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Família Marreiros espera o sexto filho
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Família Marreiros espera o sexto filho

© André Correia

Família Marreiros espera o sexto filho

© André Correia

A coragem de ter muitos filhos

Os casais têm cada vez menos filhos, mas há quem fuja às estatísticas. Uns mais, outros menos católicos. Hoje Passos Coelho recebe um relatório com recomendações para os ajudar e para outros os sigam.

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Gostas de ter muitos manos? “Gosto, mas às vezes são chatos”. E quando os manos chateiam, o que fazes? “Começo a brincar com eles. O António (um ano) é que me dá mais trabalho”, conta a sorrir. Maria, de seis anos, é a mais velha de cinco irmãos. Em breve, nascerá o sexto: o Estêvão. Passou para o segundo ano e quer ser médica quando for grande. Porquê? “Para cuidar da mamã e do papá”, explica ao Observador. A pequena Maria faz parte de uma família numerosa, daquelas que vão escasseando em Portugal.

Para assegurar a renovação de gerações, as mulheres devem ter 2,1 filhos. Em 2013, tiveram, em média, 1,21 filhos.

O declínio da natalidade acentua-se à medida que os anos vão passando e a substituição de gerações está em risco. Em 2013, as mulheres tinham, em média, 1,21 filhos. Para assegurar a renovação geracional era necessário que as mulheres tivessem pelo menos 2,1 filhos. Ainda assim, há quem recuse entrar nas estatísticas e tenha como opção de vida uma família grande, como é o caso da família Marreiros.

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O pai Luís e a mãe Filipa têm 32 anos. Conhecem-se desde jovens. Andaram nos escuteiros e sempre os uniu a fé em Deus. Namoraram e arriscaram: “Ou há Deus ou não há Deus”, diz Luís. Casaram em 2006. Filipa tinha 24 anos. A primeira filha, Maria, nasceu um ano depois. A mãe Filipa optou pela vida de “mãe profissional”. O pai Luís tirou o curso de engenharia eletrotécnica, profissão que exerce.

António é o mais novo membro da família.

© André Correia

Unidos no amor e na fé, estão abertos à vida. “Temos os filhos que Deus nos der”, dizem. Tanto Filipa como Luís vêm de famílias grandes, daquelas que enchem uma casa. Luís tem duas irmãs, Filipa é a mais velha de cinco e a sua mãe a segunda de cinco. Vivem “todos perto”, na zona de Oeiras, e entre “pais, irmãos, tios, sobrinhos, avós”, quando “há festa de aniversário, somos logo 30 pessoas cá em casa”.

É o pai que leva os quatro mais velhos à escola. Andam numa Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS). Filipa não conduz. “Anda a tirar a carta desde o tempo em que namorávamos”, atira Luís a rir. E é exatamente na altura de sair ou chegar a casa que o caos se instala.

“Quando parece que estão todos prontos, há um que se suja, um que afinal quer ir à casa de banho, outro que afinal não calçou os sapatos”, exemplifica Filipa. “Outro que não vestiu as cuecas”, ri-se Luís.

Vão crescendo, partilhando, e a autonomia vem por acréscimo. Quando ainda eram três, explica o pai Luís, a Maria, que é a mais velha, ajudava “quer com a Madalena, quer com o Lourenço”. Agora, acrescenta Filipa, a Madalena é “muito ligada ao bebé António, de um ano, e tudo o que seja em relação a ele, ela trata sem problemas”. Adoram pôr a mesa e até “se chateiam entre eles porque querem trazer as coisas”. Já se vestem sozinhos e até fazem as camas. “À maneira deles, mas o importante é aprenderem por eles”.

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“Não é fácil” gerir a carreira profissional com uma família grande. “Tenho tido a sorte, ou a graça, consoante a perspetiva, de estar num trabalho que, apesar de não ter formalmente isenção de horário, na prática tenho e consigo gerir”, explica o engenheiro eletrotécnico.

A família é a base de tudo. “Tanto a família do Luís como a minha ajudam-nos muito”, diz Filipa. “Um dia um dos miúdos fica com um familiar, outro dia fica com outro. Às vezes vamos dividindo pelas várias casas. O nosso grande apoio é a nossa família”, tanto a de sangue como a da igreja.

