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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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"Arrependido? Não. Sou muito convicto, obstinado. Sei que este é o caminho e confio que serei eleito": entrevista a André Villas-Boas

Em 2021 fechou porta de técnico, em 2022 começou a preparar janela de oportunidade como presidente. Agora, Villas-Boas desafia liderança de Pinto da Costa. Em entrevista ao Observador, explica porquê.

Há pouco mais de dez anos, já depois de passar com sucesso pelo comando técnico do FC Porto, André Villas-Boas não era propriamente um adepto de entrevistas. Tinha dado uma ao jornal O Jogo na Académica, concedeu mais tarde outra englobada no 40.º aniversário do Expresso quando estava no Chelsea, pouco mais do que isso. Agora, passada uma década, tudo mudou. A carreira, os objetivos, as perspetivas, o “sentido de missão”. O antigo treinador não gosta nem mais nem menos de falar do que antigamente, com a diferença de que agora ocupa um papel diferente. Após recusar alguns convites na sequência da saída do Marselha, em aventuras que o poderiam ter levado pela primeira vez à América do Sul ou de regresso à Ásia, decidiu fechar a porta à carreira de técnico em 2021. Foi um adeus aos bancos, foi apenas um até já ao futebol.

“A história não é benevolente com quem se mantém refém do passado”: Villas-Boas apresenta candidatura a citar Pedroto

Quando passou pela Web Summit pela primeira vez, Villas-Boas, uma das caras mais vezes vista no palco do SportsTrade desde que o evento se mudou para Lisboa, deixou sempre a ideia de que continuava demasiado ligado ao jogo mesmo não estando no ativo. Não estava no relvado, estava noutras áreas. Durante dois anos, o antigo técnico montou uma tática que tinha mais do que 11 jogadores, que era exigente nos “treinos”, que tinha muito pelo meio. Quando a 17 de janeiro apresentou de forma oficial a candidatura perante uma sala cheia da Alfândega do Porto, Villas-Boas, sócio desde 1987, mostrou que não quer apenas desafiar aquilo que foram mais de quatro décadas de Pinto da Costa na liderança do clube – quer ganhar a Pinto da Costa.

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Ao longo do dia que passou com o Observador, em vésperas da segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal (a reportagem com o candidato estará disponível no início da semana), o antigo treinador explicou o que difere dos restantes atos eleitorais: pela primeira vez existe uma verdadeira alternativa no universo azul e branco ao “presidente dos presidentes”. Admitindo que é essa perceção transversal que tornou quase diárias as associações da lista B a figuras como Joaquim Oliveira pelos direitos televisivos ou Antero Henrique – que já antes desmentiu que tivesse alguma ligação à sua campanha –, Villas-Boas refere em entrevista que não se arrependeu da aposta mesmo na fase de maior número de ameaças, tentativas de coação e agressões ao seu zelador e explica aquilo que foi preparando ao longo do tempo em áreas como finanças, o futebol, ligação aos sócios e modalidades, deixando a parte final para responder à pergunta de todas as perguntas nestas eleições: como mostrar gratidão pelo legado de 40 anos sem expressar esse sentimento no boletim de voto?

André Villas-Boas na sede de candidatura, que tem sido o espaço principal para fazer apresentações ao longo da campanha

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Quando dá uma entrevista ao Expresso em novembro ainda não como candidato assumido fala na última linha da última resposta do acidente do Dakar, no passeio de mota com os amigos que faz com que faça exames e perceba que tem a L1 fraturada e de uma ressonância que descobre um problema de saúde que nunca iria descobrir se não fosse isso. Foi isso que mudou a sua vida e a perspetiva em relação ao FC Porto?
Ui, não, não… Nada disso, de todo… Levo as coisas com muita naturalidade, não deixou de ser uma consequência de eventos que acabou por detetar algo pior mas sem qualquer consequência grave de saúde. Depois acabou por estar relacionado com os tais 1% das operações à tiroide que acabam por correr mal e podia ter sido um acontecimento grave, dada a hemorragia interna que estava a fazer no pós-operatório, mas não está vinculado a nada do resto…

Nunca pensou ‘Hoje estou aqui por causa disso’? Ou ‘Hoje estou aqui porque não fui treinar o Boca Juniors ou a seleção do Japão’?
Não, também não. Sempre olhei para a minha carreira como uma carreira curta, de 15 anos. Sabia perfeitamente como ela estava delineada e sempre fui invadido pelas emoções em relação à presidência do FC Porto. Emocionalmente toca-me de forma profunda e entendo que este era o momento para me apresentar como candidato.

