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Américo Aguiar foi entrevistado na Rádio Observador para o último episódio do podcast "Geração Francisco"
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Américo Aguiar foi entrevistado na Rádio Observador para o último episódio do podcast "Geração Francisco"

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Américo Aguiar foi entrevistado na Rádio Observador para o último episódio do podcast "Geração Francisco"

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Américo Aguiar e a preparação da JMJ: "Nestes quatro anos, tivemos vários incidentes. O meu papel foi o de fazer pontes"

No último episódio do podcast "Geração Francisco", o bispo auxiliar de Lisboa faz um balanço dos quatro anos de preparação da JMJ e diz-se disponível para a missão que o Papa lhe confiar.

Foram quatro anos de preparação, desde que em 2019, no Panamá, foi feito o anúncio de que a próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ) seria em Lisboa. Pelo meio, a pandemia obrigou a adiar de 2022 para 2023 o maior acontecimento mundial da Igreja Católica, que deverá contar com a presença de cerca de 1,2 milhões de jovens de todos os países do mundo para um encontro de uma semana em torno do Papa Francisco. Assumido desde o início como um desígnio nacional pelo Presidente da República, pelo Governo e pela Câmara de Lisboa, o desafio de preparar a JMJ não foi isento de percalços e polémicas, sobretudo em torno dos enormes custos do altar-palco que vai receber as celebrações finais com o Papa e dos desentendimentos entre organismos do Estado sobre quem paga o quê. Agora, quatro anos depois, a JMJ está pronta e o Papa chega a Lisboa dentro de poucos dias.

[Ouça aqui o quarto episódio do programa Geração Francisco, da Rádio Observador:]

Que Igreja para os jovens? Tudo pronto para a JMJ?

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Na semana anterior ao arranque da JMJ, o bispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar, recentemente nomeado cardeal pelo próprio Papa Francisco e o principal rosto da organização do acontecimento, é o convidado do podcastGeração Francisco“, da Rádio Observador — um programa que nas últimas semanas procurou compreender quem é e o que pensa a geração de jovens que este verão recebe o Papa em Lisboa. Na entrevista, o bispo confirma que está à espera de mais de um milhão de jovens em Lisboa e faz um balanço dos quatro anos que passou à frente da Fundação JMJ, a entidade criada pela Igreja Católica para organizar o evento.

Américo Aguiar reconhece que teve dificuldades em passar para o público a dimensão e importância da JMJ, mas diz esperar que “as pessoas adiram e se convertam à bondade do evento”. O bispo diz respeitar “na totalidade” quem não aprecia ou não concorda com a realização da JMJ, mas apela a que também essas pessoas “deem o benefício da dúvida” e reconheçam que é “muito importante que a juventude do mundo inteiro se encontre na nossa casa, na nossa cidade, no nosso país”.

Sobre o trabalho, por vezes tenso, com os decisores políticos portugueses na organização da JMJ, bem como sobre as polémicas em torno dos custos do evento, o futuro cardeal reconhece que houve “vários incidentes”, sublinha que o seu papel foi o “das pontes, do apaziguamento, da serenidade” e considera que, “com mais ou menos cicatrizes, mais ou menos amolgadelas”, tudo foi ultrapassado. Uma das dificuldades, assume Américo Aguiar, teve origem nas eleições autárquicas de 2021, que ditaram a mudança de cor política na Câmara de Lisboa e contribuíram para aumentar a tensão. “As coisas naquela noite eleitoral foram como foram”, diz o bispo, reconhecendo que “os primeiros meses foram difíceis”, devido à “readaptação às pessoas, às equipas”. Américo Aguiar garante ainda que “as pessoas vão saber, até ao cêntimo, onde é que a Fundação JMJ empregou o dinheiro”.

Sobre a sua recente nomeação cardinalícia, Américo Aguiar diz que ainda não teve oportunidade de falar com o Papa, mas mantém que a considera uma distinção aos jovens portugueses e garante: “Tenho total disponibilidade de pegar na mochila e ir para onde ele quiser.”

