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Situation In The Frontlines Of Zaporizhzhia area, Ukraine.
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NurPhoto via Getty Images

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A grande ofensiva russa. Depois de Bucha, Mariupol e Bakhmut, os dias mais sangrentos vão chegar com a primavera

Com a mesma segurança que tinham de que a Ucrânia ia ser invadida, comunidade internacional e Governo de Kiev avisam que a Rússia prepara uma grande ofensiva. Como e onde? Há teorias, não certezas.

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É o remake do filme vivido nas semanas anteriores a 24 de fevereiro de 2022. Um ano depois, quase a completarem-se os 365 dias da invasão russa da Ucrânia, a história, já conhecida do público, repete-se. Em Kiev grita-se, com diferentes vozes políticas (incluindo a do Presidente), que a grande ofensiva russa está a caminho. O intensificar de ataques nos últimos dias (com os de Zaporíjia, na sexta-feira) e os serviços de inteligência do Ocidente carimbam essas declarações com o selo de “informação segura”, embora estes serviços duvidem da capacidade russa para alcançar os objetivos. Na Ucrânia, os pedidos de mais armas continuam, o que permitiria a Volodymyr Zelensky tomar a dianteira e partir para a ofensiva da primavera antes de Vladimir Putin.

Tal como num remake cinematográfico, nem tudo é igual à versão original: há personagens que desapareceram, outras que intensificaram o seu poder. Há mudanças ligeiras na trama e até mais sofisticação técnica — só que em vez de ser ao nível dos efeitos especiais, é no armamento disponível para os combates. Ambos os exércitos usaram o inverno para reagrupar e aumentar a capacidade bélica, sem que nunca parassem de ser trocados tiros. Dias mais sangrentos virão, previu o secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia. “Estou consciente de que as lutas principais ainda estão para vir e acontecerão este ano, dentro de dois a três meses”, afirmou Oleksiy Danilov, considerando que serão dias decisivos.

Russian Retreat From Bucha Reveals Scores Of Civilian Deaths

Bucha, abril de 2022, depois de descoberto o massacre levado a cabo pelas tropas russas

Chris McGrath/Getty Images

Antes da celebração do 9 de maio do ano passado, dia em que a Rússia celebra a vitória sobre os nazis na Segunda Guerra Mundial, muito se especulou sobre que aproveitamento o Presidente Putin faria da data simbólica. Nada. Foi isso que acabou por acontecer. Desta vez, há um dado novo, tal como havia a 24 de fevereiro de 2022: a inteligência ucraniana e ocidental têm detetado fortes movimentações de tropas em direção ao leste do país, o Donbass, que foi o ponto de ignição do atual conflito.

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No entanto, nas redes sociais vários analistas e repórteres de guerra dizem não ouvir este tipo de informação das suas fontes, o que os leva a especular que o tom agudo dos alertas pode ser apenas uma forma de pressionar o Ocidente a enviar armamento o mais rápido possível ou, pelo menos, influenciar a opinião pública.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre as armas necessárias para travar o avanço russo na nova fase da guerra.

As armas que travaram os russos são suficientes?

Quando? Em fevereiro, princípio da primavera

Ainda janeiro não tinha terminado, e depois de visitar Mykolaiv com a primeira-ministra dinamarquesa — um local demasiado próximo da linha da frente, que os políticos da comunidade internacional costumam evitar — Zelensky deixou o primeiro de muitos avisos.

“Penso que a Rússia realmente quer a sua grande vingança. Penso que eles já a começaram”, disse o Presidente ucraniano, a 31 de janeiro, ao lado de Mette Frederiksen, durante uma conferência de imprensa. “Todos os dias trazem mais tropas regulares ou vemos um aumento no número de wagneritas” no campo de batalha.

