Na apelidada linha dos multimilionários em Nova Iorque, um arranha-céus, que chega a ser mais alto que o One World Trade Center e o Empire State Building (se não forem consideradas as antenas), é o maior edifício residencial dos Estados Unidos e o terceiro a nível mundial. O número 432 da Park Avenue ficou concluído em 2015, mas já antes tinha interessados e até compradores. São 104 habitações e a primeira venda, em 2016, atingiu os 18 milhões de dólares. Mas o recorde ainda estava para ser batido. E nem as acusações, que chegaram a tribunal, de alegados problemas estruturais (com queixas por parte dos moradores de ruído, inundações e elevadores a funcionar mal), esmoreceram esse comprador de pagar 70 milhões de dólares em 2022 por um dos apartamentos.
743 metros quadrados no 82.º piso, com cinco quartos, uma sala multimédia, e com direito a duas suites para empregados em andares inferiores, tinham sido colocados à venda por 66,47 milhões de dólares desde 2016, tendo o valor passado para 79 milhões em abril de 2021. Foi vendido um ano depois a um casal que já tinha um apartamento nesse condomínio, segundo o WallStreetJournal, que identificava os compradores – Yossi Benchetrit e a sua mulher Gaëlle Pereira Benchetrit.
Yossi era identificado como diretor de compras da Altice USA. Gaëlle como fundadora e proprietária da clínica estética Clinique des Champs Elysée News York, que inaugurou em 2020.
Gaëlle é filha de Armando Pereira. Yossi o genro, que esta semana foi suspenso de funções na Altice USA, conforme noticiou o Observador.
Quem é Gaëlle?
Perto do edifício onde adquiriu com o marido o andar de luxo, Gaëlle Pereira Benchetrit abriu a primeira Clinique des Champs Elysée nos Estados Unidos. Diz-se empresária parisiense. Gaëlle mudou-se há seis anos para Nova Iorque, quando Yossi assumiu a direção de compras da Altice USA, com responsabilidade pela estratégia, gestão e compras de bens e serviços, incluindo o imobiliário. Nos vários registos comerciais, de diversos países, Gaëlle surge como acionista da maltesa Sharon Realty e da francesa Red Beyond (com a mãe Odile Fetet, nome de solteira, agora Odile Pereira).
E, num artigo da Life Magazine, escreve-se que divide o tempo entre Paris e Nova Iorque, mas com o verão não será estranho vê-la a passear nas praias de Marbelha.
Pouco se sabe sobre o casal Benchetrit. Gaëlle será a única filha de Armando Pereira e, segundo escrevia a Visão em 2015, será licenciada em cinema. Nesse mesmo perfil de Armando Pereira, a Visão escrevia sobre o “herói de Vieira do Minho” (como Pires de Lima, então ministro da Economia, o apelidou em 2015, quando a Altice comprou a PT) que era um defensor “acérrimo da privacidade dos seus, inimigo das máquinas fotográfica” e que “‘ensinou’ a família a viver o mais discretamente possível”, citando mesmo um amigo, sob anonimato, que dizia que “as fotografias da família estão blindadas, bem como informações sobre a mulher, a filha e os netos”.
Mas foi precisamente a filha que abriu a porta às máquinas fotográficas. Gaëlle Pereira Benchetrit participou este ano num programa de televisão, da Bravo, de dança, designado Dancing Queens. E, apesar de ser uma das concorrentes, poucos são os vídeos em que aparece a falar de si e em nenhum expõe a família, ao contrário das outras concorrentes. Só num dos vídeos assume ser casada (não identificando o marido) e diz ter três filhos. Nunca é referida a idade (concorreu na categoria entre 36 e 50 anos), mas alguns artigos que foram publicados por essa altura colocam-na na faixa dos 40 anos.
Ainda assim explica, num desses vídeos, que as danças de salão apareceram na sua vida quando chegou a Nova Iorque e tinha tempo disponível, já que os filhos estavam na escola e não tinha o que fazer, além de dizer que não conhecia ninguém na cidade que nunca dorme (ainda não tinha lançado a clínica), sendo agora uma “verdadeira paixão” e garantindo: “Mudou a minha vida”. Apesar dessa declaração, nas informações sobre os concorrentes é dito que Gaëlle já andava no circuito das danças de salão, atividade que, no entanto, teve de interromper quando engravidou. Agora revela que pratica muito, cerca de três horas por dia.