Américo Aguiar é o presidente da Fundação JMJ

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“O número de inscritos traduz-se em um milhão, um milhão e 200 mil peregrinos”

A poucos dias do arranque da JMJ, está tudo pronto? O que é que ainda falta?
Está tudo pronto e faltam as últimas coisas. Como quando acolhemos amigos em nossa casa, quando estamos a preparar qualquer evento, qualquer coisa importante que tem a ver com acolher pessoas, acolher amigos, acolher visitas, faz-se sempre aquela última parte da vassoura, do tapete, de esconder atrás da cortina alguma coisa. Mas nós nunca tivemos — e agradeço muito ao Governo de Portugal, aos portugueses, aos trabalhadores, às câmaras — um projeto tão importante, tão envolvente e trabalhado durante tanto tempo. Portanto, as coisas, apesar de tudo, apesar do confinamento, apesar do Covid, apesar desses transtornos todos, estamos a sete dias [a entrevista foi gravada na última terça-feira, 25 de julho] e não há assim uma coisa muito grave que esteja por terminar, que seja complicada. Há coisas mais ou menos em campo, ainda em término, mas não tenho preocupação nenhuma em especial.

Portanto, não há nada que ainda o preocupe, por exemplo no que toca às infraestruturas?
Não. A única tem a ver com os espanhóis, não com as eleições últimas, mas com aquela questão que é a dúvida de sempre. Na segunda-feira de manhã, os nossos irmãos espanhóis vão acordar bem-dispostos e dizem assim: “Vamos todos a Lisboa.” Ora, não é conveniente que isso aconteça, porque senão temos um problema logístico.

A questão dos números, em que está a tocar, é uma das questões fundamentais no debate em torno da JMJ. O próprio Américo Aguiar foi dizendo, ao longo dos últimos tempos, que só nos últimos dias antes da Jornada é que poderíamos ter uma noção maior do número de inscritos, porque as inscrições seriam finalizadas nos últimos dias. A tão poucos dias do início da JMJ, já é possível ter uma noção do número concreto de inscritos?
Sim, eu até em tempo real, atendendo às tecnologias de que hoje em dia podemos usufruir, digo que a esta hora deste dia, a sete dias da JMJ propriamente dita, temos na famosa pré-inscrição 700 mil pessoas. 699 mil e não sei quantos — 700 mil. Na fase 2 estão 501 mil. E inscritos a caminho de Lisboa temos, à data e hora de hoje, 347 mil inscritos. Nós estamos naquele intervalo, que é onde acho que vamos ficar, entre Cracóvia e Madrid. Cracóvia teve 363 mil inscritos e Madrid teve 400 e poucos mil inscritos. Acho que vamos ficar aqui no meio das duas.

Isso traduz-se, depois, em quantas pessoas?
Esse é que é o problema. É que isso traduz-se em um milhão, um milhão e 200 mil. Que é o tal algoritmo que diz que vamos ao número e multiplicamos por dois ou três.

Porque cada inscrito traz consigo mais dois ou três não inscritos.
Exatamente. Nós somos todos iguais, independentemente do país e da cultura: “Tu inscreves-te para ter os dados e nós vamos todos.” É assim que as coisas acontecem. Nós dizemos isto desde o início e convém esclarecer: todas as pessoas podem participar na Jornada sem se inscreverem e sem colaborarem financeiramente em nada. É acesso livre. Portanto, há sempre esta questão. Aqueles que se inscrevem e se sentem corresponsáveis pela organização, e depois a esmagadora maioria que participa.

"Mesmo as pessoas que não apreciam, que não concordam, que eu respeito na totalidade, que pelo menos deem o benefício da dúvida, que é muito importante que a juventude do mundo inteiro se encontre na nossa casa, na nossa cidade, no nosso país."

E toda a gente tem onde ficar? Segundo sei, a organização da JMJ garante o alojamento àqueles que se inscrevem.
Aos inscritos, sim. Temos lugares que ultrapassam estes 347 mil. Temos mais lugares do que estes disponíveis. Vamos ver até onde é que os números alargam. E depois, como acontece noutras Jornadas, é que os lugares acabam também depois por ser absorvidos pelos não inscritos, que acabam por também se aproximar e solicitar a nossa ajuda para serem alojados.

Entre famílias de acolhimento e outras instalações.
Sim. Estamos a falar de sete, oito, nove mil famílias de acolhimento, em Setúbal, Lisboa e Santarém, e estamos a falar de 200 ou 300 mil espaços coletivos de alojamento.

E foi cumprido o objetivo de ter peregrinos de todos os países do mundo, sem exceção?
Perguntei há bocadinho e penso que as Maldivas estão em vias de concretização.

