16h10
O avião da Alitalia em que o Papa Francisco viajou para Portugal saiu do aeroporto de Fiumicino, em Roma, com 12 minutos de atraso: em vez de partir às 14h locais, descolou às 14h12, menos uma hora em Portugal. Lá dentro, com o líder da Igreja Católica, seguiam 69 jornalistas, cinco deles portugueses, e toda a comitiva papal, os cardeais portugueses José Saraiva Martins e Manuel Monteiro de Castro incluídos. “Esta viagem é algo especial, uma viagem de oração de encontro com o Senhor e com a santa mãe de Deus”, disse aos jornalistas, que fez questão de cumprimentar um a um e com quem chegou a aceder tirar selfies. “Obrigado pela companhia e vamos em frente.”
Enquanto o airbus A321 percorria os 1.787 km que separam, em rota aérea, as duas cidades, o que não faltava ainda era espaço no interior do santuário. Nas zonas adjacentes, centenas de peregrinos faziam compras (os terços comemorativos do centenário das aparições, com o selo oficial da Casa da Moeda, chegaram a esgotar em algumas e, a par de velas e lenços com a cara do Papa, terão sido dos artigos mais vendidos), muitos esperavam ordeiramente em filas de mais de uma hora para se confessarem, outros deambulavam apenas pelo recinto admirando as novas obras de arte inauguradas nos últimos dias.
Ainda assim, os melhores lugares já estavam tomados, por peregrinos madrugadores ou que até lá tinham dormido de véspera, debaixo de chuva e frio. Gabriel, um italiano de 33 anos a viver desde há um ano em Santarém, foi um dos milhares de crentes que tiveram de ficar na parte mais atrás do recinto. Não que tenha ficado muito aborrecido por isso. “Trouxe binóculos, quer experimentar?”, disse na altura ao Observador.
Não precisou deles para ver, num dos oito ecrãs gigantes instalados no interior do santuári o, o avião da Alitalia a aterrar na Base Aérea n.º 5, em Monte Real, perto de Leiria, 27 minutos depois de ter entrado no espaço aéreo português — e de começar a ser escoltado por dois caças F-16 da Força Aérea. Eram 16h10 quando o avião tocou o solo português — e os peregrinos em Fátima assistiram a tudo em direto, explodindo em palmas e ovações.
À mesma hora em que o avião fazia a aproximação à pista, eram também às centenas os peregrinos de plantão à porta da Casa Carmo, onde Francisco ficou instalado durante esta breve viagem. De pé, sentados em bancos trazidos de propósito (ou comprados nas dezenas de lojas de artigos religiosos à volta do santuário), ou sentados no chão, os peregrinos ansiavam pela chegada do pontífice. O aparato de segurança também aumentava no local: o Observador contou 8 carrinhas da GNR e dezenas de homens no local. Horas mais tarde, com o Papa no interior da Casa, a jantar, o contingente cresceu ainda mais. Disse ao Observador um elemento do destacamento de intervenção da GNR de Aveiro que eram centenas os militares colocados naquela zona.
16h22
Já fora do avião, Francisco foi recebido na pista por Marcelo Rebelo de Sousa. Depois de saudar o presidente da República e de ouvir os hinos do Vaticano e de Portugal, o Papa cumprimentou António Costa, primeiro-ministro; Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República; Azeredo Lopes, ministro da Defesa; Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros; Eduardo Cabrita, ministro-adjunto; e Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, que também o esperava.
Os aplausos no santuário à chegada do Papa pic.twitter.com/hdrwjcDm0z
— Tânia Pereirinha (@TPereirinha) May 12, 2017
Logo a seguir, em privado, reuniu-se com Marcelo Rebelo de Sousa, numa sala do edifício da torre de controlo, adaptada para o encontro com tapeçarias e outros objetos decorativos.
Enquanto isso, no santuário de Fátima, a escassos 51 quilómetros de distância, já não havia espaço para tantos peregrinos e era cada vez mais difícil entrar no recinto: as portas, controladas por militares da GNR, estavam já a ser abertas e fechadas a espaços, para facilitar o acesso ordeiro dos peregrinos, vindos de 55 países. Manuela da Silva, emigrante em França que veio de propósito a Portugal para ver o Papa e percorreu o caminho até à Cova da Iria a pé, desde Sintra, estava desesperada: “Já dei a volta toda e as entradas estão bloqueadas e agora não deixam entrar. Disseram que só fechavam às 18h!”. Como os restantes peregrinos, que se amontoavam junto aos túneis sul de acesso ao santuário, pôde entrar poucos minutos depois.
