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À entrada do centro de vacinação, o vice-almirante entrou sem escolta policial
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À entrada do centro de vacinação, o vice-almirante entrou sem escolta policial

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

À entrada do centro de vacinação, o vice-almirante entrou sem escolta policial

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A noite em que manifestantes cercaram o vice-almirante e um DJ foi a um centro de vacinação

No dia em que o Pavilhão Multiusos de Odivelas recebeu um DJ para marcar o arranque da vacinação dos adolescentes, Gouveia e Melo foi recebido por manifestantes. Polícia teve de intervir.

“Assassino! Genocida!”. Enquanto Henrique Gouveia e Melo entrava no centro de vacinação de Odivelas, cerca de 40 manifestantes gritavam e empurravam o coordenador da task force para a vacinação contra a Covid-19. Impávido e em silêncio, o vice-almirante continuou a caminhar até ver a sua marcha interrompida por uma mulher, que precisou de ser empurrada. Após este incidente, o vice-almirante volta ao seu percurso normal e entra no segundo piso do Pavilhão Multiusos de Odivelas.

Os gritos continuavam, os manifestantes não se calavam e recorriam a megafones para se fazerem ouvir. Sem tempo a perder com os insultos, o vice-almirante responde aos jornalistas e deixa uma certeza. “Não devemos ter medo. Medo de quê? Quando acreditamos numa coisa temos de sofrer as consequências seja lá do que for”, afirmou, assegurando: “Vou passar por ali quando sair”.

“Chamar-me assassino? Não me preocupa nada. O negacionismo e o obscurantismo é que são os verdadeiros assassinos”, reforçou. Depois disto, desce as escadas em direção ao primeiro piso. Mas as vozes dos manifestantes continuam a ecoar por todo o pavilhão. A única exceção era na zona do recobro, onde estava o DJ a tocar música.

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Vice-almirante a empurrar mulher

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A visitar todos os espaços que compõem o Pavilhão Multiusos de Odivelas, e num cenário mais tranquilo, o vice-almirante sorriu, cumprimentou adolescentes, chegou a dar presentes e até trocou dois dedos de conversa com o DJ. Depois, a promessa que fizera cerca de 20 minutos antes cumprira-se: Henrique Gouveia e Melo ia sair pela porta pela qual tinha entrado.

Enquanto isso, os protestos continuavam. Mais manifestantes se juntavam à entrada do segundo piso do Pavilhão Multiusos de Odivelas — já superavam os 50. Ao mesmo tempo, vários adolescentes tiveram de entrar no centro de vacinação e Débora Martinho confessou ao Observador que se “assustou” com o que viu e também “pelo que disseram”. Nas redes sociais, também chegam relatos que mostram a tentativa dos anti-vacinas de tentarem convencer os jovens dos efeitos prejudiciais da vacina.

Apesar dos riscos, o vice-almirante não demonstrou ter medo. Novamente em silêncio e acompanhado por três homens vestidos com um traje camuflado — e desta feita já com escolta policial —, o coordenador da task force saiu do centro de vacinação por onde tinha entrado. Os gritos de há uns minutos voltaram a ouvir-se: “Assassino! Genocídio! Devias ter vergonha!”. E os manifestantes seguiram Gouveia e Melo até o carro que o trouxe ao local sempre gritando “assassino!”.

Com um corpo policial à sua frente, Henrique Gouveia e Melo entrou no carro, mas os ânimos não acalmaram — os manifestantes voltaram à entrada do centro de vacinação de Odivelas. E ficaram por lá a tentar convencer jovens de que não deveriam ser inoculados e distribuindo inclusive panfletos, a que o Observador teve acesso.

Algumas das perguntas presentes no inquérito distribuído

Os manifestantes estiveram na porta de entrada do centro de vacinação cerca de uma hora antes da chegada do vice-almirante. No início eram apenas mais de uma dezena e, por volta desta altura, a polícia chegou a estar no local e conversou com os manifestantes. Posteriormente, as autoridades foram-se embora.

À porta do pavilhão multiusos de Odivelas, a maior parte dos manifestantes estava sem máscara, outros envergavam fatos de proteção individual. À sua frente tinham uma longa faixa: “As crianças não são cobaias”. Havia também outros cartazes, com alguns nomes das supostas vítimas mortais da vacina, e outros a referir que o número de mortes na União Europeia causado pelas vacinas era  de 20.525 (ainda que, em julho de 2021, essa informação não se confirmasse: foram registadas antes 5.201).

À medida que a hora da chegada de Henrique Gouveia e Melo se aproximava, mais manifestantes começavam a chegar ao local. Para tentar combater a música que o DJ punha na zona de recobro, foram colocadas colunas que tocavam uma música de rap que incluía frases idênticas a “o Governo está a controlar-te”, “abre os olhos” e “estás a ser manipulado”.

Pelo meio dos protestos, e depois de bate-bocas com os jornalistas que foram acusados de “formularem uma narrativa”, os manifestantes saudavam o facto de conseguirem dissuadir alguns adolescentes de serem vacinados. O Observador conseguiu testemunhar que depois alguns jovens questionaram os enfermeiros e o staff do centro de vacinação na sequência dos protestos.

Manifestantes estiveram de manhã na Cidade Universitária

No arranque da vacinação para adolescentes no centro de vacinação da Cidade Universitária, também estiveram presentes cerca de dez manifestantes. A mesma longa faixa — “as crianças não são cobaias” — era visível nos dois locais, bem como o modus operandi era idêntico com pessoas a alertar os adolescentes e os pais para os perigos da vacina, entregando-lhes depois um folheto. Além disso, os fatos de proteção individual de alguns anti-vacinas também eram iguais nos dois protestos.

