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Houve novidades que nos deixaram presos ao ecrã, regressos magistrais e até descobertas, mas a maneira de ver séries também mudou. Os serviços que permitem ver estas produções em várias plataformas, e que, em 2015, aterraram com pompa e circunstância em Portugal, tornaram as conversas e as vidas dos viciados em séries mais fáceis. Desde logo, a prática de binge watch, ou ver temporadas inteiras de seguida, passou a ser mais aceitável e generalizada na sociedade, e uma referência à corrupção entre políticos e traficantes na Colômbia nos anos 80 tornou-se tópico de conversa entre amigos.

No geral, foi um bom ano para séries, mas em Portugal foi um ano ainda melhor. Não há qualquer glorificação de nenhum dos serviços on demand que surgiram em 2015, como o Netflix, mas finalmente as séries e as grandes produções televisivas passaram a ser assunto corrente e a despertar mais atenção, tal como já acontece um pouco por toda a Europa. Espera-se que as televisões portuguesas olhem com atenção para este movimento e, quem sabe, vejam as vantagens de produzir séries de qualidade que ultrapassem os tradicionais modelos da ficção nacional.

Não é exagero afirmar que em 2015 estrearam centenas de séries. A escolha é sempre difícil e, neste caso, completamente pessoal. Escolhemos algumas séries novas, uns regressos triunfantes e ainda algumas descobertas.

Novidades

Quando falamos de novidades, “Narcos” é incontornável. Desde logo, a história é demasiado boa para ser verdade (e tragicamente foi). Contá-la com o detalhe e reconstrução meticulosa do que foram os anos 80 na Colômbia é obra. Arranjar um Pablo Escobar como Wagner Moura é perfeição. No entanto, continua a ser ficção e, pelo que sabemos desta história, a realidade consegue ser bem mais macabra e retorcida do que qualquer episódio desta produção do Netflix — algo importante para nos irmos relembrando, de modo a não cair na esparrela de endeusar um traficante louco que quase destruiu um país. Esta série tem ainda o dom de juntar um elenco muito interessante sem as habituais caras da televisão norte-americana. A primeira temporada tem 10 episódios e a segunda já está encomendada para 2016.

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https://www.youtube.com/watch?v=U7elNhHwgBU

Está a apetecer uma série de ação para descomprimir no fim do dia? A melhor que estreou este ano foi “Blindspot”, da NBC, que por cá passa no TVSéries. Na linha de “Blacklist”, outra produção da NBC que já vai na terceira temporada, há ação e mistério, com uma pontinha de amor à mistura. Uma mulher sem memória e tatuada da cabeça aos pés é encontrada em Times Square. O resto mete FBI e muitas aventuras. Não é uma fórmula inovadora, mas há alguma dificuldade em encontrar os ingredientes corretos para construir uma série assim e a maioria acaba cancelada depois da primeira temporada. Esperamos que não seja o caso de “Blindspot”, que tem cerca de oito milhões de espectadores por episódio e é atualmente uma das séries mais populares da televisão norte-americana. Agora está em pausa, tal como muitas séries, mas volta em fevereiro.

https://www.youtube.com/watch?v=GG0X5Gs8T9E

As minisséries têm vindo a ocupar cada vez mais espaço na televisão. Menos episódios parece significar maior atenção ao detalhe e maior dedicação à escolha do elenco. Se 2014 foi excelente ao dar-nos “Olive Kitteridge” ou “The Honourable Woman”, este ano trouxe-nos “Deutschland 83”. Aviso a quem gosta de “The Americans”: a premissa é similar, a execução é em tudo superior. Agora que já irritei a legião de fãs desta série é importante explicar porquê. Desde logo, porque “Deutschland 83” nasce de um dueto improvável entre a Sundance TV e a RTL, canal de televisão alemão. Conta a história de um jovem soldado da República Democrática Alemã que é recrutado em 1983 pela Stasi para atravessar o muro e passar-se por adido do general que faz a ligação entre a Alemanha Ocidental e a NATO. A série é em alemão — com o inglês ocasional quando entram americanos da NATO ao barulho — e recorda-nos um tempo em que o mundo estava dividido, mas também as pessoas que nele tinham de viver. A série tem oito episódios e foi a primeira série de ficção em alemão a ser transmitida na televisão norte-americana.