Foi muito a tempo de assistir a tudo. À mesma hora, ainda em Monte Real, Marcelo e Francisco saíam da reunião, feita a pedido do próprio Papa, e o Presidente português exibia o presente que tinha acabado de receber: um mosaico, produzido pelo Estúdio de Mosaico do Vaticano em abril deste ano, com os três pastorinhos a rezar perante a Virgem na parte inferior e na superior a representação dos milhares de peregrinos em procissão para o santuário.
Antes de entrar no carro de golfe que o levaria até à capela da base aérea, para rezar a Nossa Senhora do Ar, padroeira da Força Aérea, o Papa, que não percorreu por completo o tapete de flores que tinha à sua espera no chão, ainda teria tempo para cumprimentar a população que o esperava. Já em trânsito, parou por instantes para poder saudar algumas crianças e uma idosa numa cadeira de rodas.
Por coincidência, praticamente à mesma hora, no santuário, voltava a ouvir-se novo aplauso, não para o chefe da Igreja Católica mas para os militares da GNR que, na zona onde o papamóvel iria passar daí a cerca de uma hora, junto à Basílica da Santíssima Trindade, ajudaram Gabriel, um miúdo de apenas 6 anos, numa cadeira de rodas, a sair do meio da confusão. “Precisa de uma bênção do Papa para andar”, dizia o pano que a mãe, brasileira a viver em França, ostentava.
17h25
Na Capelinha das Aparições, no recinto do santuário, os membros do coro iam ensaiando os cânticos que haveriam de entoar durante as celebrações — e tentavam fazer com que os peregrinos, de olhos fixos nos ecrãs, a emitir em direto desde Monte Real, cantassem com eles.
Na pista da Base Aérea, três helicópteros Merlin, da Força Aérea, habitualmente usados para missões de salvamento, estavam já a postos para receber a comitiva papal. As pequenas janelas dos helicópteros foram suficientemente grandes para se poder vislumbrar a silhueta do Papa enquanto rabiscava um papel.
O voo, que partiu com outros 12 minutos de atraso, foi curto. Em pouco mais de 10 minutos, o Merlin já estava a sobrevoar a Basílica do Rosário de Fátima e a passar sobre os peregrinos, que respondiam com palmas e cânticos, incentivados por Marco Daniel Duarte, diretor do Serviço de Estudos e Difusão e membro da secção de Música Sacra do santuário. “Vem, peregrino da esperança! Vem, peregrino da paz! Vem, sucessor de Pedro! Tu és Pedro e sobre ti assenta a unidade da nossa Igreja!”.
Finalmente, a multidão à espera no santuário estava em sintonia com Francisco, no mesmo sítio e à mesma hora, apenas a umas centenas de metros de altitude de diferença. Para o helicóptero onde Marcelo Rebelo de Sousa seguia ter tempo de aterrar primeiro no Estádio Municipal de Fátima, para que o Presidente pudesse cumprir o protocolo e receber uma vez vez mais o Papa em terra, o de Francisco deu duas voltas sobre o santuário, para êxtase das centenas de milhares de peregrinos ali reunidos. Uns mais expansivos do que outros, como a mulher, numa das filas da frente junto à Basílica de Nossa Senhora do Rosário, que abafava qualquer voz num raio de 25 metros, tal era o entusiasmo e o nível de decibéis com que repetia tudo quanto o “animador” da cerimónia dizia ao microfone — “Bem vindo, peregrino da paaaaaaz!”
17h55
Dez minutos. Foi quanto o Papa Francisco demorou a sair do helicóptero (que aterrou faltava um quarto de hora para as 18h) e a entrar no papamóvel, para percorrer os últimos quilómetros da viagem Roma-Fátima. Pelo meio, teve tempo para cumprimentar o bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, e o Presidente da Câmara de Ourém, Paulo Fonseca, e para ser saudado por várias dezenas de crentes que ali se acumulavam há horas, para o receber com ais, lenços brancos e pétalas de flores.
Cada vez mais impacientes, no santuário, os peregrinos iam tendo outros sinais que não os emitidos via televisão, de que a contagem decrescente para o encontro com o pontífice estava finalmente a acelerar. À colunata da Basílica de Nossa Senhora do Rosário, do lado oposto à Capelinha das Aparições, onde ao longo de toda a semana que passou se concentraram maioritariamente os peregrinos, assomavam cada vez mais sotainas pretas e solidéus violeta e vermelhos — uns usados por bispos, outros por cardeais.