Ao Observador, apesar de alguma reticência inicial do grupo, rejeitando falar ou tirar qualquer fotografia, os manifestantes em Lisboa explicaram que “estavam a lutar pela raça humana” e que as vacinas “estavam a tentar destruir as crianças”. Um porta-voz do grupo, Francisco José, disse mesmo que os pais que levassem os menores a ser inoculados “estavam a levar o filho para o matadouro”, porque as vacinas aprovadas são “todas experimentais”.

Cartaz foi exibido quer em Odivelas, quer em Lisboa

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Finalizada a conversa, Francisco José comenta que, antes de tirar a fotografia, teria de ligar para o “juiz Rui Castro”, criador do movimento “Juristas pela Verdade” e que considerava que medidas como máscara na via pública e o recolhimento domiciliário eram anticonstitucionais. O Observador não conseguiu confirmar a chamada telefónica, uma vez que o representante dos manifestantes se afastou do local onde posteriormente foi tirada a fotografia, mas depois decidiu estar na fotografia.

Rui Fonseca e Castro, o juiz que criou os “Juristas pela Verdade” e acabou suspenso ao fim de 25 dias de polémicas

Os manifestantes, que não adiantaram ao Observador que iriam estar no Pavilhão Multiusos, acabaram por se irem embora da Cidade Universitária para depois estarem em Odivelas, alegadamente pelo facto de estar presente o vice-almirante.

“Simply The Best”: A música dedicada ao vice-almirante

Ao mesmo tempo que no exterior se ouviam colunas com uma música com uma mensagem negacionista, na zona do recobro havia música de cantores famosos como Selena Gomez, Jason Derulo, Bruno Mars e Alicia Keys. “Fiz uma playlist abrangente para a malha urbana”, disse ao Observador o DJ Jigar Govinde, responsável por animar a zona de recobro. Mas havia uma canção que fugia ao estilo pretendido na sua lista musical: a canção “Simply The Best”, de Tina Turner, que começou a tocar à chegada do vice-almirante. E havia uma justificação: “Ele tem feito um bom trabalho e merece”.

Vice-almirante e o DJ

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E o que foi confidenciado ao Observador cerca de uma hora antes concretizou-se. Assim que Gouveia e Melo mete um pé dentro da zona de recobro começa a tocar “Simply The Best”.

Mas o vice-almirante ignorou o elogio. “O the best são as 4.700 pessoas que agiram à nossa volta e tentaram manter vivo este processo sem cansaço e sem desistir”, disse, aludindo aos profissionais de saúde. Além disso, destacou um “dos momentos mais inspiradores que tenho neste processo vacinal”, que foi “ter conversado com jovens que me disseram que aqueles senhores [os manifestantes] andaram a encher-lhes a cabeça e que eles mesmo assim passaram pela fila e vieram vacinar-se foi algo que me encheu de orgulho”. 

Manifestantes tentavam convencer adolescentes a não se vacinarem

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Apesar da dedicatória que o DJ lhe fez, questionado pelos jornalistas o vice-almirante disse apenas que a iniciativa de o trazer para o centro de vacinação era “interessante”, mas que tinha todo o prazer “de apoiar os centros de vacinação neste tipo de eventos”. 

“É bacano”: como os jovens viram o DJ

Pelos olhos dos jovens que foram este sábado vacinados a iniciativa era vista de uma forma ligeiramente mais expressiva que a do vice-almirante. Gustavo Brazil, com 17 anos, que veio tomar a primeira dose da vacina, disse estar a “gostar bastante” pelo “entretenimento” que concedia ao espaço de recobro.

“É bacano”, define Alexandre Bento de 18 anos, acrescentando que “uma pessoa assim relaxa um bocadinho”. Catarina Adão reconheceu mesmo que estava reticente em levar a vacina: “Eu não queria meter cá os pés”. Só veio mesmo “pela festa e pelo DJ”, realçando, no entanto, que a possibilidade de ter o certificado digital lhe seria útil para o futuro.

DJ Jigar Govinde

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Ainda assim, alguns apresentam dúvidas de que o DJ sirva como chamariz para atrair mais adolescentes. “A ideia é boa, mas não acho que vá chamar adolescentes. Apenas os entretém”, refere Miguel Teixeira. Ana Teresa Dias subscreve a sua opinião: “Acho que faz sentido, mas não será por isto que haverá mais jovens a vir”. Por seu turno, Carolina Gonçalves não parecia muito convencida: “É-me um bocado indiferente, mas pode ser interessante para alguns”.

Quanto à vacinação, muitos jovens assinalaram que o processo foi rápido. “Foi bem mais depressa do que pensei que ia ser”, disse Eva Silva, de 17 anos, tal como Diogo Gonçalves.

O Pavilhão Multiusos de Odivelas adaptado a centro de vacinação

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Em geral, os jovens destacaram que a vacinação correu bem e não houve sobressaltos de maior, ainda que, por exemplo, Vitória Valente tenha “fobia de agulhas”, tal como Gonçalo Henriques. Ambos estavam nervosos, mas conseguiram superar o medo.

Confrontados com a manifestação à porta do centro de vacinação, maioria dos jovens e dos pais que os acompanhava reconheceu que lhes passou ao lado. Maria José Tavares, que acompanhava a filha Catarina, diz que “faz parte que haja opiniões diferentes, mas quando se põem a questão da segurança das outras… É caso para ficar incomodado”.

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