Artigo em atualização ao longo do dia de campanha
“Eu sei o que estou a fazer”. Rui Rio continua a sua escalada, a subir, a subir, a subir. Desta vez subiu a um trator, na Quinta da Aliviada, em Lamego, onde ajudou a “Ti Maria” a apanhar maçãs. Com calças azuis e camisa branca, o traje nem era o mais apropriado para estas andanças, o que levou finalmente Rui Rio a perceber porque é que Mário Soares engraxava os sapatos quando andava em campanha: nunca se sabe quando o pó vai levantar. O pó levantou um bocadinho, mas nada que atrapalhasse o presidente do PSD. As maçãs podres, “deixo-as no chão”, e as laranjas, essas “deixo-as para domingo”.
A confiança continua nos píncaros na caravana laranja. De tal forma que Rui Rio até já está a delinear a composição do seu governo, caso ganhe as eleições. Arlinho Cunha, ex-ministro da Agricultura de Cavaco Silva, e ex-ministro das Cidades durante escassos meses no governo de Durão Barroso, será o escolhido para a pasta da Agricultura, e o escolhido até já terá dito que sim. Foi o que Rui Rio quis dizer esta terça-feira, em Lamego, primeiro na apanha das maçãs e depois numa passeata pelo centro — vazio — da cidade, ao lado do cabeça de lista e ex-autarca de Viseu, Fernando Ruas: “Eu tinha em mente uma coisa que não sabia se era possível, mas já liguei e já sei que é: que Arlindo Cunha voltasse a ser Ministro da Agricultura, falei com ele ontem e disse que sim”. Primeiro, porque “é um dos homens que mais sabe de Agricultura em Portugal”, depois, porque no governo anterior do PSD/CDS, a pasta da agricultura ficou nas mãos do CDS (com Assunção Cristas), o que “levou a algum abandono da parte do PSD”. Por isso, o que Rui Rio pretende é “reforçar a presença do PSD na Agricultura”.
Isto quer dizer que Rui Rio, que ainda está a 6,4 pontos percentuais de António Costa (segundo a sondagem de ontem da Pitagórica), já está a formar governo? “Não, mas vou tendo algumas preocupações e vou pensando nisso”, respondeu aos jornalistas. Ou seja, sim, Rui Rio já está a delinear um governo na sua cabeça. Joaquim Sarmento já é assumidamente a escolha para ministro das Finanças, Arlindo Cunha para a Agricultura, e até para a Saúde, já há uma “ideia”. Esta segunda-feira à noite, no comício na quinta da Malafaia, Rui Rio tinha sido claro ao prometer que, quando o PSD governar, não será o ministro das Finanças a mandar no Serviço Nacional de Saúde, mas sim o ministro da Saúde. Quem? “Já sei quem é, já tenho na minha cabeça, mas logo se verá”, disse apenas.
Trunfo? “A minha postura”. Promessa? “Não vou meter a 4ª para não chegarmos ao topo do disparate”
As ruas de Lamego estavam vazias à hora de almoço de uma terça-feira, por isso a “arruada” que estava marcada para o centro desta cidade, foi praticamente inexistente. Problema? Nenhum. Rio desvaloriza e segue contente. “É porque não sabiam que eu vinha, senão estava aqui uma multidão. Se calhar pensavam que era o António Costa…”, por isso é que não vieram, ironizou o líder do PSD. Estamos no distrito outrora conhecido como “cavaquistão”, mas nem se nota. A caravana social-democrata optou por nem sequer ir ao centro de Viseu, para uma arruada, mas é em Viseu que se vai realizar “o único jantar-comício” da campanha, no verdadeiro sentido do termo.
Rui Rio está confiante, sabe que “o PSD está em crescendo” e até arrisca dizer que há uma responsabilidade sua nisso. “O que provocou isto é toda a campanha que temos feito, não só esta mas também a pré-campanha, e, admito que também tem a ver com a minha postura, a postura que eu tenho tido, não só agora como no passado: eu sei o que estou a fazer”, disse aos jornalistas, voltando a insistir que sempre disse a quem o quisesse ouvir que iria chegar à reta final a disputar o primeiro lugar com António Costa, “taco a taco”. “Um vai ganhar, e outro não, como é lógico”.
O caminho faz-se caminhando, e Rio está ciente de que “houve momentos altos e baixos” desde que assumiu o lugar em março de 2018, mas que até os baixos foram aproveitados para “mostrar quem sou”. Na política, com na vida, é nos momentos baixos que mais mostramos quem somos, disse Rio, sugerindo que é também na demarcação dos críticos, e na antítese, que mostra as suas qualidades. “É assim na vida, não só na política”.
As sondagens continua a dar gás ao PSD, mas Rio diz que não acredita e não liga: “Tenho é de fazer o melhor que sei até ao dia 6”. E, para isso, recusou responder às críticas do histórico socialista Manuel Alegre, prometendo mesmo que daqui até ao final da campanha vai manter a terceira engatada, não vai acelerar muito até à quarta. “Se eu agora for comentar tudo aquilo que o doutor António Costa ou pessoas do PS vão dizendo sobre mim, chegávamos a sexta-feira no topo do disparate. Vou procurar manter-me em terceira, nunca acelerar e nunca meter a quarta para o disparate. Eles dizem o que querem dizer e eu deixo-me estar, senão isto descredibiliza a campanha”.
Furacão Tancos? Não vamos exagerar
À saída de uma visita ao Hospital São Teotónio, do centro hospitalar Tondela-Viseu, Rui Rio criticou as cativações de Mário Centeno na Saúde e foi questionado sobre o facto de António Costa ter desmarcado agenda enquanto candidato para vestir o fato de primeiro-ministro e acompanhar o furacão que pode estar a caminho dos Açores.
Ao velho jeito de Rui Rio, que não tem problemas em concordar com António Costa quando é caso disso, afirmou que não acha mal Costa interromper a campanha para monitorizar a situação, dada a gravidade prevista, mas que “enquanto candidato é que não faz sentido interromper a campanha”.
Deslocar aos Açores, é que talvez não seja o mais indicado, já que “não conseguimos parar o vento com as mãos”. A Proteção Civil, diz Rio, é que deve estar em força no terreno com plena capacidade de resposta. “Para acompanhar sim [faz sentido interromper a agenda], para se deslocar lá não sei. Como bem sabemos, não conseguimos travar o vento com as mãos, espero é que a Proteção Civil esteja preparada, e acredito que está, mal fora se não estivesse, com tanto anúncio, no sentido de prevenir e de ter a capacidade de resposta imediata caso se verificar que o furacão passa mesmo ali”, disse.
Agora, se o furacão açoriano é uma manobra para Costa fugir ao caso Tancos, isso já é “exagerar”. “Não vamos exagerar, não vejo ligação entre Tancos e o furacão, ou seja o que for. Nem vejo que o furacão tenha nascido por causa de Tancos”, disse.