Com a mesma certeza na voz, Zelensky acrescentou aquilo em que acredita: os russos “não serão capazes de levar um resultado positivo” para casa, enquanto que os ucranianos “pouco a pouco”, irão “pará-los, destruí-los e preparar uma grande contraofensiva”.

epa10380501 A handout picture made available by the presidential press service shows Ukrainian President Volodymyr Zelensky speaking with French Defense Minister Sebastien Lecornu (not pictured) during their meeting in Kyiv, Ukraine, 28 December 2022. Sebastien Lecornu arrived in Kyiv to meet with top Ukrainian officials amid the Russian invasion.  EPA/UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE HANDOUT HANDOUT HANDOUT HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES
“Acho que a Rússia realmente quer a sua grande vingança. Acho que eles já começaram. Todos os dias trazem mais tropas regulares ou vemos um aumento no número de wagneritas”.
Volodymyr Zelensky, Presidente ucranianos, 31 de janeiro

No dia imediatamente a seguir, era Oleksiy Danilov a reforçar a ideia de que o Kremlin prepara um grande embate. “A Rússia está a preparar uma escalada máxima”, disse numa entrevista à britânica Sky News. “Sabemos que está tudo em cima da mesa e posso dizer que não estamos a excluir nenhum cenário nas próximas duas, três semanas.”

A contar da data da entrevista, as três semanas aproximam-se de uma data importante: o aniversário do início da guerra. Coube ao ministro da Defesa — chegou a ser noticiado que seria afastado do cargo, algo que não aconteceu até à data — ser tão específico quanto se pode ser.

“Apesar de tudo, esperamos uma possível ofensiva russa em fevereiro. Isto é apenas do ponto de vista simbólico, não é lógico do ponto de vista militar. Porque nem todos os recursos estão prontos. Mas eles vão fazê-lo de qualquer maneira”, disse Oleksii Reznikov, numa entrevista. “Pensamos que, uma vez que a Rússia vive o simbolismo, tentarão qualquer coisa a 24 de fevereiro.”

epa09940174 A handout picture made available by Regiment Azov press service shows an injured Ukrainian serviceman in a shelter at the Azovstal Iron and Steel Plant in Mariupol, Ukraine, 10 May 2022 (issued 11 May 2022). The Regiment Azov via their Telegram channel on 10 May 2022 have described the situation of their servicemen as "complete unsanitary conditions, with open wounds bandaged with non-sterile remnants of bandages, without the necessary medication and even food" and demanded evacuation to Ukrainian-controlled territory. On 24 February, Russian troops entered Ukrainian territory starting a conflict that has provoked destruction and a humanitarian crisis. According to data released by the UNHCR on 10 May, close to six million Ukrainians have fled their country since 24 February 2022.  EPA/REGIMENT AZOV PRESS SERVICE HANDOUT  HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES

Mariupol, maio de 2022. Soldados do Batalhão Azov eram a última bolsa de resistência na fábrica de Azovstal

Azov Regiment/Cover Images via Reuters

Onde? Essencialmente no Donbass

Se Zelensky acredita que “a vingança” já começou, os serviços secretos britânicos definem uma data. “É altamente provável que a Rússia esteja a tentar reiniciar as principais operações ofensivas na Ucrânia desde o início de janeiro de 2023”, lê-se no relatório da guerra (7 de janeiro) que o Ministério da Defesa do Reino Unido divulga diariamente. Além da data, a inteligência britânica coloca um x vermelho no mapa: “O objetivo operacional é, quase de certeza, capturar as partes restantes do oblast de Donetsk sob controlo ucraniano.”

Há várias semanas que a análise do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) aponta nesse sentido. O curso de ação mais provável, segundo os analistas de guerra do think tank, é uma ofensiva russa no leste da Ucrânia. Porém, isso não é sinónimo de acreditarem que ela possa ser bem sucedida.

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"Apesar de tudo, esperamos uma possível ofensiva russa em fevereiro. Isto é apenas do ponto de vista simbólico, não é lógico do ponto de vista militar. Porque nem todos os recursos estão prontos. Mas eles vão fazê-lo de qualquer maneira.”
Oleksii Reznikov, ministro da Defesa da Ucrânia, 5 de fevereiro

O instituto tem persistido no mesmo diagnóstico, que repetiu a 2 de fevereiro: “Putin pode ter sobrestimado as próprias capacidades militares russas novamente.” Até à data, o ISW diz não ter provas de que o exército russo tenha restaurado poder de combate suficiente para derrotar as forças da Ucrânia no leste do país e capturar mais de 11.300 quilómetros quadrados em Donetsk antes de março, como Putin teria ordenado.

