Paulo Portas está disponível para deixar de ser o número dois do Governo em caso de uma coligação alargada entre o PSD, CDS e o PS. “Com certeza que se tivesse de deixar de ser número dois num governo desses [de coligação alargada] deixaria”, disse esta segunda-feira à noite em entrevista à TVI, falando em “humildade política” e sublinhando que o seu destino ou função individual “não deve prevalecer sobre o interesse nacional”. Segundo Portas, só há uma leitura possível dos resultados eleitorais: A coligação ganhou e deve governar, mas como ganhou sem maioria deve fazer entendimentos com o PS – só que o PS “ainda não apresentou uma única contra-proposta”, lamentou. E pediu “responsabilidade” aos atores políticos: “É preciso estar à altura da vontade dos portugueses”, disse.

“Quem ganhou foi a coligação, os portugueses querem que a coligação governe, mas querem também que governe com compromissos e entendimentos”, disse, notando que esses compromissos só são possíveis dentro das regras do euro, ou seja, apenas e só com o PS. E para ilustrar isso Paulo Portas lembrou que a nova configuração do Parlamento reúne uma “larguíssima maioria” de cerca de “80%” de deputados que são “pró-euro, pró-projeto europeu, pró-NATO, e pró-regras comuns”.

Na véspera de Cavaco Silva ouvir os partidos para indigitar alguém a formar Governo, o líder do CDS alertou para o “perigo” de se estar a fazer uma leitura diferente dos resultados das eleições e a “colocar a governabilidade do país nas mãos do PCP ou do BE”, numa altura em que ambos estão a levantar a voz ao PS e, “ainda por cima”, em concorrência um com o outro. “Não acho que seja boa ideia”, disse, alertando para os cenários de “instabilidade crónica” e de défices “exagerados” que podem advir dos governos frágeis de “seis meses”.

“O PS diz que estes resultados impedem a coligação de governar, mas essa é uma leitura muito perigosa, porque os portugueses também não votaram na instabilidade nem em nada disto que está a acontecer”, reforçou.

Instando sempre os políticos a serem “responsáveis” e a “respeitarem o interesse nacional”, Paulo Portas deixou ainda uma farpa a António Costa: “Interesse nacional é muito diferente de manual de sobrevivência partidária”, disse, acrescentando depois que não julga ninguém por, dentro do quadro do seu partido, decidir demitir-se ou não se demitir na sequência de resultados eleitorais.

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Mas sobre o desbloquear do impasse, Portas é claro: o normal é que o Presidente da República indigite Pedro Passos Coelho a formar governo e que esse governo, não tendo maioria absoluta, deve encontrar compromissos com o PS – único partido que está dentro da tal “maioria larguíssima” do arco pró-europeu. “Ainda tenho esperanças que o PS caia em si”, disse, pouco depois de ter acusado o PS de não ter levado para cima da mesa “nenhuma única proposta negocial com hierarquização de prioridades e definição do método para podermos chegar a qualquer acordo”.

Na mesma entrevista à TVI, Paulo Portas disse ainda que António Costa “não teve qualquer sentido de Estado” quando, numa entrevista ao mesmo canal na última sexta-feira, deixou no ar a possibilidade de PSD e CDS estarem a esconder contas e dados “graves”, não revelando quais. Tratou-se, segundo Portas, de uma “insinuação” que depois passou a uma “suposição” quando Mário Centeno veio reforçar que o “grave” não era o que tinha sido nas negociações mas sim o que “não tinha sido dito”.

Sobre isso, Portas afirmou que não crê que “haja alguma surpresa financeira”, defendendo-se com o elevado escrutínio das finanças públicas que é feito por várias entidades como a UTAO, o Conselho de Finanças Públicas, o Banco de Portugal, os credores, ou até a comunicação social. “Primeiro não há vontade, depois não há possibilidade de estar a fazer artimanhas”, disse.