Era o último…
Era o último, era o último. Vamos ver se se concretiza. Ainda neste fim-de-semana, na Terra Santa, o senhor cardeal — agora também cardeal — patriarca de Jerusalém me dizia, com muita alegria, que pela primeira vez íamos ter jovens do Chipre. Pela primeira vez. E, como há dias me disseram — acho que aquilo é uma monarquia —, o Reino do Butão. Também pela primeira vez. Se os jovens que se inscreveram e que estão sinalizados conseguirem chegar a Lisboa, nós teremos jovens de todos os países do mundo.

E o número de voluntários — que esta semana já começaram a chegar em grande número à cidade de Lisboa — é suficiente para as necessidades?
É assim, nós rondámos o tal número mágico dos 30 mil. Penso que chegámos aos 28 mil, se eu não estiver enganado, o que é particularmente significativo. É óbvio que, para as tarefas que é necessário desenvolver, as equipas serão como o acordeão, que tanto estica como reduz. 28.800 e tal inscritos como voluntários [diz, após consultar os números no telemóvel]. Gostava de dizer, e acho que os nossos ouvintes vão testemunhar isso, que nestes dias Lisboa já está a ficar colorida. Já se veem à solta os miúdos que vão chegando. Estive esta manhã em Fátima a acompanhar a equipa do Vaticano que está a fazer uma última visita técnica. E o Santuário de Fátima já estava a borbulhar de línguas, de rostos, de tez, de bandeiras e de cores. Eles estão a chegar.

Por estes dias vive-se pelas dioceses portuguesas a pré-jornada, os Dias nas Dioceses.
É verdade, os Dias nas Dioceses. Penso que ronda os 70 mil jovens que estão espalhados por todas as dioceses portuguesas: interior, litoral, continente e ilhas. É uma festa. Está a acontecer.

Américo Aguiar foi recentemente nomeado cardeal pelo Papa Francisco

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Ao longo dos últimos meses disse várias vezes que uma das suas grandes angústias foi a de não conseguir explicar bem, quer à população portuguesa, quer às comunidades da Igreja em Portugal, a verdadeira dimensão da JMJ, o que pode ter motivado alguns dos equívocos e polémicas sobre os gastos com o palco, com uma série de estruturas. Acredita que nos últimos meses e nas últimas semanas já conseguiu fazer passar esta mensagem ao país?
Eu não, porque acho que as minhas limitações se mantêm. Eu desejo — e rezo, já agora — que a realidade e o contacto direto das pessoas com a realidade que está a acontecer, com a chegada dos miúdos, com o ruído, com a cor, com a festa, com os constrangimentos, que as pessoas pensem: “O fulano tinha razão. Ele afinal tinha razão.” Espero que sim. Que, positivamente, as pessoas adiram e se convertam à bondade do evento, do acontecimento. E mesmo as pessoas que não apreciam, que não concordam, que eu respeito na totalidade, que pelo menos deem o benefício da dúvida, que é muito importante que a juventude do mundo inteiro se encontre na nossa casa, na nossa cidade, no nosso país, que se possam encontrar, que se possam conhecer, respeitar, cuidar. Acho que é importante, quanto mais não seja por isso.

“Os primeiros meses depois das autárquicas foram difíceis”

Agora que o trabalho de preparação da JMJ está praticamente terminado — dentro de poucos dias chega o Papa e não haverá muito mais a fazer —, gostava de fazer um balanço. Sente que em algum momento a organização da JMJ se viu, de alguma forma, submergida em conflitualidade política? Ou seja, que sobraram para a Igreja alguns dos destroços da tensão entre órgãos políticos?
Como sabem, na minha louca infância tive — agora dizem que é cadastro — cadastro politico-partidário. Na altura era currículo, agora é cadastro, mas a vida é assim mesmo. Tenho-o dito aos jovens que não gosto nada de ouvir quando um concidadão meu diz que não quer nada com a política. Acho que com a política devemos querer todos. Outra coisa são os partidos. Agora, a política é o tratar da pólis, tratar da coisa pública. Quando nós abdicamos de uma intervenção política, significa que a nossa vida vai depender de decisões dos outros. Portanto, acho que é muito importante para os jovens e para todos que a nossa afirmação, empenho e dedicação nas questões da política seja permanente.

Agora, é óbvio que, nestes quatro anos, nós tivemos vários incidentes, tivemos vários ciclones, tivemos várias coisas, em que eu tomei consciência de que o meu papel era o de sempre. Era das pontes, do apaziguamento, da serenidade, e com mais ou menos cicatrizes, mais ou menos amolgadelas, fomos ultrapassando.

