Os três cenários são maus — mas alguns são bastante piores do que outros. Atualizadas na passada quinta-feira, as projeções para a Covid-19 do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), um centro de investigação sobre saúde mundial da Universidade de Washington, traçam um futuro muito pouco auspicioso para Portugal no que à pandemia diz respeito.
Na melhor das hipóteses — que pressupõe que 95% da população passe a usar máscara já nos próximos dias e que, depois de um período de alívio das medidas de restrição, seja decretado um novo confinamento de seis semanas quando ou se o número de mortes diárias atingir o rácio de 8 por cada milhão de habitantes —, a previsão aponta para que no próximo dia 1 de janeiro de 2021 haja um total acumulado de 4.016 mortes em Portugal, consequência da atual e de uma segunda vaga da pandemia.
No pior cenário possível — não há alteração na utilização de máscaras, mas as medidas de restrição são aliviadas, e um segundo confinamento nunca chega a ser decretado — o número de mortos em solo nacional à mesma data poderá disparar, segundo as previsões, para os 11.253.
A chamada “projeção atual” fica no meio. Se tudo continuar a correr como até agora — este modelo prevê que as máscaras sejam obrigatórias em espaços públicos fechados, mas não na rua, e que as medidas de restrição social continuem a ser aliviadas por agora, mas que o País volte a fechar-se por seis semanas, assim que o número de casos disparar, exatamente como no primeiro cenário —, o número de mortes expectável para Portugal a 1 de janeiro do próximo ano será de 8.113. Até este domingo, e desde dia 16 de março de 2020, tinham morrido em todo o País por complicações associadas à Covid-19 1.840 pessoas.
Calculadas através de um modelo híbrido, que assenta sobretudo em dados recolhidos em tempo real, cruzados com elementos estatísticos e modelos de transmissão de doenças, as projeções do IHME para Portugal foram partilhadas este fim de semana, via Twitter, por Ricardo Baptista Leite, médico, deputado social-democrata e porta-voz do partido para as questões relacionadas com a área da Saúde.
CORREÇÃO: Tal como mencionado no título do gráfico na imagem, o número de óbitos projetados aqui referem-se ao valor total ao longo do tempo e não diários (como por lapso escrevi).
— Ricardo B. Leite (@RBaptistaLeite) September 5, 2020
Na véspera do regresso das reuniões de peritos e responsáveis políticos no Infarmed, marcado para esta segunda-feira, no Porto (recorde-se que no início de julho os encontros foram subitamente cancelados pelo Governo, apesar dos protestos da oposição), o deputado do PSD mostrou-se expectante relativamente às “recomendações dos especialistas” para o inverno que se aproxima. E partilhou as previsões, que considera “muito preocupantes”, da conceituada universidade americana para os próximos meses em Portugal.
Quinta-feira, 3 de dezembro, o pico das infeções em Portugal?
Por muito que não passem disso mesmo — de projeções —, os modelos do IHME têm como objetivo mostrar aos decisores políticos de todo o mundo quão díspares podem ser os resultados obtidos neste contexto de doença associada à Covid-19, dependendo das medidas de restrição implementadas. O site, onde estão visíveis todas as previsões, listadas por regiões e países, tenciona funcionar justamente como uma ferramenta à disposição de governantes e especialistas em saúde.
Eis os mesmos três cenários, mas aplicados a nível global, ao mundo inteiro: a “projeção atual” prevê um total de 2.811.777 mortes no próximo dia 1 de janeiro de 2021; a projeção para o uso universalizado de máscara calcula 2.041.906 óbitos no total; e a projeção em que o novo confinamento não é opção atira para as 4.033.870 mortes. Até este domingo, de acordo com o site Worldometers, o número global de mortes decorrentes de complicações relacionadas com a Covid-19 vai em 885.022.
A partir do modelo aplicado, o IHME prevê que o número de infetados em Portugal (com e sem teste feito) atinja o pico na quinta-feira, 3 de dezembro de 2020. E 19.980 é o valor de casos acumulados previsto para esse dia, tanto no cenário da “projeção atual” como no que não admite a hipótese de novo confinamento — só no modelo que trabalha a possibilidade do uso universal de máscara é que o número de casos baixa para os 3.873.
De acordo com as projeções, é partir do dia seguinte, 4 de dezembro, que tudo poderá mudar. Se os ajuntamentos de pessoas forem proibidos; se as escolas, universidades e estabelecimentos não essenciais forem encerrados; e se a população for intimada a ficar em casa, calcula a projeção, a 1 de janeiro haverá 5.366 casos de infeção por dia. Se não houver novo confinamento, prevê o modelo aplicado pelo IHME, serão mais de 85 mil. Sobre a projeção associada à mortalidade em cada um dos cenários já discorremos no início do texto.