A opinião do analista militar Michael Kofman vai no mesmo sentido. “Suspeito que não será nada de assombroso”, escreveu no Twitter, opinião que mantinha a 9 de fevereiro. “Acho que a ofensiva já começou na prática há semanas, continua focada no Donbass e provavelmente será dececionante em relação a algumas das coisas que se têm dito”, escreveu o diretor de Estudos sobre a Rússia no CAN (Centro de Análise Naval), uma organização sediada na Virgínia.

Outro problema para os russos será a meteorologia. Uma grande ofensiva russa antes de abril de 2023 atingiria o seu auge na estação chuvosa da primavera, segundo o ISW. “A culminação das forças russas poderia então gerar condições favoráveis ​​para as forças ucranianas explorarem a sua própria contra-ofensiva no final da primavera ou no verão de 2023, após incorporar entregas de tanques ocidentais.”

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Dnipro, novembro de 2022. Militares cavam trincheiras

A Donetsk, o ISW acrescenta Lugansk, onde prevê que uma grande ofensiva acontecerá nos próximos seis meses. Esta informação, de 27 de janeiro, coincide com a divulgada pela agência Bloomberg, que cita fontes do Kremlin — Putin pretende levar a cabo um ataque em larga escala até março. O Presidente russo “acredita que a tolerância da Rússia em aceitar baixas permitirá que a Rússia vença a guerra a longo prazo, apesar dos fracassos russos até agora”.

No mapa tático do Governo da Ucrânia, a zona de perigo coincide com as previsões internacionais. A 5 de fevereiro, quando admitia um grande ataque no aniversário da guerra, o ministro da Defesa disse acreditar que a ofensiva russa irá focar-se em duas áreas. Reznikov apontou a região de Donbass (Donetsk e Lugansk) no leste do país — que sofreu intensos combates nas últimas semanas — e o sul. Esta hipótese é também aceite por Danilov, do Conselho de Segurança e Defesa Nacional.

A confirmação desses alvos chega também da Diretoria Principal de Inteligência do Ministério da Defesa ucraniano. Andriy Chernyak garante aquilo que fontes do Kremlin disseram à Bloomberg: “De acordo com a inteligência militar da Ucrânia, Putin deu ordem para tomar os territórios das regiões de Donetsk e Lugansk até março”, afirmou em entrevista ao Kyiv Post. 

GettyImages-1241892891 epa10292401 Ukrainian servicemen in a trench at the frontline at the northern Kherson region, Ukraine, 07 November 2022. Russian troops on 24 February entered Ukrainian territory, starting a conflict that has provoked destruction and a humanitarian crisis.  EPA/HANNIBAL HANSCHKE GettyImages-1241892497

Getty Images

Porém, com base na informação dos serviços secretos, Chernyak considera que tomar o Donbass “é irrealista”, e defende que “não há ameaça” de uma invasão vinda da Bielorrússia, a principal aliada de Moscovo nesta campanha — país vizinho da Ucrânia e onde os exércitos russo e bielorrusso têm feito exercícios militares conjuntos. “Temos observado que as forças de ocupação russas estão a redistribuir grupos de assalto, unidades, armas e equipamentos militares adicionais no leste”, esclareceu. A ameaça de um ataque vindo do norte, fica assim excluída.

Quanto ao sul, esse terá de ser um objetivo ucraniano, mais cedo ou mais tarde, caso Kiev queira libertar Zaporíjia e a Crimeia, península anexada em 2014.

Na véspera das declarações de Chernyak, em entrevista ao mesmo jornal, Mykhailo Podolyak, conselheiro do Presidente ucraniano, frisava não haver motivos para desconfiar da informação que os serviços secretos entregam ao Governo ucraniano sobre as movimentações russas.