Estou a falar concretamente, por exemplo, do momento em que houve eleições autárquicas e a Câmara de Lisboa mudou não só de mãos como de cor política em relação ao Governo, e subiu a tensão entre o Governo e a autarquia sobre quem paga o quê. Como foi a sua experiência do convívio entre os vários níveis do poder político e a Igreja nestes anos?
Gostava de esclarecer a todos que não é possível a nenhuma Igreja, em nenhum país, organizar uma Jornada Mundial da Juventude sem o apoio do Estado. Ponto. Nem a Espanha. A certa altura, correu uma narrativa de que a Igreja espanhola fez sozinha. Não é verdade.

Com mecenas…
Certo. Não é possível, porque a dimensão das coisas é tal que não é possível que isso aconteça. Portanto, a colaboração do Estado é fundamental. E nós, em Portugal, temos de agradecer repetidamente ao senhor Presidente da República, ao senhor primeiro-ministro, aos presidentes de câmara da época, aos atuais… Agradecer o total empenho e dedicação no projeto do início até agora. Aliás, eu há minutos, na sede da JMJ, homenageei o Dr. Fernando Medina, o Dr. Bernardino Soares e o secretário de Estado Tiago Antunes.

Os antigos responsáveis políticos…
Os primeiros responsáveis com quem trabalhámos, até às eleições autárquicas ou até à mudança do Governo, em que o secretário de Estado Tiago Antunes deixou de nos acompanhar e passou a ser a ministra Ana Catarina Mendes. Pedagogicamente, a gratidão não faz mal a ninguém. Às vezes, no nosso país, na nossa história, rapidamente esquecemos os protagonistas, esquecemos aqueles que ajudaram, os que fizeram, e nós quisemos testemunhar exatamente o contrário: que todos são importantes neste caminho. E as mudanças que aconteceram… Estamos numa democracia que vai fazer 50 anos, somos adultos, e portanto as coisas naquela noite eleitoral foram como foram. É verdade que os primeiros meses foram difíceis, de readaptação às pessoas, às equipas. Mas depois a velocidade cruzeiro aconteceu e a nossa relação com o Eng. Carlos Moedas, com a sua equipa, e com o Dr. Ricardo Leão, é de velocidade cruzeiro como era antigamente.

"As pessoas vão saber, até ao cêntimo, onde é que a Fundação JMJ empregou o dinheiro. Podem concordar ou discordar, mas saber vão saber todos."

Mas depois das tensões sobre quem paga o quê houve um apaziguamento das relações?
Sim. Nós sabemos, temos de ter todos consciência de que uma coisa é a Igreja ter responsabilidades diretas sobre vários dossiês — e o deve e o haver, o pagar e o receber, é da sua responsabilidade. E, mesmo assim, eu defendo uma total accountability. Ou seja, transparência total nas suas contas. É por isso que a Fundação Jornada Mundial da Juventude, desde a primeira hora, em 2019, tem auditoria da Deloitte permanente nas suas contas, que estão públicas para quem quiser ver. As pessoas vão saber, até ao cêntimo, onde é que a Fundação JMJ empregou o dinheiro. Podem concordar ou discordar. Mas, saber, vão saber todos. Aquilo que são os meios públicos, eu também defendo, como cidadão, que deve existir a maior transparência. E, de facto, daquilo que foi o Governo, cada uma das autarquias, o reajuste entre eles para definir quem é que assume o quê, foi como foi. E pronto, entretanto as coisas concretizaram-se, estão-se a concretizar. E, de vez em quando, é preciso que o quartel dos bombeiros soe o alarme e lá vamos todos a toque de caixa para resolver.

“É como aquelas coisas de um puzzle: por mais que eu vire a peça, não encaixo lá”

