Ao todo são 206 os ossos que compõem o corpo humano. Mas parece que só nos lembramos deles quando algo acontece, como uma lesão ou alguma fragilidade mais notória. Pedro Cantista, presidente da Associação Portuguesa de Osteoporose (APO), foi o primeiro convidado de uma série de quatro webinares que a associação está a realizar — e aos quais o Observador se juntou —, que pretende, precisamente, alertar para a importância da saúde óssea.
No encontro virtual, sob o tema “Ama os teus ossos”, que decorreu no dia 8 de outubro, Pedro Cantista alertou sobretudo para duas palavras fulcrais em todo o processo: educação e prevenção. “A educação é a ferramenta número um da prevenção”, disse. “Quando falo em educação, é a vários níveis. É a educação, por exemplo, da população, a educação cívica. Mas também a educação em família e ao nível escolar. Inclusivamente, uma educação mais diferenciada e com imensa responsabilidade dos próprios profissionais de saúde, desde médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais…”.
Sendo claro que o envelhecimento traz naturalmente doenças de carácter degenerativo nas artérias, na pele, no coração ou no cérebro, também impacta claramente os ossos. Daí, alerta Pedro Cantista, a importância de adotar estratégias de prevenção. Para melhor explicar, o especialista muniu-se de uma metáfora: a dos bancos. “Economicamente, durante toda a vida, poupo para quando me reformar e não conseguir produzir, ter o suficiente para assegurar uma velhice tranquila. A mesma coisa se passa com os nossos ossos. Se eu durante a minha vida souber cuidar dos meus ossos e ter capital ósseo suficiente para depois usar o menos possível, melhor”.
Como capitalizar a massa óssea
É desde a gravidez que se pode começar a tratar do futuro da saúde óssea do bebé, nomeadamente no que ao conteúdo de cálcio dietético diz respeito. Uma postura que deverá acompanhar os escalões etários e que deverá ser acompanhada de exercício físico. “Resumindo: uma alimentação rica em cálcio, vitamina D e exercício para capitalizar a massa óssea é fundamental”. Essa capitalização, segundo Pedro Cantista, acontece até aos 30 anos. “Nessa altura, entramos num planalto. Na menopausa, por volta dos 50 anos, as senhoras têm menos produção de estrogénio, e os homens, um pouco mais tarde. A partir daí, a curva que cresceu até aos 30 anos começa a descer. Em tudo isto, o estímulo mecânico é muito importante”. Aliás, o especialista alerta que o osso não é um material inerte, é um ser vivo e, desde logo, tem uma renovação.
O que evitar para ossos de ferro
Nicotina, álcool e cafeína em excesso foram, desde logo, três elementos a evitar mencionados por Pedro Cantista. Sódio em excesso e dietas baseadas em demasiadas proteínas também foram mencionadas como algo a evitar pelo especialista. “Aliás, tudo que é em excesso é mau. A moderação é saudável”. Uma das mensagens mais reiteradas por Pedro Cantista durante o webinar foi que grande parte da nossa saúde está precisamente nas nossas mãos.
A mensagem “Ama os teus ossos” ganha particular relevância se tivermos em conta alguns dados fornecidos pelo especialista. “Na Suécia, um estudo relevou que a osteoporose determinava mais mortes que o cancro da mama”. Os rastreios para perceber se há perda de massa óssea são, por isso, deveras importantes. É por isso que há muitos anos que a APO atua neste sentido. O presidente da Associação Portuguesa de Osteoporose alerta, no entanto, que não é necessário realizar uma densitometria óssea demasiado cedo. Nas mulheres, a idade em que deverá realizar a primeira é aos 65 anos, e aos 70, nos homens, a não ser que existam outras condições que possam pressupor uma osteoporose secundária. “Uma pessoa com bronquite crónica, com reumatismo inflamatório e que tomou durante muito tempo corticoides terá indicação para fazer antes. Ou alguém com síndrome de má absorção intestinal e provavelmente com menor capacidade de absorção de cálcio também o poderá fazer, mas isso serão os médicos a pedir.”
Qualidade de vida
“A funcionalidade é um pilar fundamental da saúde”, disse perentoriamente Pedro Cantista. “Muitas vezes, medimos a saúde pela morte. Devemos medir por escalas de qualidade de vida, que são a ausência de dor e a funcionalidade”. Até porque uma sociedade que tem muita gente incapacitada também paga a fatura: moral e económica.
Outro tema discutido no webinar foi o inevitável tema da Covid-19, nomeadamente, o desvio das necessidades assistenciais para a doença. “Estamos a falar em camas disponíveis e em recursos humanos”.
No que à osteoporose diz respeito, o presidente da APO lembra que o confinamento fez com que as pessoas tivessem mais paradas em casa e adotassem comportamentos alimentares menos corretos. “Muitos deixaram de dar a sua voltinha, mas desde que as pessoas mantenham o distanciamento considerado de segurança para o contágio, creio que é fundamental para a saúde física e mental”.
Outro aspeto relacionado com a pandemia que impactou a osteoporose foi o adiamento de algumas cirurgias. “Os blocos estavam menos ativos, mas há que ter bom senso e estudar muito bem as necessidades”, alerta.
No entanto, há um aspeto que Pedro Cantista salienta como positivo na Covid-19: as pessoas voltaram a perceber a importância da saúde nas nossas vidas. “Tudo se resolve, a medicina está avançadíssima. Afinal, não é bem assim”.
Aliás, mais do que tudo, passámos a ter a consciência de que os nossos comportamentos podem impactar a saúde dos outros.
O presidente da Associação Portuguesa de Osteoporose reiterou o papel que esta organização tem na divulgação da mensagem “Ama os teus ossos” e promete “não baixar os braços”. A prova disso é que em tempos de afastamento social, os webinares continuam a acontecer. E o próximo é já dia 22 de outubro, às 15h, sobre saúde óssea e exercício físico, no site e redes sociais do Observador, e Facebook da APO.
Saiba mais em
https://observador.pt/seccao/observador-lab/ame-os-seus-ossos/