Não existe propriamente um barómetro para medir votos ou tendências nas eleições do FC Porto e muito menos existe uma sondagem que aponte mais para a candidatura A, B ou C (aquilo que há surge numa ótica meramente interna, com estudos que envolvem universos bem mais curtos do que o total de associados que está nos cadernos eleitorais) mas o número de pessoas que marca presença nos eventos promovidos pelos três nomes na corrida à liderança do FC Porto também pode funcionar como um sinal. Foi isso que André Villas-Boas sentiu esta sexta-feira em Viseu, num encontro com mais de 100 adeptos e sócios da Casa do FC Porto. E se essa enchente reforçou a confiança do antigo treinador, serviu também como palco para algumas das respostas mais marcantes ao longo desta campanha no sentido de “dramatizar” aquilo que pode ser ou não o futuro do clube caso não exista uma mudança como pretende já a 27 de abril deste ano.

“Tenho uma candidatura muito forte e isso causa incómodo aos poderes instalados e aos interesses alheios ao FC Porto”, diz Villas-Boas

“Isto é um sinal de vitalidade para o FC Porto e um sinal que os seus sócios querem ditar qual é que será o melhor rumo a seguir para a história do FC Porto. Não há nada que me dê mais alegria do que nesta caminhada que eu tenho feito ao longo do país encontrar pessoas que me dizem que regressam ou se tornam sócias do FC Porto, caso esta Direção seja eleita. Isto para mim é um sinal forte, de crença, um sinal de pessoas que acreditam num novo FC Porto, mais moderno, que fala de forma diferente, que se relaciona com os associados de forma diferente. E é também um sinal do crescimento que precisamos ter”, apontou.

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“As Casas do FC Porto precisam de uma gestão mais profissional. Muitos dos problemas relacionados com as Casas têm sido por falta de comunicação e isso nunca pode ser um problema. Tem que ser uma via aberta para entender melhor os problemas das Casas, para as dinamizar e para que as mesmas sejam também o dínamo de crescimento do associativismo que tanto necessitamos. Estima-se que só 15% dos sócios das Casas sejam também sócios do FC Porto, o que é um número muito baixo. Temos que considerar que haja benefícios reais para quem é sócio de uma Casa e do FC Porto ao mesmo tempo, para que o clube também cresça em associativismo e que não cresçam só as Casas dentro do seu associativismo”, salientou, entre as oportunidades de crescimento que vê entre um leque de associados que se concentra a 88% nos distritos de Aveiro, Porto e Braga: “O FC Porto vai precisar dos seus sócios e vai precisar de rever também os Estatutos, temos de perceber se faz sentido sócios correspondentes votarem ou terem outros benefícios”.

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Mais tarde, e para explicar o porquê da necessidade de viragem já em 2024, acentuou que o clube de hoje, com tudo o que tenha de bom e de mau, será diferente daqui a quatro anos. “Em 2028, este FC Porto atual, se acabar com o presidente eleito, que eu respeito muito pelo seu legado e pela sua história, não será o FC Porto como nós o conhecemos. Estará vinculado a um fundo específico e a determinado tipo de pessoas que têm uma visão totalmente diferente para o futuro do FC Porto. Só em 2028 é que é possível olhar para esse cenário e ver o que é que resta do FC Porto enquanto o conhecemos atualmente”, começou por referir.

“O FC Porto está a vincular-se contratualmente com determinadas pessoas, através da antecipação de receitas, provavelmente está a dar de colateral em outros contratos futuros para se financiar em direitos comerciais. Portanto, os 70% restantes dessa empresa que vai ser criada, mais passes dos jogadores que estão intimamente relacionados com um fundo onde estão incluídos vice-presidentes da outra candidatura. Portanto, esse FC Porto é um FC Porto totalmente diferente para pior do que este atual, que já está numa condição muito precária. A situação é de urgência. É hora de mudança, de modernidade, de transparência e este é o novo acordar do dragão. O FC Porto acabou de vender 30% do coração e os sócios forma informados zero sobre esta operação, até porque não foi a Assembleia Geral”, criticou Villas-Boas.

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Num outro âmbito, e na antecâmara da apresentação da Direção do Desporto que irá lidar com todas as modalidades que não o futebol, o antigo treinador falou também na necessidade de haver uma mudança na política de contratações. “A direção desportiva é algo que tem de ser reorganizado. É nesta área que vou usar também as minhas valências. É na parte desportiva que serei intransigente, é lá que está o futuro e a sustentabilidade do clube. Exige-se rigor, planeamento, a curto, médio e longo prazo. É preciso olhar para a formação de outro modo. Escolher um jogador à Porto é uma responsabilidade perante os sócios e não pode ser um palco onde se vai deitando dinheiro fora, como tem acontecido”, salientou, citado pelo Record.

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Por fim, André Villas-Boas abordou também a suspensão das obras na Academia de Maia, numa notícia que marcou o dia de campanha. “Não podemos estar sujeitos de novo a prazos que sejam similares à Academia proposta em 2016, em São Mamede de Infesta e Matosinhos, que depois não tinha viabilidade construtiva. Se tivermos de novo impossibilidade de construção ou atraso relativamente à Maia, potencialmente o outro é o que fará mais sentido. É bom e de valorizar o FC Porto ter as duas opções. Esta candidatura, se não for eleita, facilmente cederá todos os projetos que temos relacionados com o nosso centro de alto rendimento à outra candidatura. Já estamos atrasados alguns anos relativamente ao futuro e se estivermos ainda sujeitos a embargos, a paragem das construções, por dificuldades relacionadas com a aprovação das obras, será mais um problema. Neste momento, as duas possibilidades, radicalmente diferentes, são boas”, concluiu.