Neste momento concreto da história em que temos a guerra de volta ao continente europeu — visitou recentemente a Ucrânia —, continua a haver tensões no Médio Oriente — visitou recentemente Israel e a Palestina —, mas também em Portugal existe uma grave crise económica que se abate também sobre a juventude, com dificuldades no acesso à habitação e ao emprego, que mensagem é que espera que o Papa Francisco deixe à juventude e ao mundo nos próximos dias em Lisboa?
Não posso adivinhar o que ele vai dizer. Mas posso partilhar o que ele me disse ao longo destes anos sempre: trabalharmos para que os jovens sejam sonhadores, lutadores e poetas. Os jovens têm de retomar a coragem e a força de sonharem. Porque a economia, a guerra e a pandemia desmobilizaram-nos, tiraram-lhes a capacidade, deram-lhes medo de serem capazes de sonhar. Sonhar e lutar. Aquela coisa que ele está sempre a dizer de se levantarem do sofá, de serem protagonistas da história, de serem protagonistas das suas vidas. Não se aburguesarem, entre aspas: que pena, não posso, não consigo. Não, pelo contrário. E depois a poesia, que nós sabemos que, até na nossa história, no nosso país, na nossa vida, isto sem poesia não vai lá. Estas três coisas, acredito que ele vai, de alguma maneira, tornar visível. Depois, aquilo que ele me disse sempre: que os jovens devem “hacer lío“, que os jovens devem fazer barulho, que os jovens se devem fazer ouvir, que os jovens devem transmitir-nos aquilo que querem. Não para o futuro — zanga-o quando a gente diz “estes são os homens do amanhã”. Não, não. É de hoje. Daí que a JMJ os tenha provocado, e vamos tentar que isso aconteça durante a Jornada de Lisboa, a partilharem a sua reflexão sobre o cuidado da casa comum, da Laudato Si’, a questão da fraternidade universal e da nova economia de Francisco — são três temáticas estruturais daquilo que nós queremos como provocação de conteúdos e de partilha dos jovens que virão a Lisboa.

Há pouco mais de duas semanas, quando soube que foi nomeado cardeal pelo Papa Francisco — e já falou da surpresa que sentiu naquele dia —, disse aos jornalistas que acreditava que a nomeação cardinalícia estava relacionada com o seu trabalho de preparação da JMJ e que era também uma homenagem ao trabalho dos jovens na preparação deste evento. Nestas mais de duas semanas já teve oportunidade com o Papa?
Não, não. A única coisa que consegui foi ter coragem de escrever uma carta, passado alguns dias. O Papa tem mais que fazer, certamente. Somos 18 ou 20, já não sei ao certo, e portanto isso não aconteceu. Mas não mudei a ideia. De vez em quando ponho-me a pensar, e isto não é uma humildade para me armar em humilde, porque acho que não preciso de o fazer nem ganho nada com isso. Até usei a expressão do “danoninho”, com as caricaturas sucessivas, mas é isso. Eu olho para um cardeal, a imagem que eu tenho de um cardeal, o perfil que eu tenho de um cardeal, e confesso que é como aquelas coisas de um puzzle: por mais que eu vire a peça, não encaixo lá. Mas pronto, a criação dos cardeais é de única e exclusiva iniciativa do Papa. O Papa nomeou. Uma coisa que acho que ele sabe, e eu também sei, e quem me conhece também sabe: eu não baixo os braços nem viro as costas a problemas, nem a lutas, nem a dificuldades, nem a desafios. Se agora é este o desafio, vamos lá.

Nessa carta que escreveu ao Papa, o que é que lhe disse?
Muito disto que acabei de dizer. E terminando a dizer que pode contar comigo. Se Deus me der vida e saúde — já parece uma conversa dos avós —, eu tenho 49 anos, portanto se não morrer antes ou ficar impedido posso ser cardeal eleitor durante 30… O que lhe digo é que o pontificado de Francisco, as suas lutas, os seus anseios, as suas lágrimas, os seus sorrisos, estão garantidos nos próximos 30 anos no coração do Colégio Cardinalício.

E consegue vislumbrar já, a esta distância, o que é que o futuro lhe poderá reservar na sua qualidade de cardeal?
Agradeço que me ajude a que os meus amigos acreditem que eu não sabia. Eu continuo a ter algumas reações pouco simpáticas, de eu ter escondido, de eu não ter dito. Aliás, o meu irmão cardeal de Jerusalém também sofre as mesmas coisas, disse-me isso há dias. Não faço a mínima ideia daquilo que possa significar. A geografia… Eu sei que as pessoas falam de que temos Lisboa à porta, temos Setúbal à porta. Tudo isso é verdade. Mas confesso que não faço a mínima ideia do que é que vai acontecer — e na carta dizia exatamente isso, que o Santo Padre pode contar comigo no que diz respeito à geografia, à latitude, à longitude. Eu sou jovem, tenho alguma saúde, sou escuteiro, tenho total disponibilidade de pegar na mochila e ir para onde ele quiser, fazer o que ele entender, que a Igreja ache necessário, com a urgência e a pertinência que considerem que eu possa executar. Não tenho problema nenhum quanto a isso. Nem do norte, nem do sul, nem de rico, nem de pobre, nem de alto, nem de magro. Estou aqui para todo o terreno, para aquilo que seja necessário e que o Papa Francisco me confie.

 
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