Depois do silêncio, de Belém saíram esta sexta-feira duas certezas: o Governo não cairá às mãos de Cavaco Silva e pressões, venham da oposição ou do Executivo, ficam à porta da Presidência da República. O Presidente diz que não vai ceder a pressões para demitir o Executivo de Passos Coelho, nem vai entrar na guerra contra o Tribunal Constitucional. Tudo porque uma “crise política seria um custo muito, muito elevado para os portugueses”.

Depois de dias a ser instigado a comentar a atual situação política do país, o Presidente da República disse não se sentir pressionado para agir. “Se alguém pensa que está a pressionar-me é melhor desistir porque eu não cedo a nenhumas pressões venham elas de onde vierem. Guio-me exclusivamente por aquilo que considero o superior interesse nacional”, disse. Um recado que pode servir para os partidos da oposição, que pedem que o Presidente da República demita o Governo, quer para o Governo que esta quinta-feira antecipou a aprovação de diplomas na esperança de o Presidente enviar para o Constitucional em fiscalização preventiva e assim acelerar os prazos.

Em resposta aos jornalistas, Cavaco Silva insistiu na necessidade de “serenidade” dos agentes políticos:

“Seria muito positivo que, neste quadro que vivemos, todos os agentes políticos mantivessem serenidade, bom-senso e trabalho para que nós possamos ir resolvendo os nossos problemas. Eu penso que os problemas que levantou [o chumbo do Tribunal Constitucional] irão ser ultrapassados. Portugal, se por acaso viesse a ter, acho que não vai ter de certeza, espero bem que não tenha alguma crise política, seria um custo muito, muito elevado para os portugueses”.

O Presidente recusa falar da demissão do Governo e sacode a pressão para os partidos da oposição: “Essa é uma competência [demissão do Governo] da Assembleia da República. O Governo responde politicamente perante a Assembleia da República, não perante o Presidente. Isso são jogadas de natureza político-partidária e como sabe o Presidente da República nunca irá qualquer ingerência nas lutas politicas internas. Compete aos deputados ou aprovar moções de censura, ou não votar moções de confiança”.

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Mas se não lhe compete demitir o Governo, o Presidente poderia usar a prerrogativa de dissolver a Assembleia da República usando o argumento do irregular funcionamento das instituições democráticas. Nem dessa possibilidade, Cavaco Silva quer ouvir falar: “Eu pedia que todos olhassem para o funcionamento das instituições democráticas nos outros países da Europa. Não encontro diferença nenhuma”. Depois acrescentou que a única diferença é que em Portugal não há “diálogo” inter-partidário.

Clarificação normal

Quanto ao pedido de clarificação que o Governo enviou para o Tribunal Constitucional, o Presidente considerou “normal”: “Se o aplicador da lei, se aquele que tem de aplicar as decisões dos tribunais, porque as decisões dos tribunais devem ser respeitadas e cumpridas, tiver dúvidas sobre aquilo que deve fazer para cumprir na íntegra, as decisões de um tribunal, então pode pedir-se o esclarecimento das dúvidas no quadro das dúvidas, no âmbito da cooperação institucional entre órgãos de soberania. Acho isso absolutamente normal”.