“O que mais me choca é a forma leviana e de cavaqueira com que se apresentam 50 milhões de prejuízo”, critica André Villas-Boas

Depois desse pontapé de saída para aquilo que se viria a confirmar, que era mesmo candidato, alguma vez se arrependeu nos primeiros tempos perante as coisas que iam acontecendo também à sua volta?
Também não. Não. Sou muito convicto, obstinado. Sei que este é o caminho e tenho muita confiança que esta candidatura vai ganhar as eleições e que serei eleito. Apesar de haver reflexões que em família se fazem tendo em conta o momento…

Isso foi o mais complicado, a família?
A minha família também já me compreende… Sabem que sou uma pessoa com ideias muito convictas e não seriam estes imprevistos ou previstos que iriam levar a um recuar desta candidatura.

Mas sente que nesta altura já está tudo completamente calmo, que é um candidato normal como qualquer outro?
Nós fomos construindo esta candidatura e ela tornou-se uma onda imparável de apoio, digamos assim. Ganha cada vez mais corpo e dá a entender que em caso de vitória a maior parte dos sócios irá eleger esta candidatura. À medida que íamos caminhando, fomos ganhando corpo e força junto dos sócios e adeptos, não só com o projeto mas também com as competências e com as pessoas que temos apresentado. Estou confiante que isto se possa traduzir numa vitória e que seja o reflexo desta vontade de mudança por parte dos sócios em relação ao futuro.

Falou muito que esteve durante dois anos a preparar a candidatura. Como é que se prepara durante dois anos uma candidatura ao FC Porto? E preparou uma candidatura para aquilo que se sabe ou preparou uma candidatura para situações que possam eventualmente não se saber e que possam alterar o projeto que tem?
Tudo está em marcha. É um processo dinâmico porque à medida que vamos caminhando vamos tendo maior compreensão dos factos. Há partilha de informação, depois há partilha do que é a vontade dos sócios, como é que eles veem o clube, o que é para eles o futuro, há uma crescente onda do associativismo, do que deve representar. Portanto, também nos vamos adaptando pelo caminho à medida que vamos ouvindo mais sócios relativamente ao que eles entendem que deve ser o crescimento do clube. Tudo começou com um plano estratégico de análise…

"À medida que íamos caminhando, fomos ganhando corpo e força junto dos sócios e adeptos, não só com o projeto mas também com as competências e com as pessoas que temos apresentado. Estou confiante que isto se possa traduzir numa vitória e que seja o reflexo desta vontade de mudança por parte dos sócios em relação ao futuro."
André Villas-Boas, candidato da lista B à presidência do FC Porto

Mas também foi estudando para isso, as partes que não conhecia tão bem…
Sim, fui-me preparando mas era uma caminhada que fazia parte, quase como uma obrigação de educar-me do ponto de vista da gestão executiva neste campo. Não quer dizer que por ter feito um curso na Columbia University, na Business School, que vá ser um grande gestor de uma grande empresa porque há determinadas competências e pastas que tenho de passar a pessoas que têm muito mais experiência como é por exemplo o José Pedro Pereira da Costa na área financeira. É sobretudo nas áreas da liderança e do conhecimento desportivo que estão as minhas virtudes e as minhas mais valias. Começámos com este plano estratégico, depois fomos atacando a questão das infraestruturas, onde é que colocaríamos uma Academia e um Centro de Alto Rendimento e que opções tomar, depois fomos construindo as equipas que compõem esta Direção e esta candidatura e futura administração. Fomos reunindo essas pessoas e essas competências que estão disponíveis para abraçar este projeto e conseguimos reunir um conjunto de competências muito forte que pode ajudar o FC Porto no futuro. Mas tudo isto é um processo dinâmico. Quando chegarmos, vamos deparar-nos com uma tesouraria esgotada, um clube sem cash flow operacional, onde é preciso criar receita imediata para operar no dia a dia…

