A promessa? Deixarmos de limpar casa. O resultado? Vamos ter de continuar a fazê-lo, mas com maior facilidade. Testámos dois modelos de aspiradores robô, os Roomba 696 e 980, da iRobot, uma das empresas pioneiras da tecnologia doméstica que está a entrar cada vez mais em mais casas. Pusémo-los à prova contra algumas das principais sujidades que se pode encontrar num lar e, depois, levámos (literalmente) os robôs para a rua.

[Veja aqui a nossa experiência com dois robôs aspiradores. Pusemo-los à prova com um cão, penas, geleia e na calçada portuguesa]

Em vez de máquinas humanoides que pegam numa vassoura ou esfregona por nós, os robôs que atualmente estão disponíveis no mercado têm, por norma, um design redondo e achatado. Mesmo assim, limpam sozinhos todos os cantos e superfícies.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Como qualquer gadget, há os topos de gama mais sofisticados e com mais opções e os menos rebuscados, que se limitam a aspirar. No fim, são como os smartphones: todos fazem chamadas, mas os mais caros costumam ser mais rápidos e eficientes a fazê-los do que os mais baratos. Uma coisa, contudo, é comum à maioria destes aspiradores: são smart (inteligentes). Ligam-se — por Bluetooth ou Wi-Fi — a apps para podermos controlar a bateria, para agendarmos a ligação automática e a forma como vão aspirar cada divisão.

O nosso teste. Pó, penas, geleia, pêlos de cão e uma calçada portuguesa

Depois de vermos os modelos disponíveis no mercado, optámos por experimentar dois modelos da iRobot, os Roomba. Além de os robôs desta marca serem os mais comuns no mercado, a iRobot foi a primeira empresa a introduzir esta tecnologia no mercado, em 2002. Assim, as vítimas das nossas experiências foram o Roomba 696, um modelo de entrada, e o 980, um topo de gama.

Apesar de os dois aspirarem uma divisão autonomamente, há diferenças consideráveis. A principal é mais tecnológica: a forma como mapeiam uma divisão e a limpam. Aqui, o 980 é mais avançado. As outras diferenças têm a ver com os aparelhos em si. O mais avançado tem motores que sugam o ar com mais potência e escovas que detetam e limpam melhor carpetes, além de ter mais autonomia. Contudo, mesmo sendo menos potente, o 696 esteve à altura.

Simulámos no nosso estúdio — sim, o estúdio onde filmamos o “Conversas à Quinta”, mas avisámos que íamos levar um cão —  o espaço de uma pequena sala de cerca de 15 metros quadrados (contámos com a ajuda das virtual wall, uns pequenos sensores retangulares que, por laser, criam uma “parede” que os robôs, teoricamente, não passam). O único pedido explícito que tínhamos da marca era: “os robôs não aspiram água, não os ponham a aspirar água porque isso queima os motores, mesmo”. Apesar de termos ficado tentados para ver o que acontecia, cumprimos o pedido e juntámos quatro tipos de sujidade: pó, penas, geleia (não é um líquido) e pelos de cão.

Primeiro teste, pó. Recorrendo aos saco do aspirador da redação (um normal, que precisa de um humano a operá-lo), espalhámos o cotão e pó que tinha sido aspirado do chão nos últimos dois dias. Com as apps já instaladas — bastou um smartphone para sincronizar os dois modelos na mesma aplicação — mandámos limpar o espaço. Esperámos, esperámos e até vimos o 696 a passar uma das virtual walls (estavam ligadas e com pilhas, confirmámos). Muito foi limpo, mas houve espaços em que nem sequer passaram antes de decidirem voltar à base. Os dois foram eficientes, mas, no final, o 980 tinha mais pó no recipiente interno do aspirador.

Segundo teste, penas. Neste momento, já tínhamos visto que os aspiradores realmente recolhem a sujidade do chão, mas vão ser precisas uma vassoura e uma esfregona para que fique tudo limpo. Com as penas, ficámos mais preocupados, porque o teste ia mostrar se os Roomba atiram ou não sujidade para o ar. Não aconteceu. Mesmo sentindo que os ventiladores atiravam ar, estes andaram de um lado para o outro e, mais uma vez, aspiraram, mas ficaram penas no chão. Na recolha das penas, tanto o 696 como o 980 tiveram resultados semelhantes.

Terceiro teste, geleia. Sabíamos à partida que este teste ia ser mais complicado, porque os aspiradores normais não aspiram geleia. Contudo, se houver crianças em casa, é possível que possam encontrem debaixo do sofá coisas como uma torrada e geleia esfregada no chão. O objetivo foi ver isso mesmo: como é que os Roomba lidam com sujidade que não é suposto existir. Geleia de morango no chão e o 696 foi o primeiro a passar-lhe por cima. Tanto para as escovas como para o chão o resultado foi tenebroso. Aspirou e não queimou os motores, mas espalhou ainda mais a geleia quando continuava a rolar. Quando usámos o 980, o robô foi mais comedido na sujidade, porque tem borracha e aspiradores internos, mas o resultado foi semelhante. No final, tivemos de ir buscar a esfregona.

