No anúncio dos resultados do ano fiscal, que terminou em Março, a Nissan não defraudou as expectativas dos que anteciparam um desastre de grandes proporções. Os números avançados pelo presidente e CEO do construtor japonês, Makoto Uchida, apontam para um prejuízo líquido de 671 mil milhões de ienes, cerca de 5,65 mil milhões de euros, no que é um recorde para a marca nipónica nos últimos 20 anos. De caminho, a Nissan revelou o esperado plano de recuperação, que passa por cortes na produção, no investimento e o fecho de algumas fábricas, com o consequente despedimento de trabalhadores, apesar do número não ter sido avançado.

Depois de surpreender pelos maus resultados financeiros, a Nissan concentrou-se no futuro e revelou o que pretende conseguir nos próximos quatro anos, para reequilibrar as finanças. O primeiro passo consiste em cortar em 20% o volume de produção, reduzindo-o a apenas 5,4 milhões de veículos, uma estratégia distinta da abraçada pelos seus concorrentes, que perseguem manter ou até incrementar a produção e as vendas, para assim reduzir o custo unitário dos veículos.

A redução do volume de produção e, por tabela, de vendas, obriga a Nissan a adaptar o seu aparelho produtivo. Para já, as primeiras vítimas são as três fábricas de Barcelona (uma principal e duas satélites), onde eram fabricadas, entre outros modelos, a pick-up Nissan Navara, um dos produtos mais emblemáticos do construtor nipónico, bem como as “cópias” Mercedes Classe X (que o fabricante alemão já tinha anunciado que iria descontinuar) e a Renault Alaskan.

Além das instalações fabris de Barcelona, também a fábrica na Indonésia vai encerrar, restando saber o que reserva o futuro para a maior fábrica da Nissan na Europa, em Sunderland, no Reino Unido. Com os previsíveis impostos para as exportações de veículos produzidos em Inglaterra para os países da UE a elevar os custos dos modelos ali produzidos, como o Qashqai, Micra e Leaf, não é evidente que a Nissan não se veja obrigada a rever o seu aparelho produtivo europeu, tanto que anunciou igualmente pretender recorrer às fábricas da Renault na Europa para fabricar os seus modelos com plataformas e mecânicas partilhadas.

A actual gama de 69 modelos será reduzida para 55, mas 12 deles serão novos e introduzidos nos próximos 18 meses, com o fabricante japonês a admitir que o conjunto de veículos comercializado nos EUA acusa uma idade algo avançada.

Apesar das tentativas da Nissan em renegociar com a Renault uma divisão de quotas mais equilibrada, os franceses continuam a deter 43% dos japoneses, contra 15% da Nissan na Renault, mas sem direito a voto, consequência de ter sido esta última a salvar a primeira da falência. Ainda assim, os maus resultados do fabricante japonês tiveram um impacto negativo de 3,57 mil milhões de euros para a marca francesa.

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