“Não há tesouraria para pagar, a não ser antecipação de receitas. É a realidade do FC Porto”, ressalva André Villas-Boas

E sem Liga dos Campeões, confirmando-se o atual cenário…
Provavelmente… Tudo o que se tem passado são indicadores de rutura de tesouraria para os quais temos de responder imediatamente. O que estamos a fazer nesta fase? Estamos a começar a sentar com a banca internacional para ter contactos exploratórios do modo como eles olham para a reestruturação da dívida, alongá-la a taxas de juro muito mais equilibradas do que aquelas que são praticadas pelo FC Porto com determinadas empresas de factoring ou determinados fundos. Estamos nessa fase, tomando posse há imediatismo de tesouraria e de cash flow que temos de resolver para depois implementarmos as nossas ideias do ponto de vista de estruturação, do crescimento do clube a nível comercial, do crescimento a nível desportivo, da formação, do scouting… Tudo isto obedece a um planeamento a curto, médio e longo prazo, para o futuro.

Em relação à Academia não disse que ia rasgar contratos mas vai avaliar aquilo que está feito pelo FC Porto e depois tem também o seu projeto. Em termos financeiros também poderá fazer isso em relação a um acordo em que 30% daquilo que é verdadeiramente a fonte de receita do FC Porto extra vendas está alienada? Dá para mexer, é uma incógnita?
Não sei… Terá que ser analisado. Há duas questões. O parceiro é bom, tem investido em clubes como o Barcelona e o Real Madrid mas em situações totalmente diferentes porque as duas marcas e as duas instituições são totalmente diferentes…

André Villas-Boas aproveitou a preparação para assumir a candidatura para fazer um curso de gestão executiva na Business School da Columbia University

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

E os dois estádios também, que entretanto foram ou estão a ser remodelados…
E os dois estádios… Se bem que um encontra-se numa situação muito parecida à nossa que é o Barcelona, como o FC Porto. Tem uma situação de rutura financeira…

Curiosamente também tem vendido percentagens de outras empresas associadas ao seu universo…
Sim, é isso… O que pedimos foi que o FC Porto pudesse colocar em stand by a negociação destes acordos mais estruturantes, tendo em conta a proximidade das eleições. Evidentemente que o que me dá a entender é que para este due diligence que foi feito por estas empresas ou fundos detidos por outros podia ser feito mas que dessem a este Direção a oportunidade de olhar para esses contratos e decidir se seria o caminho a seguir. É claro que a Direção está em plenos poderes para executar todas as decisões e naturalmente não fez caso deste pedido porque entende também que é o melhor para o FC Porto na sua visão. Há uma questão importante para nós: no nosso entendimento, se tivesse havido muito maior dinâmica da parte da Direção do ponto de vista comercial do FC Porto nos últimos anos, estas receitas comerciais valeriam agora muito mais dinheiro do que o valor que está a ser atribuído para o futuro. Se tivéssemos impactado anteriormente e se tivéssemos sido mais dinâmicos, estas receitas valeriam mais. Não sei se iremos a tempo, não sei que contratos estarão estabelecidos, iremos analisar caso a caso e tomar as decisões sendo que temos boa informação do parceiro. Agora, custa-nos porque sim, há um investimento na parte da infraestrutura do Estádio para criar mais receitas futuras, com bilhética e corporate hospitality a serem exemplos disso, mas não deixa de ser vender algo para ter entrada de capital. Parece-nos que é mais um indicador…

E pode ter sido se calhar demasiado tarde, porque as notícias continuam a ser desmentidas mas existem riscos de ter existido um incumprimento do fair play financeiro da UEFA…
Penso que não porque estamos a falar de um incumprimento anterior dentro desta época desportiva. Há questões que faltam responder, até no comunicado. Há ou não há coima? O FC Porto vai ou não pagar ou já pagou? É verdade ou não que há possibilidade de uma pena suspensa durante um período de três anos por incumprimento relativamente às obrigações financeiras do clube? Todas estas questões não estão por responder…

Ao todo foram 33 perguntas que fez, não teve resposta a nenhuma…
Não, nenhuma. Não tive resposta.