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Através da zona reservada à imprensa, por largos minutos intransitável, passaram os bispos portugueses, os cardeais D. Saraiva Martins e D. Manuel Monteiro de Castro, e grande parte da comitiva papal, incluindo o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, que iria presidir à procissão das velas; Dario Viganò, secretário para as Comunicações; o arcebispo Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização no Vaticano; e o padre Antonio Spadaro, jesuíta, editor da revista La Civiltà Cattolica.
Ao mesmo tempo, o papamóvel circulava já na estrada de Minde, ao longo da qual alguns crentes tinham decorado casas e varandas com balões e tiras de flores de papel, em direção à Rotunda dos Pastorinhos, onde centenas de pessoas se tinham reunido para o ver passar.
18h15
Exactamente à hora marcada, depois de uma longa expectativa que deixou os milhares de peregrinos no santuário de cabeça a andar à roda, sem saberem se deviam fixar-se nos ecrãs ou tentar ver para trás, para a zona do terço gigante e da Basílica da Santíssima Trindade, o papamóvel entrou no recinto. Explodiram palmas e agitaram-se bandeiras, repicaram os sinos, ribombou uma música de boas-vindas no sistema de som do santuário. Depois, fez-se um silêncio ensurdecedor, enquanto o Papa, visivelmente debilitado, desceu do carro e se dirigiu à Capelinha das Aparições.
Muitos aplausos e gritos à entrada do Papa no Santuário. O Papamóvel avança pelo corredor entre os peregrinos. pic.twitter.com/4XKOP1d4s6
— Rita Garcia (@RitavGarcia) May 12, 2017
Não durou muito: as orações de Francisco à Virgem de Fátima foram intercaladas com o refrão do hino do centenário das aparições.
“Ave o Clemens, Ave o Pia, Salve Regina, Rosarii Fatimae.
Ave o Clemens, Ave o Pia, Ave o dulcis Virgo Maria”
No final, antes de abandonar a capela, o Papa ofereceu uma Rosa de Ouro a Nossa Senhora, uma das distinções mais importantes concedidas a santuários e instituições católicas — e o santuário de Fátima passou a ter três. Cá fora, recebeu um grupo de crianças de três escolas de Fátima e, depois dos cumprimentos, voltou a entrar no papamóvel, rumo à Casa de Nossa Senhora do Carmo, para um jantar rápido de creme de cenoura com lascas de amêndoa e nacos de corvina.
No caminho de regresso pelo corredor central do santuário, pediu para parar, para abençoar duas crianças, uma delas numa cadeira de rodas. E a brasileira a viver em França, mãe de Gabriel, chorou de alegria e emoção.
19h08
Desde manhã em trânsito, Francisco pôde finalmente recolher-se na Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo, no quarto onde ficou instalado, o mesmo atribuído a Bento XVI e a João Paulo II nas suas passagens pelo santuário.
Na Casa Carmo, como é conhecida, junto à entrada sul do santuário, ficou apenas Francisco e respetiva comitiva (mais duas dezenas de homens do corpo da Gendarmeria da Cidade do Vaticano, que tinham chegado quatro dias antes para garantir a segurança do Papa). Marcelo Rebelo de Sousa ficou instalado exatamente no lado oposto do recinto de oração, na Casa de Retiros de Nossa Senhora das Dores.
Mesmo assim, o descanso de Francisco terá durado muito pouco tempo: o jantar, com o séquito papal apenas (os bispos portugueses e outros sacerdotes comeram numa sala à parte), estava marcado para as 19h30 e o regresso ao interior do santuário agendado para as 21h30.
Bem menos confortáveis mas sem dar mostras de tristeza ou arrependimento, os milhares de peregrinos reunidos em Fátima aproveitaram para fazer o mesmo e, sentados no chão ou sobre os sacos-cama que levaram para passar ali a noite ao relento, ainda de dia mas à mercê do vento frio que entretanto tinha começado a soprar (pelo menos não choveu como aconteceu durante grande parte da semana e até estava previsto para o dia), abriram sacos e geleiras e trataram de jantar, num gigante piquenique improvisado.
21h05
A procissão das velas só estava marcada para as 21h30, mas, poucos minutos depois das 21h, Francisco já estava de regresso ao santuário, para desespero de muitos peregrinos que tinham aproveitado para sair do recinto para ir à casa de banho ou comprar velas e que, na entrada norte, se viram temporariamente impedidos de entrar.
Perderam a iluminação do terço de Joana Vasconcelos (que estava no santuário para testemunhar o momento, tal como Marco Paulo ou Lili Caneças) e a quebra de protocolo de Francisco que, à passagem pelo Monumento ao Sagrado Coração de Jesus, saiu do papamóvel e percorreu alguns metros do caminho até à Capelinha das Aparições, acenando, aproximando-se das grades e deixando que lhe beijassem a mão.