É só o rendimento do pai Luís a contribuir para o orçamento familiar. Como é que conseguem gerir? “Com muita imaginação”, sublinha Luís. E não é preciso ser rico para ter filhos. “Nós não temos bens, nem família rica, mas aí está, se calhar não damos aos nossos filhos aquilo que os outros pais poderão dar”. “São opções de vida”, interrompe Luís, para logo acrescentar: “Nenhuma delas tem falta de nada e não são crianças infelizes por não terem isto ou aquilo, por não irem de férias não sei para onde. Nós transmitimos que os bens não são tudo na vida. O mais importante é o amor que existe entre nós e o amor de Deus”. “Acho que nesse aspeto não temos falhado”, dizem orgulhosos os progenitores da família Marreiros.

Luís Marreiros sublinha que receios toda a gente tem, mas a verdade “é que sempre que veio mais um, ou se arranjou uma mudança no trabalho, um aumentozito aqui. Posso recear, mas o Senhor tem sempre providenciado e não é agora que há de deixar”.

“O que nos trouxe até aqui é o que nos vai continuar a levar para a frente.”

Mas cada vez menos portugueses têm arriscado a ter famílias desta dimensão. Segundo os Censos de 2001, havia 250 mil famílias numerosas, ou seja, com três ou mais filhos, que representavam 7% das famílias. No último Censos feito em 2011 foram registadas cerca de 150 mil famílias numerosas, representando 4,8%. A Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) representa cerca de seis mil desses agregados, mais de 40 mil pessoas.

Em 2001, havia 250 mil famílias numerosas. Dez anos depois, eram cerca de 150 mil as famílias com três ou mais filhos.

A maior riqueza que estou a dar aos meus filhos são os irmãos

A família Marreiros não é a única a driblar as estatísticas e a ver a família como a maior riqueza. A família Arrobas coloca as crianças no centro do seu projeto de vida. “Já tínhamos conversado durante o nosso namoro que queríamos começar família assim que casássemos. Gostávamos de ter pelo menos três filhos e adorávamos poder ter cinco”, relembra Mariana Arrobas. Mas afinal foram seis: Leonor (11 anos), Miguel (9 anos), Vasco (7 anos), Marta (4 anos), Pedro (2 anos) e, por último, Francisco (10 meses).

Miguel e Mariana Arrobas com o seis filhos: Leonor, Miguel, Vasco, Marta, Pedro e o bebé Francisco

D.R

Mariana tem 39 anos e Miguel Arrobas faz 40 em setembro. Nem todos foram planeados, mas vieram “sempre numa altura em que estávamos abertos a essa hipótese”, sublinha Mariana. “Não podemos ser irresponsáveis e não pensar no dia de amanhã, mas se começarmos a matutar demais sobre como é que vai ser daqui a 20 anos, acabamos por não fazer nada”. E acrescenta: “Hoje sou muito mais organizada com seis do que quando tinha só a Leonor e o Miguel.”

Mariana é veterinária e consegue ter um horário “mais flexível”. Miguel é advogado e trabalha a tempo inteiro. É ele que leva as crianças à escola. É preciso “ginástica para que tudo corra bem”, mas enquanto “estamos juntos, aproveitamos para estar na brincadeira. Rir é fundamental”, sublinha ao Observador.

O orçamento familiar tem de ser bem gerido, “somos poupados” e a verdade, sublinha Mariana, é que o grande investimento acontece no primeiro filho. A “cadeirinha para o carro, o ovo, as roupas. Mas essas coisas uma vez compradas, dão para os outros”. E o facto de tanto Miguel como Mariana pertencerem a famílias grandes ajuda, porque “as roupas andam para trás e para a frente”. As escolas são públicas e “estamos muito contentes com o ensino que têm recebido”. A ajuda familiar ou falta dela pode também ser um fator a pesar na altura de ter filhos. “Tanto os meus pais, como os meus sogros têm sido uma ajuda insubstituível. Tenho a certeza absoluta que não teria tido a coragem de ter seis filhos se não tivesse esta rede por trás. Acho que isso é uma das coisas que falta aos casais hoje em dia”.