Sagasta 2, Quadrantis, Dragão, Porto Comercial e UEFA: a carta com 33 questões (sem resposta) de Villas-Boas a Pinto da Costa

Se fosse um outro candidato, se tivesse sido Nuno Lobo a apresentar aquelas perguntas, tinham sido respondidas?
Não, penso que não… Nós também temos um entendimento muito claro que seria difícil que nos respondessem a estas questões. Portanto, lançámos as mesmas perguntas através da CMVM para ver se as mesmas ativavam uma resposta por parte da Direção do FC Porto.

Olhando para a parte do futebol, já falou em relação ao papel de Sérgio Conceição, que vai ser o primeiro com quem vai falar, apresentou Zubizarreta e tinha falado o possível sobre Jorge Costa. Não tem falado muito sobre aquilo que é o ADN FC Porto e a capacidade que a equipa tinha em dar respostas à adversidade. Até enquanto treinador, como é que se consegue entra nesta espiral de três jogos sem ganhar no Campeonato e como é que se dá a volta?
Há vários fatores… Por muito que a equipa produza, não tem conseguido ter a eficácia para marcar golos em momentos decisivos do jogo para dar tranquilidade, como tem sido referido pelo treinador. O jogo é isto e a equipa não tem concretizado oportunidades e tem pago um preço muito elevado. Há irregularidade de exibições nesta fase, não está confiante como antigamente e a capacidade de resposta, por experiência própria, virá com o encontrar da vitória que tardou um pouco mais. Que o jogo com o V. Guimarães possa dar esse conforto de confiança para melhor terminar o resto da época [n.d.r. o FC Porto venceu por 3-1 e garantiu a presença no Jamor]. É preciso insistir, transmitir confiança, há a exigência do FC Porto porque não podemos terminar uma época a 18 pontos do primeiro lugar porque não nos reconhecemos nisso tendo um ADN de vitória mas a equipa está em plena consciência disso e uma vitória muda o resto dos jogos. Mas é uma época que fica aquém das expectativas, esperemos que fique melhor com a Taça de Portugal.

“Quando se vende por inoperância, custa. Quando se vende a dez dias das eleições é grave também para os sócios”, lamenta Villas-Boas

Há 50 anos que o FC Porto não chegava a cinco jornadas do final sem ter possibilidade de ser campeão. Muitas pessoas têm falado na questão do fim de ciclo em termos institucionais. Esse potencial fim de ciclo institucional pode ter chegado num prolongamento à equipa? Falava-se muito da importância dos resultados desportivos para aquilo que poderia ser a campanha e as próprias eleições…
A minha campanha é lançada oficialmente a 17 de janeiro e durante esta fase fomos mostrando as ideias do nosso projeto e as pessoas que estão envolvidas no mesmo. Entendemos também por conta destas minhas valências mais desportivas que uma estrutura forte em termos desportivos é absolutamente fundamental para o futuro do FC Porto. Uma estrutura desportiva funcional, bem estruturada, com cargos bem delineados na formação, no scouting, na performance e no seu todo, na direção desportiva. Muitas vezes substitui o papel do treinador para que ele possa dedicar-se apenas à função específica que é orientar a equipa. Isso parece não ter sido o caso nos últimos anos, em que o treinador carregou sobre si e sobre as suas costas todo o peso de uma direção desportiva, dando a entender que é um homem que tem de cumprir determinadas funções de outros porque os outros não estão a acompanhar as suas exigências…

"Fair play financeiro? Há ou não há coima? O FC Porto vai ou não pagar ou já pagou? É verdade ou não que há possibilidade de uma pena suspensa durante um período de três anos por incumprimento relativamente às obrigações financeiras do clube? Todas estas questões não estão por responder..."
André Villas-Boas, candidato da lista B à presidência do FC Porto

É um bombeiro com vários fogos que não apenas o seu fogo que é orientar a equipa…
Claro. Isto aqui no fundo passa pelo meu entendimento do que é uma estrutura funcional a nível desportivo. Enquanto treinador caminhei em vários clubes europeus e tenho o meu entendimento do que é uma estrutura funcional. Quero fornecer essa estrutura funcional e colocá-la ao serviço do FC Porto para que o treinador se possa dedicar especificamente ao trabalho de treinar. Este é o futuro do FC Porto, se o mesmo puder ser sustentado num homem com as valências técnicas, emocionais e de portismo como é o treinador atual muito bem, são as respostas que procuro quando me sentar com ele para esclarecer também qual é a sua visão para o futuro do clube.

