. Aves, às 17h30] temos um teste de exigência máxima”, concluiu Rúben Amorim.