Os mais velhos ajudam os mais novos. Juntos crescem e aprendem a partilhar

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Não sobra muito “tempo e ainda menos dinheiro para jantares românticos e idas a cinema”, diz Mariana. “Não vamos comer gelados todos os dias”, diz, por seu lado, Miguel. “Conseguimos ir ao cinema, em média, uma vez por ano”. Mas para tudo há solução. “Compensa-nos mais fazer uma coisa que os pequeninos dizem, que é um FF- filme em família. Fazemos pipocas, sentamo-nos no sofá e vemos todos juntos”, conta Mariana.

Mas todo o tempo que têm juntos tentam que seja de qualidade. “É uma alegria, uma festa, mesmo nos momentos de stress com horas de banhos e jantares”, diz a mãe Mariana. “Costumamos dizer que a forma é a mesma, mas eles são diferentes”, acrescenta Miguel.

Em conjunto, aprendem a viver com essa diferença e aprendem a respeitá-la. Ferramentas que levam para a vida: “O trabalhar em equipa, o aprender a viver com feitios muito diferentes, a resolução de conflitos, o desenrascanço. Isso não acontece em famílias com filhos únicos ou só com dois filhos, especialmente se a diferença de idade for grande”, afirma Mariana Arrobas.

Por isso, esta mãe de seis, acredita que a “maior riqueza” que está a dar aos “filhos são irmãos”. “Uma coisa que vi com os meus avós, por exemplo, à medida que foram envelhecendo e a precisar de cuidados, os irmãos revezavam-se entre eles”. Além disso, afirma Mariana, o elo familiar é inquebrável: “A experiência de convívio que tive com os meus primos direitos é uma ligação fortíssima. Ajudamo-nos uns aos outros e eu também quero que os meus filhos tenham isso.” Ainda hoje, acrescenta, “entre os meus melhores amigos estão muitos dos meus primos”.

Segundo o Inquérito à Fecundidade (IFEC) 2013, realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), “ver os filhos crescerem e desenvolverem-se”, a “realização pessoal” e “ver a família aumentar” foram os principais motivos apontados – por mais de 85% das mulheres e homens – como subjacentes à decisão de querer ter filhos. Estes resultados observam-se tanto no caso em que homens e mulheres já eram pais, como nas situações em que ainda não tinham filhos.

Ser mãe a tempo inteiro e vê-los crescer

Família, solidariedade são também valores partilhados pela família Saraiva de Ponte. Rita tem 28 anos e Nuno 38. São pais de quatro filhos – Nuno (5 anos), Francisco (4 anos), Bartolomeu (2 anos), Assunção (1 ano) – e o quinto vem a caminho. Em outubro nasce Maria do Carmo.

Nuno e Rita Saraiva de Ponte têm quatro filhos. Em outubro nascerá Maria do Carmo.

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Rita conta que desde cedo sabia que queria ser mãe. “Desde pequena que gostava de ter vários filhos. Quando começámos a namorar sabíamos o que queríamos”. Casaram em 2007 e dois anos depois nascia o primeiro bebé. Rita estava a tirar o curso de fisioterapia quando teve o Nuno. “Quando nasceu teve um problema gravíssimo e esteve um ano inteiro a ser seguido por fisioterapeutas e consultas de desenvolvimento. Foi um ano intenso e sentia-me dividida”. Optou por ficar em casa com o Nuno e dar-lhe “o acompanhamento que precisava”.

Rita é uma pessoa “mesmo muito otimista” e vê sempre o “lado bom das coisas”. É isso que transmite aos filhos.

Os dois mais velhos, Nuno e Francisco, andam no colégio. Bartolomeu e Assunção ficam em casa com Rita. Trocou a fisioterapia pela educação dos filhos e a teve de desenvolver novas valências, como os “desenhos infantis”, diz sorridente.

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Enquanto conversamos, Nuno pede à mãe que desenhe um tubarão. Francisco gosta de polícias “com pistola no cinto”. Chegam a casa cheios de energia e histórias para partilhar: “Mãe, hoje fomos à praia e a água estava fria.”

O facto de Rita poder estar em casa também lhe permite gerir melhor o orçamento. “Sou uma pessoa poupada, não faço gastos supérfluos e desde sempre que gasto o que é preciso e necessário”. Pensa voltar a ter uma carreira, quando os filhos crescerem, mas não na fisioterapia. Algo mais ligado “à gestão, que condiz muito com o que faço agora”. “Eu não ponho dinheiro físico dentro de casa”, explica, “mas também não o deixo sair”. Rita deixa também cair por terra o argumento de que só tem muitos filhos quem tem dinheiro. “Se assim fosse, todos os ricos tinham muitos filhos”.