Considera que o projeto Pinto da Costa mostrou a sua falência também na forma como foi expondo o próprio treinador durante esses sete anos, pela forma como teve de ir apagando fogos em áreas que não seriam da sua competência?
Digamos que foi um treinador muito interventivo e com muito poder numa organização. Acontece também fruto das suas competências e do que ganhou. O que nós queremos é que o FC Porto continue a ganhar e continue a ganhar mais vezes. Três vezes em 11 anos parece-nos curto e é preciso criar uma dinâmica de vitória, é preciso que o FC Porto se encontre com os títulos. Isso é um compromisso e uma exigência que vai estar nesta Direção porque também nos deixa uma Direção muito vitoriosa nos últimos 42 anos e que formou este ADN de vitória Porto que vai estar sempre em nós. Temos a obrigação imediata de nos encontrarmos com os títulos. Naturalmente que com o passar do tempo e com o treinador, com o seu carisma, carácter e modo de ver o que é o funcionamento da organização, provavelmente substituiu-se a muitas pessoas dentro da estrutura. Foi diretor desportivo, foi diretor de scouting, foi motivador, foi diretor de comunicação… O clube tem de ser muito mais ativo em todas estas áreas para permitir que treinadores desta categoria se foquem apenas no essencial, que é treinar as suas equipas. Este era também o entendimento do meu FC Porto de 2010/11. Existia enquanto estrutura que apoiava o seu treinador e o treinador dedicava-se a treinar o seu conjunto de jogadores e a estrutura estava lá para cobri-lo e para apoiar nos mais diferentes setores com pessoas de diferentes competências. É neste tipo de estruturas que acredito e quero implementar.

Tem estado em várias Casas do FC Porto. Acredita que existe desunião entre os sócios?
Não, há duas candidaturas muito fortes e naturalmente, como em qualquer processo democrático, há pessoas que preferem um candidato ao outro, as suas ideias e os seus projetos. Isto não tem a ver com desunião entre sócios, tem a ver com preferências dos sócios a favor de determinado candidato. Quando assim é, em qualquer eleição, seja de partidos políticos, legislativas, presidenciais, as pessoas escolhem um partido, uma pessoa, um candidato e as suas ideias. Mas não acho que exista desunião. Depois há um corpo comum de ideias para o bem da sociedade e do clube que tem de ser sempre defendido. É isso que acho que os sócios terão a capacidade de fazer a distinção e após essa eleição protegerem sempre o bem comum, que é o clube.

Entre essas visitas às Casas e do que tem ouvido dos sócios, com que ideia ficou em relação a um posicionamento nada flexível do FC Porto em termos de futebol nacional, internacional e país? De ser muitas vezes o FC Porto contra os outros, haver poderes de Lisboa contra o Norte… Acha que esse discurso já passou de tempo?
Nós temos um ADN muito vincado de vitória e somos alimentados em termos de motivação por esse ADN. Nesta região, pouco ou nada é oferecido e temos de combater contra muitas desigualdades e favorecimentos que têm sido mais ou menos evidentes ao longo dos anos na sociedade e no ponto de vista desportivo. O FC Porto tem é de saber que, concentrando-se no seu trabalho, consegue ser muito melhor do que os outros, tem essa potência de clube e pelo ADN bem vincado consegue estar sempre em picos de motivação, excelência e transcendência que o conseguem elevar como o clube português mais reconhecido e com mais sucesso em termos internacionais. Isso não tem nada a ver com a necessidade que o FC Porto tem de crescer nacionalmente na sua rede de associados, adeptos e simpatizantes. Tocá-los de outra forma, estar mais presente com eles, comunicar de outra maneira…


Agora, não somos indiferentes a determinados favorecimentos de linhas editoriais escolhidas por determinada comunicação social. Essas são o que são, sempre foram, não vão mudar e atraem determinado público que é quem os compra. Só vamos conseguir influir quando somos os melhores desportivamente e é aí que tem de estar no foco…