Deixámos como último teste no estúdio a experiência com um Golden Retriever, o Macshade, ou só ‘Mac’ (que não foi maltratado, garantimos). Bastou entrar no estúdio para o local ficar cheio de pelos, como é comum acontecer com estes cães. Com o chão já limpo da geleia, aproveitámos o pelo em queda e pusemos na área de teste, onde o Mac, com o seu peluche, também se quis ir sentar. Ligámos os Roomba outra vez e aqui vimos a principal diferença entre os dois modelos: enquanto que o 696 não espalhou as penas para o ar, com pelos o caso foi diferente. Muitos pelos no ar. Já o 980 aspirou eficientemente. No fim, apesar de lhes termos dado um ciclo completo a limpar, sobraram pelos no chão, que, mesmo sendo quarta-feira, garantimos por mão humana que não ficaram ali para o Conversas à Quinta.

Antes do último teste no estúdio, tivemos de limpar e esvaziar mais uma vez os recipientes para onde é aspirado o que estes Roomba recolhem. Limpar as escovas e os filtros foi uma tarefa monótona que nos fez pensar se não valia mais a pena termos limpo o chão diretamente. Principalmente nas escovas laterais do 989, foi complicado tirar os pelos presos no mecanismo rotativo. Poderíamos pô-los a funcionar mais duas vezes antes deste processo, mas ficámos à espera de uma máquina que tratasse desta parte de manutenção automaticamente.

Teste extra e último: calçada portuguesa, um guardanapo e uma sardinha. Vimos que, em soalho de madeira e mesmo em cima de tapetes, os Roomba conseguiam andar facilmente. Por isso, levámo-los para a rua. Este teste foi extra, porque não foi para testar verdadeiramente as capacidades destes robôs. É muito claro que são para uso doméstico. Mesmo assim, queríamos ver se conseguiam, pelo menos, andar em cima de calçada portuguesa.

Câmaras a postos, bases e robôs no chão. Vimos que havia uma sardinha e um guardanapo como os alvos a sugar… E na app carregámos no “começar a limpar”. Atenção, aqui também queríamos ver se, mesmo sem estarem ligados a uma rede Wi-Fi, funcionavam autonomamente. Primeiro, os robôs não se mexeram. Segunda tentativa: começaram a andar. Com três sensores laser a delimitarem o espaço onde podiam andar, em forma de triângulo, os aspiradores conseguiram aspirar o que por ali estava. O 980 depois deu muito trabalho a limpar por ter sugado várias espinhas e restos de peixe. Já o guardanapo, bem que os robôs tentaram, mas nem o 696 ou o 980 foram capazes de o recolher do chão. No fim, a calçada continuou suja, mas com menos peixe. Surpreenderam, mesmo não tendo sido feitos para isso.

Seja em calçada portuguesa ou no estúdio, estes aspirados inteligentes mostraram que, com uma app, a tecnologia já permite ter auxiliares robôs em casa para tornar menos penosas as lides domésticas. O 980 mostra que ter um motor mais potente bem como escovas e rolamentos pensados também para tapetes é uma vantagem. Já o 696 mostra que, mesmo numa gama de entrada, o cuidado de faxina vai ser menor. Contudo, depois de os testarmos, apesar de ter sido mais fácil limpar o estúdio da redação, foi preciso irmos limpar cantos e varrer o chão à mão.

A principal conclusão que tirámos foi que esta tecnologia, apesar de ainda ter muito para evoluir — leia-se, verdadeiros robôs que tratam da faxina doméstica — já tem resultados bastante satisfatórios para, pelo menos, adiar as limpezas quotidianas. Limparam muito, com o 980 a ser claramente vencedor e o 686 a mostrar que é eficaz para coisas simples, mas não limparam tudo.

“Levanta os pés, vai passar o aspirador”. O mercado dos aspiradores robô

Além da iRobot, estão a investir no mercado robótico marcas como a LG, a Vileda, a Samsung, a Electrolux, a Dyson, a Xiaomi, a Hoover. Segundo o Statista, a marca que criou os Roomba ainda é líder, mas há outras empresas tecnológicas a investirem nestes gadgets domésticos (ter sido a primeira a entrar neste mercado ajuda, mas cada vez mais se vêem outras empresas, como a Dyson, a terem produtos mais ou igualmente competitivos).

O design ainda se mantém muito semelhante na maioria dos modelos (redondo e achatado), mas há marcas como a Neato, que estão a inovar neste campo um com design a pensar em todo o tipo de cantos. A maioria destes aparelhos também está a evoluir e conectam-se a aplicações móveis para terem acesso a dados de limpeza e programarem mais facilmente que divisões de uma casa limpar.

Atualmente, além de robôs aspiradores, também já existem empresas a disponibilizar robôs esfregonas, que funcionam de forma semelhante, mas em vez de escovas, têm farripas de esfregona e água.

O preço destes equipamentos é o menos cativante. Mesmo em gamas de entrada, a maioria dos modelos destas empresas está disponível num valor mínimo de 250 euros (os mais caros chegam a custar cerca de mil euros). No mercado, há aspiradores tradicionais mais baratos e com mais potência de aspiração, por preço mais acessíveis.

Os robô inteligentes mais modernos, além de reconhecerem tipos de superfície, também começam a reconhecer animais e que objetos podem ou não limpar. Mesmo assim, a maioria ainda choca contra algumas paredes. O que é que isso mostra? Que a tecnologia ainda tem por onde evoluir e, mesmo facilitando o trabalho de limpeza do dia a dia de uma casa, não tiram todas as tarefas a um humano.

*Os aspiradores robô foram disponibilizados ao Observador para análise pela iRobot