Do lado oposto do recinto, na colunata sul, o Presidente Marcelo segurava já nas mãos uma vela acesa, António Costa, primeiro-ministro, também tentava descortinar as movimentações do Papa, à distância, mas sem nada nas mãos.
21h15
Com Francisco em oração, mais uma vez dentro da Capelinha das Aparições, novo silêncio no santuário, como se não estivessem ali tantos milhares de peregrinos, crianças pequenas e até bebés de meses.
O Papa rezou com eles logo a seguir, para depois acender a sua e dar início à bênção das velas. Junto às grades, voluntários de serviço no santuário fazem circular uma candeia pelos peregrinos mais próximos das grades, para que também eles possam acender as respetivas velas e partilhar depois a chama com os demais. Milhares de pontos tremeluzentes e brilhantes cobrem todo o santuário. Só se extinguiriam daí a mais de uma hora, no final da procissão, presidida pelo cardeal Parolin, já Francisco estava retirado nos seus aposentos.
Antes, o Papa tinha feito o primeiro discurso em solo português — e em português. E rezado o terço com os peregrinos.
22h25
Cansado e curvado, Francisco, de 80 anos, voltou a subir para o papamóvel mas em vez de atrás, em pé, preferiu seguir ao lado do motorista, sentado. As dificuldades para entrar no carro foram notórias e não faltou na sala de imprensa quem comentasse o tema da saúde do Papa, escassos meses depois das notícias publicadas sobre os seus putativos problemas de saúde e a vontade expressa a colaboradores não identificados de não querer manter-se em funções para lá dos 85.
Os peregrinos disseram-lhe adeus e ficaram no santuário — muitos a noite inteira, enrolados em sacos-cama, cobertores e até mantas isotérmicas. Se o Papa manteve os horários que cumpre no Vaticano, quando acordou, às 4h30 da madrugada, para duas horas e meia de oração, muitos deles estariam a assistir à missa, na Capelinha das Aparições.
9h10
O encontro agendado com o primeiro-ministro português começou à hora e terminou ainda antes dela: trinta minutos foi quanto tempo o líder da Igreja Católica tinha disponibilizado para receber António Costa, que às 9h32 já estava a sair da Casa Carmo.
Uma hora antes, com o santuário de Fátima a abarrotar, com dezenas de bandeiras ao vento, eram centenas os peregrinos ainda do lado exterior do recinto, carregados com bancos e chapéus de chuva, trazidos desta vez para aparar os golpes de sol. Muitas, muitas pessoas não conseguiram chegar a entrar.
9h40
Com a Casa Carmo tão perto e com a entrada do Papa programada para a porta da sacristia da Basílica de Nossa Senhora do Rosário, na lateral sul do santuário, a poucos metros de distância, rapidamente se percebeu que Francisco ia passar à porta da zona de imprensa. Algumas dezenas dos 775 jornalistas acreditados (de entre um total de 1600 profissionais de comunicação), esperaram durante minutos até que se percebeu que o Papa ia passar, sim, mas que por motivos de segurança toda a gente tinha de voltar ao interior da sala.
Em vez de no papamóvel, Francisco surgiu finalmente num Volkswagen azul escuro com matrícula do Vaticano, de janela aberta, escoltado por dois carros de golfe e duas dezenas de membros da Gendarmeria. No final, à chegada à sacristia, cumprimentou Joaquim Pereira da Cunha, de 104 anos, o padre mais velho de Portugal. E o bispo de Leiria-Fátima, António Marto, que o recebeu.
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Antes, tinha parado para abençoar mais um bebé e aceitar, das mãos de uma menina de 3 anos, um solidéu, que imediatamente trocou pelo que trazia, como aliás é seu hábito. Em 2016, um barrete que tinha trocado em 2014, na Praça de São Pedro, em Roma, com um apresentador de televisão italiano chegou a ser leiloado, com os lucros a reverter para uma organização não-governamental de apoio a crianças de países subdesenvolvidos.
No interior da basílica, onde estão depositados os corpos de Jacinta e Francisco Marto, os pastorinhos mortos com bronco-pneumonia a 4 de abril de 1919 e 20 de fevereiro de 1920, bem como o da Irmã Lúcia, e enquanto a imagem de Nossa Senhora de Fátima era trazida desde a Capelinha das Aparições, o Papa rezou sozinho. A missa, a única a que presidiu durante esta breve passagem por Portugal, estava marcada para as 10h.