Antigo treinador defende que FC Porto deve ser "o porta-estandarte da reorganização do melhor produto do futebol português"

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Perguntava por isso, porque diz que 88% dos sócios estão no Porto, em Braga e Aveiro. O facto de ter havido sempre esse discurso podendo haver razões para isso não fechou o FC Porto a nível de associados a esta região e, ao mesmo tempo e em paralelo, não fechou o FC Porto em demasia a nível de poderes de decisão nacional e internacional, nomeadamente a Associação de Clubes Europeus (ECA)?
São coisas totalmente diferentes. No tipo de comunicação com os outros, adeptos, simpatizantes e sócios do FC Porto estou de acordo porque é isso que tenho vindo a dizer nas Casas. É preciso uma nova forma de comunicar interna e externa para com estes adeptos, simpatizantes e sócios que estão fora destes 88% e dos três distritos, outra coisa é o poder institucional e o estar mais próximo dos órgãos decisores das competições. O FC Porto tem de estar e deve estar representado ao mais alto nível, fazendo-se sentir exemplarmente. O FC Porto tem que ser, na minha ótica, o porta-estandarte da reorganização do melhor produto do futebol português. Para onde temos de caminhar? Como devem ser os quadros competitivos? Como vamos proteger-nos com a centralização dos direitos televisivos para o futuro, trazendo mais valor e mais valias ao produto? Que caminho para a nossa sustentabilidade financeira e como é que este tempo sensível que estamos a viver enquanto ecossistema com a possibilidade de surgirem Superligas podem ameaçar os contextos do FC Porto? Para isto, é preciso ter preocupação, perceber o fenómeno, estar próximo da ECA, da UEFA, nas Cimeiras de Presidentes da Liga. O FC Porto deve ser esse motor. Se depois a esta dinâmica se agregam depois os outros clubes, melhor é porque criamos um produto melhor.

A nível de modalidades tem falado muito da falta de equipas femininas. Devendo haver uma maior equidade, existe algum caminho para serem mais sustentáveis a nível financeiro? Acaba por ser sempre um calcanhar de Aquiles, porque se competem é para ganhar, para ganhar também custa dinheiro mas as receitas são menores…
Sim, é um equilíbrio difícil de conseguir e é um discurso presente, tentar perceber como podemos tornar as modalidades mais sustentáveis. Normalmente é um custo assumido pelos clubes e é difícil atingir a sustentabilidade total em todas as modalidades, acabam sempre por representar um custo que é assumido. Têm de obedecer a orçamentos mais rigorosos mas que não ponham em causa a sua capacidade competitiva. O crescimento das vertentes femininas é uma obrigação para qualquer clube de topo como o FC Porto. No momento em que nos encontramos temos de fazer de uma ordem progressiva e planeada, estruturando esse crescimento a longo prazo porque não podemos criar mais seis modalidades num ano… Temos o compromisso para o próximo ano da equipa sénior de futebol feminino, temos o compromisso de lançar o futsal mas veremos em que moldes, muito provavelmente de forma construtiva através da formação para daqui a dois anos estar nos seniores…

Consegue perceber o porquê de o futsal nunca ter existido? Dentro do universo das modalidades, o futsal é o que consegue fazer gerar mais receitas e patrocínios…
Não sei, tem de ser provavelmente uma resposta dada pela atual Direção… É uma modalidade cativante, onde Portugal tem resultados cativantes também e onde o FC Porto teve adeptos, simpatizantes e sócios a jogarem nos seus maiores rivais e sem esconder, assumidos. Terá a ver com a falta de infraestruturas. Com esse défice a nível de oferta de um pavilhão de treinos para as modalidades profissionais do FC Porto e a falta de uma Academia de formação, que é inexistente.

Começou a ir agora mais às modalidades de pavilhão. Gosta? É um ambiente diferente? Costuma fazer-se muito a distinção entre pessoas que são de um clube por causa do futebol e as outras que vão a tudo de forma mais genuína…
Por conta da minha carreira nunca estive muito envolvido com as outras modalidades, tenho-me deslocado agora de forma mais frequente ao Dragão Arena para ir conhecendo o que são as suas equipas e as suas dinâmicas. Era importante para mim em termos de projeto fazer um espelho estrutural do que vou ter no futebol, daí a escolha do Mário Santos que será uma mais valia no modelo operacional das modalidades que queremos instituir, sustentável, de crescimento em futuras modalidades nas duas vertentes. É apaixonante e gosto como desportista, as minhas visitas têm sido mais frequentes e cativa enquanto desportista.

