Diversos altos responsáveis da FIFA foram detidos às primeiras horas da manhã desta quarta-feira em Zurique, na Suíça, para onde está marcado o encontro anual do órgão que regula o futebol mundial. Segundo o New York Times, a polícia suíça deteve estas pessoas por suspeitas de corrupção, quando as mesmas ainda se encontravam num luxuoso hotel do centro de Zurique.

De acordo com uma nota divulgada pela Justiça suíça, foram detidas seis pessoas que alegadamente receberam milhões de dólares em subornos. A operação teve por base um pedido das autoridades dos Estados Unidos da América, para onde os detidos deverão ser extraditados. As suspeitas da procuradoria de Nova Iorque são de que estes dirigentes tenham sido continuamente subornados desde o início dos anos 1990 até hoje. No total, estarão em causa mais de 100 milhões de dólares. Num comunicado emitido já ao fim da manhã, a Justiça norte-americana esclarece que foi detido ainda mais um suspeito.

“Acredita-se que recebiam direitos mediáticos, de marketing e de patrocínios relativos a torneios futebolísticos na América Latina. De acordo com o pedido dos Estados Unidos, os crimes foram preparados nos Estados Unidos e os pagamentos foram feitos através de bancos americanos”, lê-se na nota helvética.

Uma das pessoas que foi detida é o vice-presidente da FIFA Jeffrey Webb, também presidente da Confederação de Futebol da América do Norte e Central e das Caraíbas (CONCACAF). Quando foi eleito para o cargo, Webb foi visto como uma lufada de ar fresco na confederação, uma vez que o antecessor, Jack Warner – também detido esta quarta-feira – foi acusado múltiplas vezes de corrupção. Os outros suspeitos são Eugenio Figueredo, Eduardo Li, Julio Rocha, Costas Takkas, Rafael Esquivel, José Maria Marin (ex-presidente da federação brasileira) e Nicolás Leoz, todos ligados ao futebol nas Américas. Destes, apenas Leoz não foi detido. Para saber mais detalhes sobre cada um dos suspeitos leia este artigo.

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Estas detenções ocorrem apenas dois dias antes da provável reeleição de Joseph Blatter como presidente da FIFA, organismo que é, desde há muito, acusado de práticas pouco transparentes. Blatter não se encontra entre as pessoas detidas e é esperado na reunião da Confederação Africana de Futebol, marcada para esta manhã num outro hotel de Zurique. Ainda assim, Blatter foi também investigado e não está ainda completamente afastada a hipótese de vir a ser chamado pelas autoridades.

Apesar das seis detenções, as autoridades norte-americanas esperam deduzir acusações contra pelo menos catorze pessoas entre dirigentes da FIFA e executivos ligados a empresas de marketing futebolístico, conta o New York Times, que falou com três investigadores ligados ao processo. Os suspeitos, nem todos atualmente em Zurique, são provenientes das Ilhas Caimão, do Uruguai, de Trindade e Tobago e de outros países da América Latina, como a Costa Rica.

Toda a operação decorreu pacificamente, sem que os suspeitos tenham sido algemados e alguns mesmo transportando as suas bagagens. Foram usados lençóis para que os detidos não fossem fotografados.

Justiça suíça investiga os sorteios dos Mundiais

Também esta quarta-feira, num processo não relacionado com as detenções levadas a cabo de manhã, o Ministério Público suíço decidiu abrir um inquérito por suspeitas de lavagem de dinheiro e de irregularidades na escolha da Rússia e do Qatar como países anfitriões dos Mundiais de 2018 e de 2022. Pelo menos dez pessoas que participaram nessas votações estão a ser interrogadas pela polícia suíça.

As autoridades estiveram igualmente na sede da FIFA em Zurique, onde apreenderam documentos bancários e dados informáticos. Na nota de imprensa divulgada pelo Ministério Público helvético é referido que, no decorrer da escolha desses países, verificou-se um “enriquecimento injustificado” dos suspeitos. As pessoas levadas para interrogatório não são suspeitas, esclarece a Justiça suíça, que abriu o inquérito contra pessoas desconhecidas.

“As autoridades suíça e norte-americana não estão a fazer investigações conjuntas, mas estão a coordenar as operações”, admite o Ministério Público suíço.

Feliz, a FIFA mantém os Mundiais na Rússia e no Qatar

A FIFA marcou uma conferência de imprensa para esta manhã, onde o diretor de comunicação do organismo, Walter de Gregorio, admitiu ter ficado tão surpreendido pelos inquéritos judiciais como os jornalistas a quem falava. O responsável declarou que a FIFA está a “cooperar com o Ministério Público da Suíça” e que “é a parte lesada” em todo o processo. O comunicado da Justiça suíça já referia que o órgão que lidera o futebol mundial era a vítima.

“Estamos muito felizes” com o que aconteceu, disse Walter de Gregorio. “Isto para a FIFA é bom. Não é bom em termos de imagem ou reputação, mas em termos de esclarecimento é bom. Não é um dia agradável, mas é também um dia bom”, afirmou.

Questionado pelos jornalistas, o responsável de comunicação garantiu que os Mundiais de 2018 e de 2022 vão ser disputados na Rússia e no Qatar. Além disso, de Gregorio afirmou que o encontro anual da FIFA, marcado para os próximos dias, decorrerá como planeado, com a eleição do novo presidente na sexta-feira.

Sobre Joseph Blatter, que não foi detido mas ainda está sob o foco das autoridades, o diretor de comunicação da FIFA disse:

Ele não está a dançar no seu escritório. Está muito calmo e a cooperar com toda a gente. Não está feliz com isto, mas sabe que isto é consequência do que iniciámos. É uma surpresa ter acontecido hoje, mas não é uma surpresa ter acontecido.” Pouco antes, Walter de Gregorio afirmou que o líder da organização estava “muito relaxado”.