10h07
Já entoado o Veni Creator Spiritus, hino antigo católico com que foi dado início à cerimónia de canonização de Francisco e Jacinta, D. António Marto, bispo da diocese de Leiria-Fátima e autor da causa dos pastorinhos, fez o pedido formal de canonização ao Papa.
Vinte minutos e várias orações depois, o processo estava concluído — Jacinta e Francisco são oficialmente os mais novos e os mais jovens santos da Igreja Católica.
11h25
Sob o olhar atento de milhares de peregrinos no santuário e fora dele, à volta dos ecrãs espalhados nas imediações, Francisco prosseguiu com a missa e fez a homilia. Antes de dar início à distribuição da comunhão, que se prolongou durante quase meia hora, recebeu e cumprimentou, junto ao altar, Lucas, de 9 anos. É à cura da criança brasileira, que no dia 3 de março de 2013 caiu de uma janela de uma altura de 6,5 metros e chegou ao hospital com um prognóstico de morte quase certa ou sequelas neurológicas, que a Igreja atribui o milagre dos pastorinhos acabados de canonizar. Na fila, para serem abençoados pelo pontífice, estavam ainda Francisco e Jacinta, os filhos de um funcionário do santuário, claramente devoto dos pastorinhos, por sua vez chamado Jorge, como o Papa — e argentino, como ele.
12h52
O almoço com os bispos portugueses estava agendado para as 12h30, na Casa Carmo, e deveria durar 45 minutos apenas, contados e ensaiados, durante a semana passada, num jantar-teste, ao segundo. A oito minutos das 13h, porém, o Papa Francisco ainda estava no altar da Basílica de Nossa Senhora da Rosário, a começar as despedidas da imagem de Nossa Senhora, de regresso à Capelinha das Aparições. De lenço na mão, como as centenas de milhares de peregrinos dentro e fora do santuário, Francisco participou na Procissão do Adeus, um dos momentos mais emotivos a que, no recinto, alguns peregrinos não resistiram — pelo cansaço ou pela emoção, várias pessoas foram socorridas e retiradas de maca.
13h10
De volta ao papamóvel, deu uma última volta pelo recinto do santuário, para êxtase dos peregrinos à sua passagem — uma mulher de hábito religioso chegou mesmo a romper o cordão de segurança e, precisamente no momento em que o carro com Francisco ia a passar por ela, atirou-se-lhe ao caminho. À medida que o líder da Igreja Católica abandonava, agora de vez, o recinto, os sinos voltaram a repicar e as palmas a fazer-se ouvir. Lá fora, no curto trajeto desde a saída lateral sul do santuário até à Casa Carmo, uma multidão imensa fez questão de aguardar para aplaudir também e dizer adeus.
13h21
Enquanto alguns peregrinos aproveitavam para subir ao altar, entretanto libertado de grades e outros dispositivos de segurança, e arrebanhar as margaridas brancas e as frésias amarelas que até então o decoravam, o Papa chegou à Casa Carmo, para o almoço com os bispos.
14h15
Menos de uma hora mais tarde, já estava pronto a sair da Casa Carmo. Do lado de fora do muro que a rodeia, dezenas de crentes gritavam, estilo cântico de futebol: “Pa-pa Fran-cis-co! Pa-pa Fran-cis-co!”. No interior, o pontífice era ainda apresentado aos funcionários do santuário de Fátima, com quem tirou uma fotografia de grupo (e benzeu terços a pedido).
14h32
Chegado à rotunda norte de Fátima, Francisco saiu do papamóvel e trocou de carro, para o Volkswagen da manhã, não sem antes ouvir a atuação da Orquestra Clássica de Fátima. A viagem, pela autoestrada, até à base aérea de Monte Real foi acompanhada de perto por helicópteros, e feita com uma escolta de cinco carros.
15h21
Uma vez na base aérea, saiu do carro e, conduzido por Marcelo Rebelo de Sousa, dirigiu-se para a pista, onde o aguardavam alguns bispos portugueses (abraçou o anfitrião D. António Marto), o primeiro-ministro, António Costa, Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, e António Almeida Ribeiro, o embaixador português junto da Santa Sé.
15h28
Feitas as despedidas, o Papa Francisco chegou ao fim da passadeira vermelha estendida na pista e subiu os degraus de acesso ao avião da TAP levando, como de costume, a própria mala na mão esquerda — acenou com a mão direita no topo da escadaria, entrou e sentou-se junto à terceira janela, do lado direito da coxia.
15h53
Ao fim de 25 minutos de espera, o avião Grão Vasco, bandeira de Portugal do lado esquerdo e do Vaticano do lado direito, descolou finalmente. Ao todo, o Papa Francisco esteve 23 horas e 43 minutos em Portugal.