Para finalizar, como é que se consegue respeitar a gratidão por quatro décadas de sucesso não mostrando essa gratidão no boletim de voto?
Compreendo que a emoção possa ter um peso a jogar. Uma despedida de uma Direção que tanto nos deu é difícil. Isso é algo que quero garantir aos sócios, e assim tenho feito, que vou honrar o legado que nos é deixado. Que fique explícito e evidente que assim será para o futuro porque essa também é uma forma de criar pressão e responsabilidade sobre esta Direção. Terei muito gosto em permanentemente fazer jus e honrar da elevada importância deste legado aos sócios. Quero que as emoções estejam presentes mas que as pessoas possam decidir também de forma racional. Compreendo que é um momento de viragem em que o FC Porto se tem de lançar para a modernidade porque está vários anos atrás e a acumular prejuízos incalculáveis e a mudança tem de ser agora.

"Quero que as emoções estejam presentes mas que as pessoas possam decidir também de forma racional. Compreendo que é um momento de viragem em que o FC Porto se tem de lançar para a modernidade porque está vários anos atrás e a acumular prejuízos incalculáveis e a mudança tem de ser agora."
André Villas-Boas, candidato da lista B à presidência do FC Porto

Se não mudar, considera que o FC Porto de 2028 será um FC Porto sem ponto de retorno?
Será um FC Porto totalmente diferente caso a candidatura de Jorge Nuno Pinto da Costa seja eleita, isso não tenho a mínima dúvida. Este é o momento em que os sócios têm de decidir o futuro do FC Porto enquanto clube de associados e isso é o que a nossa candidatura que oferece. Tendo em conta a situação atual, a envolvência de determinada pessoa através dos seus fundos que está relacionada com a candidatura de Jorge Nuno Pinto da Costa, o futuro do FC Porto pode estar intimamente ligado aos fundos com as quais essa pessoa está relacionada.

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Alguma vez houve algum tipo de contacto entre pessoas das duas candidaturas para fazerem uma candidatura conjunta?
Não. Não, de todo.

E nesta altura as pessoas que estão Pinto da Costa, perante a forma como a campanha está a decorrer, admitiriam que seria melhor uma solução em conjunto?
Não vejo como seja possível e temos uma ideia totalmente diferente e bem estruturada do que queremos, portanto diria que é demasiado tarde e que não concessões que se possam fazer tendo em conta as visões totalmente diferentes sobre o futuro.

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Qual é a primeira mensagem ou a primeira chamada que fará se for eleito presidente do FC Porto?
A primeira chamada… São tudo processos a ver. Em primeiro lugar, são perguntas. A tomada de posse tem de acontecer num prazo de 15 dias, temos de ver se antecipamos ou não, nos nossos rivais é quase de forma imediata para facilitar processos. As primeiras ações, sem estar a querer antecipar-me, é reunir os funcionários do FC Porto e as pessoas que influem diretamente no seu dia a dia, e aqui estou a falar de funcionários e das suas equipas. Sentar-me, perceber motivações, tentar terminar a época da melhor forma em todos os sentidos e depois reunirmos internamente para estabelecer este plano curto prazo, imediato, tendo em conta as análises extensas que temos de fazer em várias áreas. Na bilhética, nas transferências, na criação de valor, no cash flow… Estabelecer de imediato zonas de intervenção para que possamos estruturar rapidamente o que é o nosso plano a médio e longo prazo. Há um intocável: no curto prazo, o FC Porto tem de ser campeão nacional de futebol em todas as épocas e tem de construir equipas competitivas para tal, é uma obrigação presente. A nossa cultura desportiva terá de ser diferente, porque vai ter de obedecer mais a um projeto formativo do que a um projeto de retoques que se vai construindo com os jogadores. Chamar os melhores da formação, construir equipas competitivas também com a formação. Tem muito mais risco, tem muito mais valor no sentido de pertença também e será o caminho para a sustentabilidade financeira.

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