Não fecha a porta a ter mais filhos. “Não digo nunca”. E ao “contrário do que se pensa”, sublinha, “mais filhos não vêm multiplicar o trabalho. O tempo que demorava a dar o jantar a dois é o que demoro a dar a quatro. Eles crescem e ficam mais autónomos”, afirma.

Porque é que os portugueses não têm mais filhos?
Segundo o Inquérito à Fecundidade (IFEC) 2013, realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), as pessoas têm, em média, um filho e a intenção e o desejo de ter famílias numerosas não existe na esmagadora maioria da população. Em média, as pessoas pensam vir a ter 1,8 filhos e consideram que o número ideal de filhos numa família é 2,3.

A família Marreiros considera que os portugueses não têm mais filhos “porque não querem” e a questão não se resolve apenas com incentivos. É uma “questão de mentalidade”, de as pessoas “perceberem que a família é a base da sociedade e havendo este decréscimo da natalidade, quando se fala em pensões e cortes, no futuro será pior”, afirmam Luís e Filipa.

a sociedade vive muito "centrada no trabalho" e era necessário, "pelo menos, não colocar as mulheres na situação de escolher.

Mariana Arrobas sublinha que não se pode “descurar o facto de quando se adia a maternidade até mais tarde, muitas vezes as pessoas deparam-se com dificuldades que não esperavam” ou então ficou “tão tarde que já não há tempo biológico para a mulher ter o segundo filho em segurança”. Mas além disso, acrescenta, “há muito a ideia de que temos de proporcionar tudo aos nossos filhos: tudo tem de ser do melhor, a roupa de marca, têm de ter os brinquedos todos”.

Rita Saraiva de Ponte considera que a sociedade vive muito “centrada no trabalho” e era necessário, “pelo menos, não colocar as mulheres na situação de escolher: ou tem filhos ou então tem trabalho”. Temos de ser “inteligentes”, sublinha, e pensar “que temos de ter crianças, porque senão não há sustento mais tarde”.

Segundo o Inquérito à Fecundidade os “custos financeiros”, bem como “a dificuldade para conseguir emprego” foram os principais motivos apontados, pelas mulheres e homens, como estando subjacentes à decisão de não querer ter mais filhos, no caso daqueles que já têm.

O que é preciso para os portugueses terem mais filhos?
O inquérito, recentemente divulgado, mostrou que cerca de 94% das mulheres e 92% dos homens, tantos os que não querem vir a ter filhos, como os que tencionam vir a ter, consideram que devem existir incentivos à natalidade.

Mariana Arrobas sublinha que ajudava muito “repensar e alargar o tempo de licença de maternidade e paternidade”. O marido Miguel acrescenta também o trabalho a partir de casa. “Era uma mais valia para as empresas e para as famílias”. Outra sugestão que este pai de seis filhos dá é, por exemplo, “haver benefícios para as empresas que promovam boas práticas com vista a aumentar a natalidade”. Além disso, Miguel fala nas questões fiscais, “IRS diferenciado para quem tem mais filhos” e “não haver limites às deduções com a educação ou a saúde”, por exemplo.

Cerca de 94% das mulheres e 92% dos homens, tantos os que não querem vir a ter filhos, como os que tencionam vir a ter, consideram que devem existir incentivos à natalidade.

No Inquérito à Fecundidade, a medida de incentivo mais frequentemente referida como “a mais importante” foi justamente “aumentar os rendimentos das famílias com filhos”, pela via da redução de impostos e aumento das deduções fiscais. A outra medida de incentivo à natalidade apontada como a segunda mais importante foi “facilitar as condições de trabalho para quem tem filhos, sem perder regalias”.

A natalidade voltou a estar na agenda. O Governo quer que a natalidade seja uma prioridade nacional e europeia. Joaquim Azevedo, professor da Universidade Católica, lidera o grupo de trabalho que irá apresentar em breve um plano para promover a natalidade em Portugal, um dos países mais envelhecidos do mundo e com as menores taxas de natalidade da União Europeia.

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