“Depois de 11 meses de guerra, e já que a nossa inteligência militar tem sido muito eficaz, é correto dizer que sabemos o que a Rússia está a preparar, e de que direções. Sabemos o que está a acontecer na direção norte, da Bielorrússia. Sabemos que tipos de depósitos têm e onde estão na Crimeia. Sabemos o que está a acontecer nas regiões fronteiriças”, detalhou o conselheiro de Zelensky.

A capital do país, cuja conquista seria a joia da coroa para Putin, parece estar fora dos planos russos. Secretas ucranianas e do Ocidente concordam que nada sugere que vá haver movimentações em direção à capital e quaisquer comunicações detetadas nesse sentido são vistas como contra-informação. “Não vemos grupos de assalto formados capazes de chegar a Kiev”, afirmou Reznikov, quando confrontado com essa ideia. “É impossível capturar Kiev. É uma cidade com quatro milhões de habitantes, pronta para se defender.”

Como? Com recém mobilizados em Moscovo e tanques ocidentais em Kiev

À medida que a grande ofensiva russa parece estar cada vez mais próxima, dentro da própria Ucrânia procura-se saber como vai o Governo lidar com essa ameaça. A pergunta foi feita diretamente a Mykhailo Podolyak, que se recusou a responder aos jornalistas. “Não posso, seria inapropriado falar sobre contraplanos, levando os russos a mudar os seus planos”, disse o conselheiro do Presidente ucraniano.

Andriy Chernyak
“Temos observado que as forças de ocupação russas estão a redistribuir grupos de assalto, unidades, armas e equipamentos militares adicionais no leste. De acordo com a inteligência militar da Ucrânia, Putin deu ordem para que, até março, as regiões de Donetsk e Lugansk sejam tomadas."
Andriy Chernyak, representante da Inteligência Militar do Ministério da Defesa, 1 de fevereiro

E sublinhou essa ideia tanto quanto pode. “Quero enfatizar mais uma vez que é indesejável falar sobre os nossos planos, contramedidas e direções. Vamos trabalhar em todas as direções. Falando muito sobre isso, permitimos que os russos ajustem os seus planos táticos.”

Dar essa vantagem aos russos, defendeu Podolyak, pode levar a um aumento significativo de baixas do lado ucraniano. Outro problema, é mostrar a Moscovo onde estão a ser concentradas as Forças Armadas ucranianas. “Como resultado, eles podem destruir as nossas posições.”

Estratégias à parte, é possível ter uma ideia daquilo que o exército ucraniano poderá ter no campo de batalha, e muito desse equipamento não estava disponível há um ano. Os tanques ocidentais foram um dos últimos apelos de Zelensky aos parceiros, entretanto satisfeito. O novo, são os caças, de preferência F-16, desejo ainda por cumprir.

Russian and Chechen soldiers in a devastated Mariupol Volnovakha, which fell under the control of Russia Partial mobilization in Russia

Ucrânia, 2022. Soldados russos

SOPA Images/LightRocket via Gett

“Nem todo o armamento ocidental chegará a tempo”, afirmou Reznikov, quando assumiu que o aniversário da guerra seria uma data possível para um ataque russo. “Mas estamos prontos. Criámos os nossos recursos e as nossas reservas, e estamos prontos para usá-los e com eles conter o ataque.” Apesar disso, a mensagem para o Ocidente mantém-se a mesma: são precisas mais, mais e mais armas.

No final de janeiro, o ministro da Defesa, acompanhado do presidente do parlamento da Ucrânia, visitou a França para encontros diplomáticos. A necessidade de envio de mais armas foi discutida com o Presidente francês, Emmanuel Macron. “Dizemos aos nossos parceiros que temos de estar prontos tão cedo quanto possível”, afirmou Reznikov numa conferência de imprensa com jornalistas franceses. “É por isso que precisamos de armas para conter o inimigo.”