Era triste fechar as novidades que valeram mesmo a pena em 2015 sem uma comédia. E a escolhida é “Unbreakable Kimmy Schmidt”, outra produção original do Netflix. Para quem gostou de “30 Rock” e estava a sentir alguma falta, esta é a melhor forma de ultrapassar as saudades. Tina Fey volta a juntar-se a Robert Carlock para criarem o universo de Kimmy Schmidt, uma mulher de 30 anos que passou metade da sua vida fechada num bunker à mercê de uma seita religiosa e que agora vive em Nova Iorque. Não há limites para o humor nesta série e tudo é motivo de chacota: raça, religião, política. Atenção às referências culturais que normalmente acertam em cheio e a um certo humor nonsense que pode retardar algumas piadas. A primeira temporada tem 13 episódios e a segunda estreia em março de 2016.

Regressos

“Fargo”, “Fargo”, “Fargo”. Podia repetir, mas não vale a pena. A primeira temporada foi boa. A segunda é ainda melhor. Tudo o que tornou esta produção da FX especial manteve-se, embora as histórias sejam diferentes. Aquela cadência que parece acompanhar os invernos intermináveis, a carnificina gratuita e as personagens cruas ainda estão lá, mas agora é tudo mais envolvente ou talvez faça mais sentido. Um talhante, que só quer levar uma existência tranquila, vê-se envolvido numa disputa de clãs pelo controlo da cidade de Fargo e pelas preciosas rotas de transporte e distribuição de droga. O resultado só pode ser trágico. Kirsten Dunst surpreende no papel de Peggy Blumquist, mulher do talhante, e Bokeem Woodbine protagoniza um dos vilões mais interessantes de 2015. Esta temporada tem 10 episódios e passa no TVSéries. A terceira já está a ser preparada.

São raras as séries em que todas as temporadas são boas. “Rectify”, produzida pela Sundance TV, é uma raridade. A terceira temporada estreou em 2015 e não desapontou nem fãs, nem críticos. Daniel Holden foi condenado à morte quando tinha 18 anos e depois de 18 anos no corredor da morte é libertado e obrigado a reaprender a viver, já não como um adolescente prestes a acabar o liceu, mas como um adulto. É normal que seja uma série que não agrade a toda a gente porque há muitos silêncios e o enredo demora a revelar-se. Num dos episódios da terceira temporada, Daniel trabalha para restaurar a piscina do condomínio da irmã, só para destruir todo o trabalho logo em seguida. Mas a paciência é recompensada pelo desenvolvimento das personagens e pelos diálogos, escassos mas preciosos. A terceira temporada tem seis episódios e a próxima vai estrear em 2016.

Um podcast que é melhor do que muitas séries

Mostrar Esconder

Vamos sair um bocadinho do tom, mas é impossível não falar de “Serial”. O podcast conduzido pela jornalista Sarah Koenig regressou no início de dezembro com um novo caso e promete voltar a agitar a rádio norte-americana. Desta vez, o protagonista é Bowe Bergdahl, soldado americano que em 2009 foi raptado pelos talibãs no Afeganistão. Foi libertado em 2014, depois de ter passado cinco anos como refém. No entanto, Bowe não foi capturado durante uma missão ou quando estava a combater. Saiu da base pelo seu pé, o que faz dele um desertor. Sarah Koenig conseguiu 25 horas de entrevista com Bowe, levadas a cabo pelo argumentista e produtor (e também jornalista) Mark Boal que escreveu o guião de filmes como “Estado de Guerra” ou “00:30 A Hora Negra”. O podcast pode ser ouvido aqui.

Descobertas

Ainda não houve qualquer referência a uma determinada série épica cujo título começa por “guerra” e acaba com “dos tronos”. Nem vai haver. Até porque existe uma alternativa muito mais interessante. Chama-se “Vikings” e vai na terceira temporada. Também trata de disputa de poder, tem batalhas espetaculares e mortes agonizantes. Com uma diferença: pode mesmo ter tudo acontecido assim. A série conta a história, meio mito, meio realidade, de Ragnar Lothbrok, um agricultor viking que se atreveu a navegar para Ocidente e chegou às costas da Grã-Bretanha. Que os vikings lá chegaram no século VIII, é sabido. Quem foi o primeiro, fica à imaginação de cada um. Lothbrok persistiu na cultura popular da Escandinávia, tal como os seus descendentes. Esta produção cai entre os factos reais, contando como os vikings primeiro roubaram e depois de uniram aos reis da Grã-Bretanha, em troca de terras, para resolverem disputas políticas, e ficção, com magia e visões do futuro à mistura. A série é do Canal História norte-americano e em Portugal passa no MOV. A quarta temporada vai estrear em 2016.