Depois de uma longa passagem por zonas de entrevistas rápidas e conferência de imprensa, Miguel Oliveira, ainda com o mesmo equipamento com que conquistou o Grande Prémio de Portugal (menos o capacete mas sempre de máscara, até estar sentado), deslocou-se ao estúdio da SportTV no Autódromo Internacional do Algarve para mais uma conversa depois do triunfo na última prova do ano do MotoGP. E se nas imagens tudo pareceu fácil, tendo em conta que somou à vitória a pole, a volta mais rápida e a liderança em todas as voltas, a realidade foi diferente.

Calculista, genial, perfeito: Miguel Oliveira faz (mais) história e conquista Grande Prémio de Portugal

“Não, não foi nada fácil… Foi difícil psicologicamente porque liderar do arranque até à bandeira de xadrez passam muitas coisas pela cabeça. Ainda não vi nada da corrida, pelo que sei foi um pouco aborrecido… Sabia que a partir da 15.ª volta ia entrar numa fase mais difícil por causa dos pneus mas quando acabei o warm up achei que tinha algo mais do que os meus adversários”, começou por contar o piloto português. “Só quando vi a bandeira é que percebi que tinha ganho, tinha tanto medo que não fosse a última. Fui vendo as placas mas queria mesmo certificar-me que era a última, que estava a bandeira de xadrez ali… Comecei a controlar os meus adversários pelo barulho na curva 3, a partir da terceira/quarta volta vi que tinha 1,7 segundos de vantagem e isso permitiu-me não ter de cortar trajetórias e não olhar para trás”, acrescentou, entre explicações mais técnicas sobre a moto.

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“Sentimento antes da corrida? Que se não ganhar estou lixado! Mas sabia que o facto de correr em Portugal, ao contrário do que possam pensar em casa, não me colocava pressão, mas sim dava força extra. Foi isso que fiz. Aproveitei, tentei tornar em algo positivo toda a atenção que tive ao meu redor no fim de semana. Para terem noção, na minha box o número de câmaras quadruplicou. Começou tudo logo na quarta-feira. Foi incrível, porque sabia que havia muita gente a fazer força. Tentei sempre transformar essa atenção em força e não em pressão, de forma a dar o resultado que os portugueses merecem”, destacou ainda Miguel Oliveira.

“A partir das últimas seis voltas, começaram-me a cair umas gotas de suor para a viseira, a travar para a primeira curva, e isso atrapalhou-me imenso. O facto de não conseguir ver bem estava a deixar-me um bocado nervoso mas continuei a fazer as trajetórias certas”, disse ainda antes do momento mais esperado: rapar o (longo) cabelo de Vítor Martins, comentador da SportTV há largos anos e que tinha apostado em mudar de visual caso Miguel Oliveira ganhasse o Grande Prémio de Portugal. E assim foi, com a família do piloto e vários elementos do canal televisivo a observarem de perto um momento que não demorou também a tornar-se viral nas redes sociais.

“Vou poupar imenso dinheiro em champô por exemplo”, dizia Vítor Martins. “Vais pensar ‘Aquele dia em que o Miguel ganhou’…”, ria-se o piloto. “É por uma boa causa”, admitia o comentador. “Vocês apostam as coisas como se fosse muito difícil ou muito impossível e depois sofrem as consequências… Mas isto de cortar não é assim tão fácil como parece… Não sei mesmo porque é que fazem estas promessas”, continuava a brincar o número 88, naquele que foi mais um momento paralelo de festa de Miguel Oliveira em Portimão, sendo que Paulo Oliveira, pai do piloto, ainda deu um prémio de “consolação” a Vítor Martins: a garrafa de champanhe do pódio.