Se a vantagem do lado ucraniano será o novo armamento que tem vindo a receber do Ocidente, a Rússia também tem aumentado a sua produção de munições e selado acordos com o Irão e a Coreia do Norte — informação que o Kremlin não confirma. Além disso, tem uma mobilização parcial a decorrer, o que ajudará a aumentar o número de homens no terreno. Já a Ucrânia tem treinado militares em alguns dos estados membros da NATO, uma vez que o novo equipamento implica ter militares treinados para o seu uso.

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Kupiansk, dezembro de 2022. Tanque russo destruído

Getty Images

“Nós não subestimamos o nosso inimigo”, garantiu o ministro da Defesa ucraniano. “Oficialmente, a Rússia anunciou a mobilização de 300 mil homens, mas quando vemos as tropas nas zonas fronteiriças, a nossa avaliação é de que serão muitos mais.” Reznikov estima que sejam cerca de meio milhão de militares, boa parte deles não profissionalizados.

Nem só de homens se faz a força russa. “Eles estão a juntar tudo o que é possível, a fazer exercícios militares e a treinar”, afirmou Danilov na entrevista à Sky News. É por isso que a Ucrânia se está a preparar para todos os cenários possíveis, podendo contar com muito mais apoio dos parceiros do que aquele que tinha em fevereiro de 2022. “Os países que nos ajudam na nossa luta começaram a dar-nos ajuda máxima”, frisou o secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia.

“Passamos um período muito difícil, mas estou consciente de que os principais combates ainda estão por vir e vão acontecer este ano, dentro de dois ou três meses. Estes vão ser meses decisivos da guerra”, afirmou Oleksiy Danilov. Para que a balança pese para o lado de Kiev, Danilov, tal como os demais políticos ucranianos, não esconde o que lhes falta. “Seria ótimo termos caças Typhoon. F-16 também seria bom. Qualquer ajuda será boa.”

Tal como entre os ucranianos, o ceticismo sobre o sucesso de uma ofensiva russa em fevereiro reina entre a comunidade internacional. O Ministério da Defesa do Reino Unido considera “improvável” que Moscovo reúna forças e equipamento militar suficientes “para mudar de forma significativa o curso da guerra nas próximas semanas”.

Quem? Rússia ou Ucrânia, quem conseguir disparar primeiro

Nesta fase da guerra, tomar a iniciativa é crucial. Apesar de ser a grande ofensiva russa que está na boca do mundo, não quer dizer que Kiev não decida atacar primeiro. Certo é que, segundo o ISW, a guerra teve, até agora, três fases principais e o atraso na chegada de material bélico fez com que a Ucrânia perdesse oportunidades importantes.

A primeira fase, de 24 de fevereiro a 3 de julho de 2022, foi a da iniciativa russa, quando invadiram a Ucrânia e estiveram sempre na ofensiva. Depois, o conflito virou. “Os ucranianos tomaram a iniciativa e começaram contra-ofensivas em larga escala em agosto, continuando até a libertação do oeste de Kherson, a 11 de novembro.” Esse movimento poderia ter continuado, mas “o fracasso do Ocidente em fornecer o material necessário” à Ucrânia foi o motivo para os avanços de Kiev serem interrompidos.

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"Depois de 11 meses de guerra, já que a nossa inteligência militar tem sido muito eficaz, é correto dizer que sabemos o que a Rússia está a preparar, e de que direções. Sabemos o que está a acontecer na direção norte, da Bielorrússia. Sabemos que tipos de depósitos têm e onde estão na Crimeia. Sabemos o que está a acontecer nas regiões fronteiriças."
Mykhailo Podolyak, conselheiro do Presidente ucraniano, 31 de janeiro

“Isso permitiu à Rússia aplicar pressão em Bakhmut e fortalecer a frente contra um futuro contra-ataque ucraniano”, defendem os analistas do ISW, num dos seus relatórios (29 de janeiro). Apesar disso, consideram que Kiev pode regressar à ofensiva quando as armas ocidentais chegarem. “O padrão de distribuição da ajuda ocidental moldou fortemente o padrão deste conflito.”