Cada casal concorrente tem de ter um profissional e uma estudante e, por isso, amadora. Segundo as regras, a dançarina amadora não pode receber qualquer pagamento mas tem de pagar ao profissional para fazer a parceria. Gaëlle escolheu um dos melhores profissionais nesta área, segundo disseram as outras concorrentes. O seu parceiro foi Nino Langella, um italiano que dança desde miúdo, tendo vencido uma competição pela primeira vez aos 9 anos. Não se sabe quanto recebeu para entrar, agora, no concurso com a filha de Armando Pereira.
O concurso passava por cinco danças latinas: cha cha cha; samba; rumba; paso doble; e jive.
As máquinas fotográficas dispararam durante este concurso em que se percebe um inglês com sotaque. Gaëlle nasceu em França onde conheceu o marido. Armando Pereira emigrara cedo, aos 14 anos, para Paris, tendo conhecido a sua mulher, Odile, em Nancy. Terá sido nessa cidade que começou a sua fortuna, ao criar uma empresa, a Segetrel, que vendeu ao ABN Amron, nos anos 90, por cerca de 40 milhões de euros.
Gaëlle casou com Yossi, mas poucas são as fotografias na internet em que surgem juntos. Ainda assim, neste caminho de entrar na alta roda dos Estados Unidos, há registo de uma presença num jantar de angariação de fundos da associação Citymeals on Wheels, encontro que garantiu 980 mil dólares para a entidade. Nesse encontro, Yossi e Gaëlle são fotografados numa mesa com Lisa Rosenblum, que foi vice-presidente da Altice USA e está ligada a essa associação.
Nas informações públicas abertas há ainda um registo da presença do casa na Casa Branca, em setembro de 2022, num evento em que Elton John atuou e que acabou agraciado por Joe Biden.
Quem é Yossi?
Yossi Benchetrit é genro de Armando Pereira. Diretor de compras da Altice USA foi, no âmbito das investigações em curso que começaram em Portugal, suspenso de funções.
Segundo o Público, o Ministério Público acredita que o caso tem ramificações em outros mercados em que a Altice está presente, como os Estados Unidos, havendo registos de uma fornecedora da Altice USA, a Excell Communications, que será detida precisamente por Yossi Benchetrit. Nas consultas feitas pelo Observador surge como administrador desta sociedade, sediada no estado de Alabama. Abel Barbosa também surge, nos registos comerciais, associado à Smartdev, uma das empresas que estará ligada a Hernâni Vaz Antunes e que adquiriu imóveis à Altice.
Há uma teia de empresas com negócios com a Altice que está sob investigação
Também na Excell Communications estará, como gestor, Duarte Loureiro, irmão de Álvaro Gil Loureiro, um dos arguidos que se encontra detido à espera de conhecer eventuais medidas de coação.
Antes de assumir funções com ligações às compras nos Estados Unidos, Yossi teve incumbência semelhante ao nível da Altice NV, ou seja em todo o mundo. A Europa estava, pois, também no seu radar, nomeadamente em Portugal. Já antes da Altice comprar a Portugal Telecom tinha estado ligado às operações da empresa fundada pelo sogro e Patrick Drahi em Portugal, que tinha as operadoras Cabovisão e Oni. Terá estado em equipas na Altice, a nível mundial, que preparavam a compra da Orange Dominicana, SFR e Portugal Telecom.
É licenciado em engenharia eletrónica pela École Central de Lyon, detendo um mestrado em física pela Université de Versailles Saint Quentin. Tanto o Público como o JN noticiaram que alguns dos contratos e contas bancárias que estão na investigação judicial em Portugal serão do seu pai, David Benchetrit. O Observador não conseguiu confirmar estas informações. As investigações conduzem os negócios de Armando Pereira, em associação alegadamente em associação com Hernâni Vaz Antunes, a vários pontos do globo. Os Estados Unidos é um deles. Aqui a Alice USA está cotada, estando abrangida pelas regras rigorosas de Wall Street. A Altice USA comunicou à SEC (reguladora do mercado de capitais norte-americano) a auto-suspensão de Alexandre Fonseca. Não revelou a saída da Yossi Benchetrit, que foi, no entanto, anunciada em comunicado. Ao Observador fonte oficial da SEC não comenta “a existência ou não existência de uma possível investigação” à Altice USA.