A verdade é que não são só as forças russas que estão a rearmar-se e a preparar-se para o ataque, afirmou Danilov. “Temos os nossos próprios planos e eles são claros para nós”, frisou, embora sublinhando que são secretos. Apesar disso, “não estão escondidos dos principais parceiros, Reino Unido, Estados Unidos e outros países que nos têm ajudado”, acrescentou Danilov. “Seguiremos com o nosso plano.”

O mesmo assumiu Podoliak, com uma nuance. Os movimentos russos também são discutidos entre os diversos aliados, com a informação que cada um recolhe através das suas secretas. “Comunicamos com os nossos parceiros, em particular com os serviços de inteligência, sobre os planos futuros da Rússia. E isso permite-nos planear operações contra-ofensivas”, explicou o conselheiro do Presidente Zelensky.

Até quase ao final de janeiro, os conselhos do Pentágono eram no sentido de Kiev esperar pela chegada total do armamento ocidental antes de avançar para o ataque, já que as armas poderiam virar o sentido do jogo. Fonte da administração Biden, citada pela Reuters, acrescentou que os Estados Unidos têm pressionado Zelensky para treinar o mais possível os seus militares antes de levar o equipamento para o campo de batalha.

Apesar disso, falando sobre grandes ofensivas, Podoliak diz que “haverá algumas medidas ativas na primavera”, muito embora elas sejam visíveis em Donetsk e Lugansk no imediato. “Ou seja, a ofensiva está em andamento. Estamos a avançar e a Rússia também está a avançar.” E, claro, o conselheiro do Presidente não tem como negar que ambos os lados do conflito estão a concentrar reservas para a fase seguinte.

“Todas as guerras têm determinados estágios. Hoje, estamos a passar por uma das fases chave da guerra — a de tomar a iniciativa. Quem a agarrar irá liderar de acordo com o seu próprio cenário até o fim da guerra”, acredita Podolyak. Daí ser importante tomar a dianteira. “Para os russos, a situação é uma questão de sobrevivência do sistema político. Para nós, é uma questão de sobrevivência do Estado.”

Como exemplo de que o conflito é tudo menos congelado, Podolyak refere que todos os dias há mais de 100 confrontos ao longo da linha da frente, essencialmente nas regiões de Donetsk e Lugansk. “As posições são bombardeadas mais de 1.000, 1.200 vezes com MLRS [veículo blindado e autopropulsado de lançamento de foguetes] e artilharia. É uma guerra feroz. Percebemos isso e os nossos parceiros também.”

O lado político também é importante e não pode ser excluído dos planos. “No estágio atual da guerra, estamos a preparar-nos para ações mais intensas após a mudança das condições climáticas. As reservas estão a ser acumuladas aqui, com a ajuda dos nossos parceiros, e na Rússia. Para tomar a iniciativa, devemos realizar certas ações de contra-ofensiva porque é necessário determinar quem vai dominar nesta fase – este é um componente político.”

Aconteça o que acontecer com a chegada da primavera, da estação chuvosa e das lamas, houve uma janela de oportunidade, antes do pico do inverno, que foi perdida. “Os atrasos no fornecimento à Ucrânia de sistemas ocidentais de tiros de longo alcance, sistemas avançados de defesa aérea e tanques” limitaram a capacidade da Ucrânia de aproveitar oportunidades “apresentadas por falhas e fracassos nas operações militares russas”, defendeu o Instituto para o Estudo da Guerra, recordando que o país não tem uma indústria militar significativa que possa substituir o apoio ocidental.

Os olhos do Comandante Supremo das Forças Armadas da Ucrânia não estão postos no passado, antes no futuro. A 6 de fevereiro, antes de sair do país para um périplo diplomático (com o objetivo de conseguir mais armas), Zelensky revelou que haverá novos “oficiais com experiência militar” em zonas fronteiriças e na linha da frente, que irão servir para ter “maior eficácia na proteção do país”. Assim, em vez de focar-se na janela de oportunidade perdida, o Presidente ucraniano está a apontar a mira à porta que se abre.

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